Entrevista BRUNO OLIVEIRA | INFECTOLOGISTA PEDIÁTRICO

Vacina é segura para adolescentes, diz médico

Defensor da imunização contra a covid-19 a partir dos 12 anos, especialista ressalta que estudos comprovam eficácia de doses da Pfizer/BioNTech para proteger jovens contra a doença. Associado a isso, ele recomenda a manutenção de medidas não farmacológicas

Samantha Rannya*
postado em 17/09/2021 23:40
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Com a suspensão da vacinação de adolescentes recomendada pelo Ministério da Saúde — sob justificativa de que não haveria comprovação científica da imunização desse público —, profissionais, organizações e pesquisadores da área de saúde questionaram a decisão. Entre eles, está Bruno Oliveira, entrevistado de ontem no programa CB.Saúde — parceria do Correio com a TV Brasília. À jornalista Carmen Souza, o médico e integrante da Sociedade de Pediatria do DF falou sobre os efeitos da aplicação de doses na maioria da população para controlar a covid-19 e como a inclusão de público de 12 a 17 anos — e, eventualmente, de crianças — permitirá reduzir, cada vez mais, infecções e mortes.


Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostrou queda média de 3,8% nas mortes diárias por covid-19. Isso é um indicativo da eficácia da vacinação?
Sim. Acreditamos que essa é a principal medida, mas não a única. Continuamos indicando a manutenção do isolamento social, do uso de máscara e de evitar ambientes fechados. Mas a vacina, com certeza, impactou. O que vemos agora é a abertura (de estabelecimentos) e a volta das atividades presenciais e, mesmo assim, há melhoras dos indicadores. Isso é mais uma prova de que a vacinação foi importante para a redução e é essencial para o controle da covid-19.

Houve recomendação do Ministério da Saúde para que adolescentes que receberam a primeira dose da vacina contra a doença não tomem a segunda. O senhor acredita que essa é uma orientação importante?
Tivemos resposta dos órgãos competentes, que lançaram notas contra a decisão do Ministério da Saúde. Diversos países têm vacinado os jovens e, até agora, as indicações são de que imunizem crianças a partir dos 12 anos. No Brasil, iniciamos a vacinação de adolescentes com comorbidades e sabemos que esse é um fator de risco importante. Para aqueles sem comorbidades, houve essa indicação. Agora, há toda uma discussão. Mas os órgãos competentes lançaram uma nota defendendo a imunização desses adolescentes (de 12 a 17 anos), e eu concordo bastante com isso.

Diante do cenário de jovens que tomaram vacinas que não são da Pfizer/BioNTech, há algum sintoma ao qual é preciso ficar atento?
Os mesmos efeitos adversos que se manifestam nas outras idades. Só que isso entra na questão de ser um pouco do desconhecido. Os dados da Pfizer mostram que ela foi testada e é segura (para adolescentes). Com as outras vacinas, o mais provável é que haja os mesmos sintomas, mas ainda não temos a resposta em dados. Então, essas crianças devem ser procuradas pela vigilância epidemiológica, para que sejam acompanhadas de perto e para saber se houve algum efeito adverso. Porém, eles não devem variar dos outros (comuns após a dose). São aqueles leves: dor no corpo e na cabeça, cansaço, fadiga e febre. É preciso observar, porque isso (a vacinação com doses de outra marca) ocorreu fora das recomendações da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Mas não esperamos que esses efeitos sejam graves.

A Fiocruz divulgou que, em 2020, houve 1.207 mortes de jovens até 18 anos. Desse público, metade tem até 2 anos. Por que isso acontece?
Crianças pequenas têm uma série de dificuldades, tanto do ponto de vista respiratório quanto imunológico. O sistema delas funciona de forma um pouco diferente das mais velhas. Bebês são as maiores vítimas de outros tipos de infecções respiratórias comuns e têm várias questões anatômicas funcionais. Então, essas crianças, realmente, estão sob maior risco. Isso foi comprovado com (estudos sobre) outros vírus também. Essa é a população com que devemos ter mais cuidado. Há uma série de medidas para protegê-las além da vacinação e que são as medidas básicas de segurança. As crianças se infectam no mesmo ritmo da população geral, o que é totalmente oposto do que se dizia no início da pandemia. Elas também pegam (a covid-19), transmitem e ficam graves.

Podemos pensar em proteção indireta contra a covid-19?
As crianças que correm mais risco de ter uma infecção grave são as menores de 2 anos. Uma das formas de pensar na proteção indireta é que a família mantenha os cuidados e, nos casos das gestantes, foi comprovada a transmissão de anticorpos maternos. Eles são importantes para o crescimento e o desenvolvimento, bem como protegem contra várias doenças e a covid-19. As puérperas também devem tomar a vacina. Já houve indicação controversa contra o tipo e a marca (dos imunizantes), mas, no decorrer do tempo, ficou comprovado que ela é segura para esse público.

* Estagiária sob supervisão de Jéssica Eufrásio

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