Autoajuda de todo dia
Foram momentos difíceis até chegar à segunda dose da vacina contra a covid-19. Vi muitas pessoas queridas perdendo pessoas também queridas, num mundo que se descortinou perverso e negacionista. Como no luto, a primeira reação foi de revolta, incredulidade; mas as feridas vão sendo tratadas e, hoje, percebo que a pandemia — ela ainda não passou e ceifa diariamente vidas — realçou, também, sentimentos nobres, como a empatia e a solidariedade.
Pautado nessa nobreza humana, em abril do ano passado, me agarrei na missão de entrevistar o poeta moçambicano Mia Couto. Sou fanzaço! Na solidão da madrugada de um home office, recebi as ansiadas respostas. Quis saber sobre a poesia na vida das pessoas, nesses tempos de dúvidas e de medo. “O espaço da poesia sempre foi encontrado nos interstícios, nas fendas do muro. Mas tudo depende do que se entende por poesia. Se poesia constituir uma visão alternativa do mundo, e não apenas uma forma de arte, ela terá poderes para enfrentar este mundo. É preciso não esquecer que obras de referência mundial, como A peste, de Albert Camus, foram produzidas como forma de resistência perante um medo coletivo suscitado pelas epidemias”. É isso! A poesia libertária conecta pessoas boas. Ajuda a curar.
Poderia usar este texto para destilar minha revolta contra homens de caráter bem pequeno e duvidoso, porém faço parte de uma grande família que usa a arte como engenho, para construir alternativas de um mundo melhor.
Acrescento nesse espaço, usado por tantos cronistas que admiro, outra conversa, essa já antiga, mas necessária, com o também poeta Thiago de Mello. Perguntei sobre o maior defeito do homem contemporâneo, e ele, com a energia amazonense de tantas lutas, respondeu: “É o costume à indiferença, ao errado, o que magoa, fere e mancha a própria beleza da condição humana.”
E assim, com essa autoajuda diária, pretendo seguir sobre a terra. Evoé!
“Fica decretado que
agora vale a verdade.
Agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos
pela vida verdadeira.”
Thiago de Mello,
em Os Estatutos do Homem
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