CORONAVÍRUS

Flexibilização de horários no DF começa a valer na próxima quarta-feira

Executivo local anunciou, ontem, a liberação do funcionamento dos comércios e serviços segundo horário previsto em alvará. Medida também revoga toque de recolher e permite circulação de pessoas após 1h. Ibaneis Rocha espera 150 mil doses para vacinar jovens a partir de 16 anos

Cibele Moreira
Samanta Sallum
postado em 03/09/2021 05:53 / atualizado em 03/09/2021 05:54
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Em meio à alta de casos da covid-19 e do avanço da variante Delta — responsável pelas infecções predominantes no Distrito Federal —, o governador Ibaneis Rocha (MDB) decidiu revogar mais medidas restritivas que evitavam o avanço da doença. Com as novas regras, que passam a valer na quarta-feira (8/9), ficam suspensos o toque de recolher e os horários específicos para funcionamento de estabelecimentos. A medida saiu em edição extra do Diário Oficial (DODF), nessa quinta-feira (2/9), e não trata de casas noturnas nem da lotação dos espaços. Shows continuam proibidos.

O novo decreto libera bares, restaurantes e demais comércios para funcionar no horário previsto nos respectivos alvarás. O documento também pôs fim ao horário limite para eventos como casamentos, batizados e festas de aniversário. Ao Correio, o governador afirmou que a decisão de flexibilizar resultou da diminuição da quantidade de leitos ocupados em unidades de terapia intensiva (UTIs) da rede pública, que gira em torno de 50% (leia abaixo). “Há uma folga nos hospitais. As pessoas estão se contaminando, mas como a vacinação está adiantada, elas não têm sido internadas. Diminuíram os casos graves”, ressaltou Ibaneis.

O chefe do Executivo local adiantou que há possibilidade de recebimento de mais imunizantes contra covid-19. “Falei com o ministro da Saúde (Marcelo Queiroga), e ele me informou que receberemos um reforço neste fim de semana. Não sei exatamente o número, mas foi sinalizado o envio. Pedi 150 mil doses”, declarou o governador. A nova remessa permitirá reduzir a faixa etária de imunização para pessoas de 15 e 16 anos.

Na quarta-feira (1º/9), o DF recebeu 19,8 mil vacinas da Pfizer/BioNTech, para aplicação da segunda dose. Em coletiva da Secretaria de Saúde (SES-DF) nessa quinta-feira (2/9), representantes da pasta comentaram sobre a previsão de envio de 9,7 mil doses da Oxford/AstraZeneca à capital federal, também para o reforço. No entanto, até o fechamento desta edição, a pasta não confirmou a chegada do lote. Para esta sexta-feira (3/9), o Executivo local aguarda mais 28 mil imunizantes, todos para dose 2.

A Secretaria de Saúde também comunicou que o estoque da Rede de Frio Central estava zerado para primeiras doses, nessa quinta-feira (2/9). Houve sinalização do cenário para o Ministério da Saúde, mas o órgão vai priorizar as unidades da Federação que não começaram o atendimento do público de 18 anos. Em 15 de setembro, o governo federal enviará mais imunizantes ao DF para primeira aplicação.

Movimentação

Em relação à ampliação dos horários, o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Beto Pinheiro, destacou que tem incentivado os empresários, funcionários e clientes do setor a se vacinar. “A situação da pandemia está bem mais controlada, em comparação a outros cenários que passamos. Temos casos ainda, mas muitos (pacientes) não precisam de internação, e isso é muito positivo. (A flexibilização) era um pedido que a categoria havia mandado para o governador em 25 de agosto. Entendemos que o momento atual permite isso, pois vai ajudar as empresas”, afirmou.

O presidente do Sindicato Patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Antônio da Silva, calcula que a medida contemplará cerca de 10 mil estabelecimentos desse setor em todo o DF. “Vai trazer mais tranquilidade para os empresários, que não vão precisam mais expulsar os clientes quando der meia-noite. E, também, beneficiará a população, que poderá se deslocar para casa com mais calma sem o toque de recolher”, opina.

Na avaliação da infectologista Ana Helena Germoglio, a flexibilização de restrições e o comportamento da população tem se refletido na alta de registros dos últimos dois dias. “Temos a transmissão comunitária da Delta, e ela está espalhada. É de se esperar que tenhamos esse aumento de casos, até porque há uma transmissibilidade muito maior quando a comparamos com outras variantes. Juntando isso a uma flexibilização praticamente total das restrições que, antes, eram impostas, é de se esperar uma crescente de casos. Mas uma coisa boa que temos observado é a redução dos graves, e isso é fruto da vacinação”, ponderou.

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Alta nas contaminações

Em coletiva nessa quinta-feira (2/9), Secretaria de Saúde apresentou balanço de casos, da vacinação e medidas contra a covid-19 -  (crédito: Geovana Albuquerque/Agencia Saúde DF)
crédito: Geovana Albuquerque/Agencia Saúde DF

Pelo segundo dia consecutivo, o Distrito Federal registrou recorde no número de novos casos da covid-19, em relação à média verificada nas últimas semanas, e ultrapassou mil confirmações da doença em um período de 24 horas. Na quinta-feira (2/9), a Secretaria de Saúde (SES-DF) registrou mais 1.021 notificações positivas. Na quarta-feira (1º/9), esse número foi de 1.185. Com as atualizações, a quantidade de infecções pelo novo coronavírus subiu para 472.677. Desse total, 10.084 pessoas morreram devido às complicações da doença.

No boletim diário divulgado na quinta-feira (2/9), a pasta confirmou mais 22 mortes. Desde 16 de agosto, o total de vítimas não passava de 20. Para integrantes da SES-DF, a imunização dos adultos tem possibilitado a queda do número de óbitos e de internações no Distrito Federal. “É importante dizer que, a partir do momento em que se avança com a vacinação, promovemos a proteção da população contra possíveis variantes que estejam circulando. Essa é a medida mais efetiva, principalmente quanto à gravidade (dos casos) e aos óbitos”, afirmou o diretor de Vigilância Epidemiológica da pasta, Fabiano dos Anjos.

A taxa de ocupação de leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) reservados para pacientes com covid-19 ficou em 58,14%, na noite de quinta-feira (2/9), segundo a mais recente atualização divulgada pela Secretaria de Saúde. Dos 173 leitos disponíveis, 54 estavam livres. Por outro lado, a lista de espera por vagas tinha 12 pessoas no aguardo.

Com o indicador de ocupação perto de 50%, o Executivo local tem desmobilizado leitos da rede pública para pessoas com covid-19 e remanejado as vagas e equipes para outros setores. Entre eles estão os das cirurgias eletivas, que conta com uma força-tarefa criada para ampliar os atendimentos. Além disso, o Pronto-Socorro do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) — unidade de referência durante a pandemia — foi reaberto para receber outras demandas e terá mais 100 profissionais atuando em diversas especialidades da saúde.

Palavra de especialista

Necessidade de mais diagnósticos

O que acontece em relação à retomada de casos pode ser reflexo da variante Delta se aproximando, cada vez mais, das comunidades. Sabemos que ela tem circulado pelo Distrito Federal e pelo país. Ao mesmo tempo, o governo local tem relaxado as medidas de controle, permitindo adensamento (da população), e as pessoas não têm colaborado. Eu entendo a condição de quem está cansado desse ritmo, mas nós não temos grandes soluções. A principal ainda é a vacina, com duas doses para minimizar os danos (da doença). O que o governo pode fazer é garantir uma oferta maior de diagnósticos, além do que chamamos de rastreamento: identificar quem são as pessoas com suspeita de infecção, fazer contato com quem possa estar doente e pedir para que fiquem em casa, em quarentena.

Wildo Navegantes, professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB)

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