Crônica da Cidade

Mariana Niederauer
postado em 19/09/2021 23:02

As saudades que eu sinto

Acordei com a mente cheia de saudades. No plural mesmo — com o “S” dessa liberdade a que chamam poética — para destacar que, neste caso, o substantivo abstrato se tornou bastante real no mundo dos sonhos, concretizando-se em diversas lembranças perdidas há tempos.

Lembrei-me de amigos de infância, de outros que fiz num período muito específico da juventude, de momentos banais passados juntos, mas que, hoje, olhando para trás, percebo que dão a dimensão do quanto tive sorte de tê-los passando em minha “timeline”. Pessoas generosas, gentis, amorosas, intensas ou, às vezes, tudo isso junto.

As lembranças se embaralhavam tanto na cabeça que passaram a se misturar com os pensamentos e finalmente viraram fantasias, desejos de voltar no tempo e dizer o quanto cada instante que passamos lado a lado foi especial. O quanto elas foram especiais.

E lá vai Gonzagão! “Saudade inté que assim é bom / Pro cabra se convencer / que é feliz sem saber.” Talvez por incompetência minha tenha perdido alguns laços que poderiam ter permanecido até hoje. Mas o tempo tem dessas coisas. Dá sua cota de felicidade para cada elo entre nós. Fecha uma porta para abrir outra. E a gente vive fadado a aproveitar essas oportunidades, geralmente sem poder prever e raramente no controle das tais voltas que a vida dá. Estou de olho nas cenas dos próximos capítulos.

Nos últimos dias, tenho escolhido algumas séries para acompanhar. Seja documentários, seja tramas fictícias, qualquer coisa que tenha episódios curtos, mas que ao mesmo tempo se multiplique em vários fragmentos para captar a atenção numa tarde de descanso ou num fim de dia exaustivo, após enfrentar o calor que toma conta desta capital.

O hobby faz atiçar esse lado da imaginação. Qual próxima fase da vida nos aguarda? O que esperar deste fim de ano? Teremos uma trégua da pandemia? Poderemos conviver com o tal vírus sem o pavor das fases mais críticas? Quantas saudades poderemos deixar para trás após o abraço caloroso a que estamos acostumados nos trópicos?

A nostalgia do momento, porém, nada tem a ver com melancolia, arrependimento ou tristeza. Pelo contrário, aqueceu o coração reavivar essas memórias. Afinal, foi o ritmo da sanfona que as embalou. “Mas ninguém pode dizer / Que me viu triste a chorar / Saudade, o meu remédio é cantar.”

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