Plantão de sábado à noite na redação do Correio. Perto das 21h, atendo o telefone, que não parava de tocar. Do outro lado da linha, uma mulher gostaria de sugerir uma reportagem. Ela relata que sua família acusa, sem nenhuma prova, o namorado dela de ser canibal.
A leitora fala por várias vezes que não acredita nos parentes, que nunca presenciou comportamento estranho do namorado e que ele é apenas vítima de preconceito. Afirma e reafirma que não crê que ele seja praticante de canibalismo. No entanto, sugere uma matéria: “como namorar um canibal?”. As frases são confusas, mas ela sempre volta ao ponto de que não há nenhuma prova contra ele, de que é apenas uma perseguição da família dela e que ela não tem nenhuma dúvida sobre a reputação ilibada do companheiro.
Após a ligação, contei a história para alguns amigos na redação e todos ficaram intrigados com o relato e com minha paciência ao telefone para escutar o exótico caso, digamos. Realmente, não sei o motivo, mas consegui um pouco de tempo para ouvir sua sugestão, cara leitora. Espero ajudá-la neste espaço. Voltemos à pergunta: como namorar um canibal? Resposta: não namore um canibal.
Apesar de o canibalismo não ser crime por si só, há várias questões legais envolvidas neste caso. Esteja alerta para o comportamento e dieta do seu companheiro. Se um dia ele desenvolver apreço pela carne humana, procure saber a origem da proteína e procure a polícia. Matar alguém é homicídio, com pena máxima de 30 anos de prisão. Mesmo se ele não matar, isso não quer dizer que ele possa sair por aí comendo cadáveres humanos. O respeito à memória dos mortos é importante para a família e para a sociedade. Logo, se ele comer um morto, cometerá um crime chamado vilipêndio: artigo 212 do Código Penal, com pena de um a três anos, e multa.
Como a senhora, insistentemente, relatou que não há nenhuma prova contra ele, fico menos preocupado, porém curioso quanto a sua curiosidade. Namorar um canibal não é algo aconselhável. Não vejo futuro neste relacionamento. No entanto, eis algumas dicas para, talvez, descobrir se ele pode ter tendências canibais.
Ele fala insistentemente sobre o assunto? Ele te mordee constantemente? Te chama sempre de suculenta? Nomeia partes de seu corpo de: picanha, maminha, fraldinha ou colchão mole? Ele já cozinhou para você, e a carne tinha um gosto estranho? Já se ofereceu para chupar o sangue de algum ferimento seu? Como foram os primeiros encontros de vocês? Ele te chamou para “ver Netflix”, e realmente era um filme, e do Hannibal? Convidou para “ouvir uns discos”, mas apenas escutaram a música “O seu amor é canibal/Comeu meu coração, mas agora eu sou feliz”? Se a maioria das respostas for sim, fique atenta. Procure a polícia, se necessário. E não deixe ele te comer, por favor. Espero ter ajudado.
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