QUEIMADAS

Negligência é principal causa de incêndios florestais no DF, dizem especialistas

Engenheiro ambiental e militar do Corpo de Bombeiros ressaltam papel da ação humana nesse tipo de incidente. Equipes da corporação enfrentam altas temperaturas para impedir desastres que podem ser evitados com práticas responsáveis da população

Júlia Eleutério
Renata Nagashima
postado em 10/09/2021 06:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Queimadas por todo o Distrito Federal e região protagonizam as últimas semanas. Pelo sétimo dia consecutivo, o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) foi acionado para conter as chamas no Parque Nacional de Brasília — Água Mineral. As ocorrências não são episódicas na capital federal. Os esforços também estavam divididos com o enfrentamento a outro incêndio de grande proporção na Floresta Nacional de Brasília (Flona). Nessa quinta-feira (9/9), a queimada completou dois dias, mobilizando 74 militares e 13 viaturas. A área atingida ainda não pode ser estimada e, até o fechamento desta edição, o fogo não havia sido controlado.

O trabalho das equipes é árduo e o clima seco torna mais difícil debelar as chamas que são causadas por fatores naturais, mas, principalmente, pela ação humana.

Segundo o CBMDF, os bombeiros só conseguem controlar as chamas durante a madrugada, quando o calor é menos intenso. No entanto, muitas vezes, voltam a arder durante o dia. O tenente-coronel Hugo, do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal, explicou que após serem acionados, os militares adentraram a madrugada trabalhando e a operação só é encerrada quando o fogo é totalmente extinto.

Após a contenção, são feitas checagens e sobrevoos na região afetada durante o dia, para garantir que não existam outros focos. “A vegetação está totalmente seca no cerrado, e alguns tipos de plantas podem camuflar as brasas, o que é o suficiente para causar outro incêndio. Nós trabalhamos para combater as chamas assim que são detectadas e evitar que se espalhem devastando uma área maior ou até mesmo colocando vidas em risco”, explica o militar.

09/09/2021. Brasil. Brasilia - DF. Incêndio na Floresta Nacional de Brasília (Flona). Focos de fogo próximo a Ceilândia.
09/09/2021. Brasil. Brasilia - DF. Incêndio na Floresta Nacional de Brasília (Flona). Focos de fogo próximo a Ceilândia. (foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press - 9/9/2021)

Durante esta semana, equipes também foram acionadas para combater incêndios na Ermida Dom Bosco e na Estação Ecológica de Águas Emendadas. De acordo com informações do CBMDF, os incêndios florestais atingiram 9.860 hectares de julho a agosto deste ano. Apenas nos primeiros cinco dias de setembro, as queimadas destruíram 1,7 mil hectares, sendo 536 hectares no Parque Nacional de Brasília.

Desde o início de 2021, os bombeiros atenderam 3.294 ocorrências, e as chamas atingiram uma área de 11.155 hectares. Historicamente, por causa das altas temperaturas e da baixa umidade, essa época do ano é a que registra o maior número de incidentes no DF.

Vilões

Apesar do clima, o calor não é o responsável pelos incêndios, mas pode ser potencializador para incêndios provocados por causas naturais, como o fenômeno da combustão espontânea. Ele acontece quando, mesmo sem uma fonte inflamável externa, a vegetação seca começa a queimar. O atrito entre rochas ou até mesmo entre pelos de animais em locais de alta incidência de sol e de aquecimento podem desencadear a fagulha de um incêndio florestal.

Entretanto, casos como esse no DF são raríssimos, como destaca o professor aposentado do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB) Eleazar Volpato. Segundo ele, as causas de incêndios ambientais nesta região acontecem, em sua maioria, pela negligência humana.

O especialista explica que os incêndios são causados por uma combinação de três fatores: um clima quente e seco; a umidade do ar baixa; e a presença de alguma coisa que provoque a primeira fagulha, que pode ser desde um relâmpago, até bitucas de cigarro, pedaços de vidros, entre outros objetos deixados por seres humanos. “Incêndios que acontecem sozinhos são uma condição muito rara, como provocados por raios, por exemplo. Em sua grande maioria, eles acontecem por imprudência humana. As pessoas colocam fogo, deixam lixo, cigarro e fazem fogueiras. Além de objetos espelhados e que concentrem raios de sol, com o calor eles podem iniciar desastres difíceis de controlar”, aponta Volpato.

Para o engenheiro ambiental, um outro problema é a falta de campanhas educativas e da punição aos responsáveis. “Não tem conscientização e falta uma punição exemplar. Esses casos precisam ser investigados para que os responsáveis sejam penalizados. É preciso haver mais informação. Quando o incêndio é absolutamente intencional, ele é criminoso. Isso sem falar nos que acontecem por desleixo, e eles também deveriam ser punidos.”

09/09/2021. Brasil. Brasilia - DF. Incêndio na Floresta Nacional de Brasília (Flona). Focos de fogo próximo a Ceilândia.
09/09/2021. Brasil. Brasilia - DF. Incêndio na Floresta Nacional de Brasília (Flona). Focos de fogo próximo a Ceilândia. (foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press - 9/9/2021)

Conscientização

Assim como grande parte das queimadas, reverter o cenário e garantir a qualidade do clima depende da conscientização da população durante todo o ano. O tenente-coronel Hugo ressalta a importância de evitar a limpeza de terrenos com o uso de fogo, além de evitar fogueiras nessa época. “Muitas pessoas juntam resto de folha e galho para fazer fogueira e isso não pode acontecer, porque as brasas podem ser levadas para longe e provocar um incêndio”, explica. Com hábitos mais conscientes, o lixo pode virar adubo composto com os resíduos vegetais e de alimentos, o lixo seco deve ser recolhido pelo Serviço de Limpeza Urbano (SLU).

Outro ponto destacado por ele é a importância da colaboração da população que deve avisar aos Bombeiros sobre o foco de chamas nas áreas verdes. “Avistou um foco de fumaça, a pessoa deve ligar imediatamente para o Corpo de Bombeiros por meio do 193. Porque o ideal é que a gente combata esse foco o mais rápido possível para evitar o alastramento e maiores danos”, alerta.

Em caso de incêndio, os bombeiros alertam para que a população ligue, imediatamente, para 193. Quanto mais rápido as equipes forem avisadas, melhor será para controlar o fogo.

Dia Nacional do Cerrado

No dia 11 de setembro comemora-se o Dia Nacional do Cerrado, considerado o berço das águas no Brasil, onde estão as nascentes das maiores bacias hidrográficas do país, e um dos biomas mais ricos e antigos do planeta. Para marcar a data, a Universidade de Brasília (UnB) vai promover, nesta sexta-feira (10/9), a live O Cerrado no Antropoceno, às 16h, com o prof. dr. Reuber Brandão. A transmissão será pelo canal da UnBTV, no YouTube.

Outro destaque é a 11º Feira de Sementes e Mudas da Chapada dos Veadeiros, que acontece entre 10/9 e 26/9, com rodas de conversa on-line e trocas de sementes nos municípios. A programação e informações sobre a vegetação, a fauna, os parques, as trilhas e os frutos do cerrado podem ser conferidas no site unbcerrado.unb.br.

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  • 09/09/2021. Brasil. Brasilia - DF. Incêndio na Floresta Nacional de Brasília (Flona). Focos de fogo próximo a Ceilândia.
    09/09/2021. Brasil. Brasilia - DF. Incêndio na Floresta Nacional de Brasília (Flona). Focos de fogo próximo a Ceilândia. Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press - 9/9/2021
  • 2021-09-09. Brasil. Brasilia - DF. Incêndio na Floresta Nacional de Brasília (Flona). Focos de fogo próximo a Ceilândia.
    2021-09-09. Brasil. Brasilia - DF. Incêndio na Floresta Nacional de Brasília (Flona). Focos de fogo próximo a Ceilândia. Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press - 9/9/2021

Principais causas de incêndios

 • incendiários;

• queimas para limpeza;

• bitucas de cigarro e fósforos;

• fogueiras;

• operações florestais;

• cacos de vidros;

• plásticos;

• raios.

• Esses elementos somados com a temperatura elevada, o tempo seco e a baixa umidade relativa do ar contribuem para o surgimento do fogo.


O que fazer (fonte: Ibram)

Caso presencie um incêndio, as denúncias podem ser feitas por três meios:

• disque 193 para acionar o Corpo de Bombeiros,

• pelo número 99224-7202 para acionar o Brasília Ambiental (Ibram), no caso do incêndio ser dentro de uma Unidade de Conservação, e

• pelo número 99351-5736, que também é WhatsApp, para acionar a Polícia Militar Ambiental.


Unidades de Conservação - Fonte: PROMAQ

• Até o dia 31 de agosto de 2021, foram levantados no Programa de Monitoramento de Áreas Queimadas nos Parque e Unidades de Conservação do Instituto Brasília Ambiental (PROMAQ), um total de 358 ocorrências de incêndios florestais e uma área queimada total de 1.167,8 ha, em 49 Parques e UCs.

Área queimada – (hectares) Fonte: CBMDF

• Até agosto de 2019 – 6.668,09 ha

• Até agosto de 2020 – 9.786,38 ha

• Até agosto de 2021 – 9.450 ha

 

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