O dia da mentira
A manifestação começou bem, com a invasão da Esplanada dos Ministérios, na sexta-feira à noite, sob a vista complacente dos policiais, quando o GDF afirmou que isso não seria permitido. E a infração às regras acordadas não parou por aí. Caminhões ocuparam a Esplanada, e fogos de artifício espoucaram durante a passeata.
Não dá para entender o clima de festa ou de fogo de artifício alimentado por empresários endinheirados. Quiseram confundir uma celebração nacional, o 7 de Setembro, Dia da Independência, com uma micareta em defesa do presidente, como se o Brasil clamasse por uma intervenção militar.
Se estivessem embaixo de um regime de exceção, sequer poderiam estar nas ruas para qualquer tipo de manifestação sem que fossem atacados pelas forças da repressão. Mas, quando algum deles é preso, a primeira atitude é pedir um habeas-corpus no Supremo Tribunal Federal (STF).
O bajulador de ontem pode ser a vítima de amanhã. Carlos Lacerda e Juscelino Kubistchek apoiaram o golpe militar de 1964 e, logo em seguida, tiveram os mandatos cassados e foram exilados. Falam em nome do Brasil, mas, como mostrou a última pesquisa DataFolha, eles são 24%, constituem uma minoria, uma bolha aguerrida e ruidosa.
É possível discordar de muitas decisões do STF, mas, no caso, Alexandre Moraes e Luis Roberto Barroso cumpriram, estritamente, o que reza a Constituição. O protesto teve o destinatário errado. Quem pediu a prisão dos conspiradores contra o Estado de Direito foi a Procuradoria-Geral da República, cujo titular é o senhor Augusto Aras.
Os manifestantes apoiam ou defendem quem e o quê? Como o governo resolverá o avanço da variante delta, o preço estratosférico da gasolina e do gás de cozinha, as contas de luz surreais, o desemprego de mais de 14 milhões de trabalhadores, os indícios de corrupção no Ministério da Saúde, a crise hídrica ou a fome avassaladora que assola grande parte dos brasileiros? Com a destituição de ministros do STF, com o fim do comunismo, com a volta do voto impresso ou com um golpe?
Como se vê, não existe qualquer fundamento para essas manifestações, a não ser a mentira, repetida milhares de vezes pela máquina de fake news. Ela tem o poder de ludibriar os inocentes úteis e de monetizar os oportunistas, mas não de se transformar em verdade.
O presidente está cada vez mais isolado, nenhum chefe dos outros Poderes da República compareceu à cerimônia oficial do 7 de Setembro no Palácio do Planalto. A bolha não representa o Brasil, liberdade de expressão não é liberdade de aplicar golpes, o crime não é republicano, e o presidente não é a Constituição. O lema de nossa bandeira, sequestrada pelos extremistas, é ordem e progresso; o lema do nosso presidente é desordem e atraso. Sem as duas coisas, ele não sobrevive.
Esse 7 de Setembro entrará para a história como o Dia da Mentira. É uma vergonha internacional que parte da população saia às ruas para pedir uma ditadura, para pedir para ser escravo, para se submeter à servidão voluntária.
Que sejam aplicados os remédios não farmacológicos prescritos na Constituição aos que se candidatam a talibãs da taba. Criticam muito o senador Rodrigo Pacheco, mas ele está defendendo a democracia. E, por falar em Dia da Mentira, alguém viu por aí Arthur Lira, aquele que posa de machão nordestino, mas, na hora que o bicho pega, fica com medo e foge assustado de suas responsabilidades?
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