Pela memória de Senna
Sou daquelas pessoas que tem gosto seletivo para os esportes. Não só a modalidade, mas também o momento. Se a temporada da competição ou o horário da partida não se encaixarem perfeitamente na minha conjunção cósmica particular, certamente o match não vai rolar. Às vezes, nem é por falta de vontade, apenas choque de horários mesmo.
Há algum tempo deixei de acompanhar com regularidade as corridas de Fórmula 1. Além da conjunção astral fora de rota, houve uma fase em que a renovação total do grid a que eu estava acostumada me irritou. Antes, me gabava por saber de cor os nomes de todos os pilotos. Quando vários desconhecidos passaram a pintar na telinha, desanimei.
A época em que mais acompanhei as disputas foi quando Rubinho pilotava ao lado de Schumacher e o início da passagem de Massa pela categoria. Minha mãe virava noites, se preciso, para acompanhar as corridas do outro lado do mundo. Quando o horário era mais razoável, acompanhar a disputa da largada ao pódio virava programa de família aos domingos.
Apesar disso, consigo me lembrar, com certa precisão, o impacto da morte de Ayrton Senna. A comoção era inevitável. Hoje, depois de acompanhar a história de outro ângulo, conhecendo os bastidores das corridas daquela época, o esforço e as reivindicações do brasileiro por mais segurança no esporte e a reconstituição quase minuto a minuto de tudo o que ocorreu naquela triste data, entendo ainda melhor os motivos.
Não se tratava apenas da morte de um ídolo. Aquela perda desvelava, de novo e com veemência, a imprudência contumaz. Talvez por ironia, no último fim de semana, o maior fã de Senna no grid, atualmente e, não por acaso, o maior campeão da história da Fórmula 1, tenha sido salvo pela evolução na tecnologia dos dispositivos de segurança desencadeada com a marca indelével daquele 1º de maio de 1994.
As imagens do carro de Max Verstappen praticamente atravessando a Mercedes de Lewis Hamilton no GP da Itália dão a dimensão do quanto o acidente poderia ter sido mais grave. O polêmico halo, proteção de cockpit obrigatória desde 2018 na F1, provavelmente salvou a vida do piloto britânico. Inicialmente criticado por muitos pilotos, o equipamento se mostrou eficaz em diversas ocasiões desde que começou a ser usado.
Senna era um dos maiores defensores do aprimoramento dos dispositivos de segurança nos carros, se corroía pela ideia de ter a própria vida e a de outros colegas em risco pela falta de prioridade dada a esse fator essencial. Estaria certamente feliz em ver que a evolução do esporte nos poupa do luto desnecessário.
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