MOBILIDADE

Construção de viaduto na Epig visa desafogar trânsito, mas recebe críticas

Previsto desde 2009, viaduto da Epig, no Sudoeste, tem sido alvo de polêmicas. De acordo com o GDF, a obra beneficiará cerca de 66% da população do DF, além de moradores de Águas Lindas de Goiás que usam a via para ir ao trabalho

Ana Isabel Mansur
postado em 07/09/2021 06:00 / atualizado em 14/10/2021 19:38
Obra na EPIG para construção de Viaduto -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
Obra na EPIG para construção de Viaduto - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

A construção do viaduto da Estrada Parque Indústrias Gráficas (Epig) vem movimentando o debate público no Distrito Federal nos últimos dias. A obra teve início em 21 de junho, apesar de o empreendimento estar contemplado no Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade do Distrito Federal (PDTU) desde 2009, segundo a Secretaria de Obras. O viaduto da Epig faz parte do ambicioso projeto Eixo Oeste do DF, que vai interligar Sol Nascente/Pôr do Sol, Ceilândia, Taguatinga, Vicente Pires, Guará, Sudoeste e Asa Sul. De acordo com a pasta, na região de construção do viaduto circulam cerca de 50 mil veículos por dia.

Parte dos moradores do Sudoeste questiona o viaduto nas proporções apresentadas. A obra da Epig terá três faixas de circulação em cada sentido. Atualmente, está sendo feita a construção dos desvios necessários para o início efetivo da obra. A comunidade alega que falta diálogo com a população.

Um dos representantes dos moradores contrários à construção do viaduto, o professor de engenharia civil e ambiental José Humberto Matias de Paula afirma que precisou pedir dados da obra por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). “Não tivemos acesso aos estudos e projetos básicos executivos do processo de licitações”, expõe, acrescentando que a área da construção corresponde a 100 mil metros quadrados. “Não queremos um trevo rodoviário com essas proporções, porque transformaria o Parque da Cidade em um corredor viário, com perda de 60 mil m² de área, na prática”, completa o morador.

O corredor do Eixo Oeste terá uma conexão de cerca de 32km, entre o Sol Nascente e a área central do Plano Piloto, passando pelas avenidas Hélio Prates e Comercial Norte, centro de Taguatinga e EPTG, e se desmembrando em duas: a Epig e a ESPM (Setor Policial Sul). Segundo a Secretaria de Obras, o viaduto vai beneficiar cerca de 66% da população do DF, além de moradores de Águas Lindas de Goiás. Com o empreendimento, os semáforos da Epig serão retirados.

A pasta afirma que haverá redução de, pelo menos, 45 minutos no tempo de deslocamento de trânsito em horários de pico, o que pode gerar economia de 30 horas por mês para quem percorre a distância nos dias úteis, ou seja, o trabalhador perde um pouco mais de um dia, dentro de um ônibus, mensalmente. Atualmente, quem precisa se deslocar do Sol Nascente até a Asa Sul por meio do transporte público gasta, pelo trajeto mais curto, cerca de duas horas, em duas linhas de ônibus. Quando o percurso é feito com carro, o caminho mais rápido pode ser percorrido, em média, em uma hora.

Plano

Para o professor da Universidade de Brasília (UnB), mestre em engenharia de transportes, Paulo César Marques, uma intervenção do tipo, em termos de engenharia rodoviária, não é uma medida estruturante, mas pontual, visando resolver problemas de gargalo no tráfego de veículos. “O conceito usado continua privilegiando carros, não é uma questão de mobilidade ou de transportes no geral. É uma bola de neve”, argumentou o especialista.

Os moradores do Sudoeste argumentam que não haverá utilização, pelo público, de áreas verdes do próprio viaduto, a exemplo do que acontece nas ligações entre a W3 Norte e a W3 Sul, com terrenos íngremes e em locais perigosos, de trânsito intenso. José Humberto também se preocupa com o trânsito de pessoas caso o empreendimento seja concluído. “Vai de encontro ao direito de ir e vir, no maior parque urbano da América Latina. Não haverá mobilidade para pedestres, bicicletas e cadeirantes”, completou.

A Secretaria de Obras rebate os argumentos dos moradores do Sudoeste. Segundo a pasta, “o principal objetivo da construção do viaduto da Epig é, justamente, garantir o direito de ir das pessoas no menor tempo possível.” A secretaria garante que o projeto considera pedestres, ciclistas e pessoas com deficiência. “No canteiro central de toda a estrutura do viaduto, será construída calçada com três metros de largura, que se estenderá da faixa de pedestres atualmente existente na região até as dependências do Parque da Cidade”, afirmou a pasta, em nota. Futuramente, a Epig será requalificada e a ideia da secretaria é implementar travessias subterrâneas e ciclovias no local.

Outra justificativa da comunidade para a posição contrária ao empreendimento está na preservação das espécies de flora e da área verde da região. Segundo a Secretaria de Obras, o Parque da Cidade, o canteiro central da Epig e as quadras do Sudoeste, juntos, perderão 20% de vegetação. “Atendendo à demanda dos moradores da SQSW 105, o GDF anunciou solução técnica adequada para a preservação da área verde que seria retirada para a construção de uma terceira faixa na Avenida das Jaqueiras. Com a mudança, a nova faixa será construída na área central da própria avenida, preservando, assim, quase a totalidade das árvores da região”, explicou a secretaria, em nota. Todas as espécies da vegetação serão compensadas, segundo a pasta. A retirada das plantas está sendo feita, por enquanto, no Parque da Cidade.

Alterações

Ainda de acordo com a pasta, a construção do viaduto compreende 300 metros, entre a rotatória em frente à Primeira Avenida até a Epig, onde “será construída uma terceira faixa responsável pelo acesso da Avenida das Jaqueiras à Epig, uma vez que as outras duas faixas serão destinadas àqueles veículos que desejarem seguir pelo viaduto em direção ao Parque da Cidade”, acrescentou a secretaria, completando que não haverá alterações no restante da Avenida das Jaqueiras.

Segundo os moradores do Sudoeste, para conter as águas pluviais vindas do viaduto será necessário aumentar a bacia de contenção dentro do Parque da Cidade para 200 mil metros, perdendo mais do parque. “Para a execução desta obra, não haverá mudança no diâmetro, mas na profundidade. Ou seja, a área atualmente ocupada pela bacia permanece a mesma”, explicou a secretaria.

Para saber mais

Viaduto da Epig fará parte do corredor Eixo Oeste e vai interligar Sol Nascente e Plano Piloto. Economia de tempo para quem faz o caminho entre as duas cidades de segunda a sexta:

  • 1 hora e meia/dia
  • 7 horas e meia/semana
  • 30 horas/mês
  • 360 horas/ano

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