Em entrevista ao CB.Saúde nesta quinta-feira (26/8), a diretora de Atenção à Saúde da UnB, Larissa Polejack, foi entrevistada por Sibele Negromonte. A conversa foi sobre os cuidados e exigências na volta do home office para adultos, o retorno das escolas para crianças e adolescentes e quais são os efeitos psicológicos causados pela pandemia.
O equívoco das pessoas ao optarem por não usar máscara ou por relaxar nos cuidados recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) após se vacinar gera, segundo Larissa, pensamentos negativos em muitos que estão se cuidando. "Outro dia eu escutei de um colega que já não consegue ficar dentro de uma loja. Ao se deparar com outras pessoas, gera ansiedade e toda a preocupação por muita gente não fazer o uso correto da máscara ou simplesmente não fazer o uso da máscara", ressalta. Os cuidados precisam se manter e o estranhamento das pessoas em retornar a normalidade é comum.
A volta do home office exige adaptação psicológica dos funcionários. Existem os sintomas pós-traumáticos e, para a diretora, o primeiro passo é se acolher. "A gente tende a ser muito rígido com nós mesmos, estamos vivendo um processo muito longo de estresse e a cobrança está maior, a gente se engana falando que está tudo bem e não está tudo bem", comenta. A pandemia trouxe agentes estressantes e as pessoas estão há um ano e meio expostas a isso. Por isso, é hora de lidar com os sintomas pós-traumáticos. Os sinais de cada um vão depender da rede de apoio e dos vínculos. "É normal que a gente desenvolva algumas reações após uma situação de estresse, de medo e de ansiedade", pontua Larissa.
As empresas também precisam se preparar para o retorno de seus funcionários. Para a especialista, os gestores precisam entender a responsabilidade de abrir espaço de conversa para a equipe e não negligenciar a saúde mental de cada um. "Precisa ter um espaço de cuidado, ações, estratégias e um plano de contingência que inclua a saúde mental", explica.
Os problemas emocionais se apresentam de diversas formas e, para saber se o perfil se enquadra em alguma doença, o primeiro passo é compreender que não se sente bem. "Se você tem pensamentos recorrentes de preocupações, se não dorme bem, se percebe que já não está se vendo, é o momento de procurar ajuda profissional", garante Larissa.
A vida mudou drasticamente desde o início da pandemia e é necessário buscar ações prazerosas para o brasileiro voltar a ser feliz. Antes, havia a hora de ir trabalhar e a hora de se desligar do trabalho e voltar para casa. Com o costume do home office, já não há uma hora em que se finaliza o trabalho e dá tchau ao serviço. Isso gera uma sobrecarga porque as pessoas pensam no trabalho o tempo inteiro, dentro e fora de casa, e tudo se confunde.
Uma dica da diretora é pensar nas mínimas coisas que trazem felicidade. "Esquecemos os passos de autocuidado, então precisa notar o que proporciona prazer, seja uma música, uma leitura, cozinhar, fazer um esporte, enfim, é se perguntar: o que me mantém de pé? E essa pergunta é fundamental para a gente se ouvir mais", diz. As respostas a essas perguntas devem fazer parte do cotidiano.
Aos trabalhadores que terão a oportunidade de sair do home office, é necessário uma análise levando em consideração o momento em que está a pandemia. Um dos pontos a analisar é se alguém da residência tem comorbidade, pois a liberdade de ter o convívio social no trabalho pode acarretar em levar e trazer a doença. "A pandemia, infelizmente, não acabou e, quanto mais pessoas decidirem que acabou, mais ela vai permanecer", fala Larissa.
Compreender o momento epidemiológico leva a pensar na saúde mental também das crianças e adolescentes, que ficaram isolados por tanto tempo sem convívio social. Segundo a diretora, é muito importante que os pais tenham sensibilidade nesse momento. "Os sinais que podem ser observados são as mudanças de comportamento, se o seu filho antes era comunicativo e alegre e começa a ficar mais isolado, ou ao contrário, mais agressivo e responsivo, precisa saber que ainda não está pronto".
Para o Brasil voltar a ser feliz é necessário olhar para o coletivo, observar o que precisa ser cuidado e ter paciência consigo mesmo, entender que é só uma fase pandêmica e que vai passar. "Precisa buscar o autocuidado, porque isso é o que está na nossa mão, fazer por nós e por aqueles que estão conosco", explica Larissa.
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