Crônica da Cidade

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Correio Braziliense
postado em 15/09/2021 22:51

Prêmio Rondon

Li a notícia de que o ministério da Comunicação concedeu a 54 autoridades o Prêmio Marechal Rondon de Comunicações. Entre elas, sua excelência, o presidente da República, Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Na ocasião, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, declarou que o “prêmio faz uma homenagem ao Marechal Rondon, que desbravou as fronteiras do Brasil, e se identifica muito com o Governo Federal que está desbravando as fronteiras digitais, levando internet para os brasileiros”.
A notícia chamou-me a atenção porque Rondon é um dos meus heróis e fiquei pensando se havia entendido a proposta do prêmio. Darcy Ribeiro dizia que ele era o maior de todos os brasileiros. De fato, se destacou em múltiplas frentes: explorador dos trópicos, pacifista, ambientalista, antropólogo e indigenista. Empreendeu expedições que o alçaram à condição de um dos maiores exploradores da história, acima dos célebres Sir Richard Francis Burton, Ernest Shacleton e David Livingstone.
Desbravou os sertões brasileiros para instalar as linhas telegráficas, mas nunca agrediu ou matou um índio. “Morrer se preciso for, matar nunca”, era o seu lema. É impressionante porque a divisa partiu de um marechal do Exército, Candido Rondon. Em princípio, os marechais são treinados para a guerra. Mas as batalhas do marechal Cândido Rondon eram em favor do respeito aos direitos dos índios, da preservação das florestas, do progresso para o interior do país, da civilidade e do humanismo.
O lema é ainda mais impactante porque não era apenas uma frase de efeito. Passou pelo teste da realidade. Em uma das incontáveis expedições, Rondon foi atingido por uma flechada dos índios nhambikwara e proibiu a seus soldados que revidassem. Em outra, um soldado morreu. Rondon foi duramente questionado pelos militares, mas não cedeu.
O marechal criou o Serviço de Proteção ao Índio, que se desdobraria na Funai. Batalhou pela criação de leis que amparassem os índios da violência de fazendeiros, madeireiros e seringueiros. Distinguiu-se, sobretudo, pela atuação de pacifista. A ponto de ser cogitado três vezes para o Prêmio Nobel da Paz, uma delas por indicação de Albert Einstein.
No excelente Rondon, uma biografia (Ed. Objetiva), com instinto de repórter, o jornalista norte-americano Lary Rohter descobriu uma carta de Einstein onde há trechos em que ele faz a indicação de Rondon ao Prêmio Nobel da Paz. “Tomo a liberdade de chamar a atenção de vossas senhorias para as atividades do general Rondon do Rio de Janeiro, uma vez que durante minha vista ao Brasil fiquei com a impressão de que esse homem é altamente merecedor de receber o Prêmio Nobel da Paz”.
Depois de evocar Rondon, fiquei em dúvida se ele gostaria de ter o nome ligado a um governo que desmata florestas, incita o ataque covarde aos índios, incentiva a invasão dos seus territórios por garimpeiros e descumpre as leis. Esse governo é o anti-Rondon.
Ele era um verdadeiro patriota, no qual os militares (e os brasileiros em geral) deviam se mirar. Não sei porque, mas a notícia do prêmio reacendeu-me a memória sobre um verso do poeta carioca Armando Freitas Filho: “Medalha no seu peito/E no meu, o coração.”

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