Brasília saúda a primavera com a maior temperatura do ano

Nova estação chegou com a promessa de chuva para amanhã, o que deve amenizar o clima para os brasilienses e reduzir as queimadas que assolam a capital federal

Pedro Marra
Ana Maria Pol
postado em 22/09/2021 06:00 / atualizado em 22/09/2021 10:12
 (crédito: Fotos: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Fotos: Ed Alves/CB/D.A Press)

Os gramados sem vida e amarronzados, que marcaram os últimos meses na capital federal, começam a ficar para trás. Chegou a hora dos brasilienses se despedirem do calor e da seca e darem boas-vindas a dias mais amenos, afinal, a primavera chegou. Entretanto, o conforto térmico da estação não será sentido tão cedo, ontem, a estação meteorológica de Águas Emendadas, em Planaltina, registrou a temperatura máxima de 37,1ºC, o maior índice térmico do ano e a maior média para o mês de setembro desde o início da série histórica, em 1961. A boa notícia é que especialistas acreditam que, a partir de agora, os termômetros devem dar uma trégua e as chuvas, inicialmente pontuais, trarão alívio para a população e para flora e fauna do cerrado, que, no último mês, enfrentaram 1.235 focos de incêndio.

Metereologistas acreditam que as primeiras pancadas de chuva da primavera acontecerão amanhã e no fim de semana. Ontem, a umidade mínima relativa do ar ficou em 12%, o recorde mínimo do ano foi 10%, em 19 de setembro, no Gama e em Águas Emendadas. Com as precipitações de água, o índice tende a ficar entre 20 e 25%. Entretanto, as chuvas ocorrerão em pontos isolados, somente em outubro as chuvas ficam frequentes.

Antes dos 37,1ºC, a maior temperatura de 2021 tinha sido de 35,9ºC, em 6 e 20 de setembro. Para hoje não haverá oscilações bruscas, pela manhã, a temperatura fica em 16º C e, à tarde, pode chegar a 37ºC. A umidade vai se manter baixa, com mínima em 12% e máxima por volta de 60%, conforme informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

A primavera promove uma mudança no regime de chuvas e temperaturas na maior parte do Brasil. No DF, não é diferente, as chuvas passam a ser mais intensas e frequentes e começam as precipitações no fim da tarde ou início da noite. No começo, a chuva ocorre de forma irregular e intercalada com períodos secos, mas aumenta a frequência até que os temporais efetivamente lavem a cidade e se tornem companhia constante dos brasilienses.

De acordo com a meteorologista do Inmet Andrea Ramos, a previsão é que caia um volume de chuva de 160mm em outubro. Segundo ela, levará de uma a duas semanas para a climatologia entrar num estágio de normalidade. “Ainda veremos dias quentes e secos no início, mas já com previsão de chuva, gerada pelo aumento gradativo da umidade relativa do ar”, explica. A especialista afirma que há um bloqueio atmosférico que atua durante o inverno, mas enfraquece com a nova época. “Esse bloqueio perde a força e permite que os sistemas atuem. Combinada com o calor e a umidade que vem da Amazônia, gera nuvens e possibilita as chuvas”, esclarece.

Cores do cerrado

Moradora da quadra 308 Sul, a servidora pública Lívia Maria Lages Pedrosa Portela, 39 anos, conta que é natural do Piauí e, desde que se mudou para Brasília, encantou-se pelo Plano Piloto. Isso porque o espaço ilustra as mudanças da primavera, já que possui muitas árvores e espécies que explodem em cores nesse período do ano. “Aqui, a gente encontra a natureza a qualquer momento, porque ela se faz presente por onde andamos. Meu cobogó fica em frente a algumas árvores, e posso viver pertinho desse ambiente calmo e relaxante”, diz.

Casada, mãe de dois filhos, ela conta que a chegada da estação instiga, ainda mais, a família a sair de casa para caminhar e passear a pé. Tudo isso para aproveitar a vista. “É bom demais sair, ter contato com a natureza, ouvir o canto dos passarinhos. Isso pode ser um detalhe pequeno, mas cria lembranças para minha família”, garante. Além da paisagem, o alívio para os dias de calor é outro atrativo, motivo de festa: “A gente sofre muito, porque viemos de um lugar muito úmido. Mas nos acostumamos e aproveitamos a vida, a seca, o calor. Afinal, somos do Piauí, e quem é de lá não pode reclamar muito”, brinca.

Segundo o biólogo e professor do Centro Universitário de Brasília (Ceub) Stefano Aires, a estação chuvosa e a umidade são o que possibilitam a floração característica do período. “A umidade dá mais disponibilidade de água para as plantas, dando mais facilidade para que elas puxem os nutrientes do solo. Com o fluxo maior de água, elas conseguem aproveitar os nutrientes e usar essa energia para a reprodução de flores e, posteriormente, frutos e sementes”, explica. Dentre as flores mais comuns estão: fúcsia, sapucaia, flamboyant e o cambuí. “Dentre as frutíferas, terá início a estação do cajuzinho do cerrado, que é uma delícia e vale a pena provar”, recomenda Stefano.

Ele também destaca que a mudança de paisagem vai além das flores, insetos que andaram sumidos voltam durante a primavera. “Começamos a ter as cigarras, com o início das chuvas e, um pouco mais para frente, vamos ter os besouros. Aumenta, também, a quantidade de mosquitos, porque o calor vai continuar”, diz. O sumiço dos insetos se justifica pelo pouco recurso durante a seca.

De acordo com as moradoras da Octogonal, a advogada Camila Pitanga Barreto, 31, e a mãe dela, a aposentada Cláudia Pitanga Barreto, 60, a chegada da primavera traz o que o brasiliense mais deseja no momento: chuva! “Você sente a alma em festa”, afirma Camila. Ela conta que sai todos os dias para caminhar com a filha. Naturais da Bahia, elas sentem falta de admirar o mar e, desde que se mudaram para Brasília, as flores têm substituído as ondas com maestria. “Moramos aqui há 21 anos, e lá nossa casa fica próxima à praia, que é o meu lugar favorito. Ver, sentir, e ouvir o aroma da maresia. Aqui, sinto a mesma paz de espírito ao caminhar quando vejo as flores colorindo o ambiente”, diz Cláudia.

Enquanto caminham, elas apreciam os primeiros tons do colorido primaveril. As árvores frutíferas no caminho garantem degustações descompromissadas. “Tem manga, jabuticaba, jambo, são várias. Aproveitamos durante a caminhada para dar uma comidinha, unimos o útil ao agradável, e nos alimentamos bem ainda”, diz. A advogada ressalta, ainda, a importância de zelar por esses pomares urbanos. “Em meio a tudo isso, sempre cuidando e preservando o que temos à nossa volta, para que essa riqueza cuide da gente também”, diz.

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Incêndios castigam Distrito Federal e entorno

 (crédito: Minervino J?nior/CB/D.A Press)
crédito: Minervino J?nior/CB/D.A Press

Ontem, o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) atendeu novas ocorrências de queimadas. Um incêndio florestal atingiu uma na área do Regimento de Cavalaria de Guardas (RCG), do Exército Brasileiro, próxima ao Parque Nacional de Brasília (PNB), atrás da Cidade do Automóvel. Quatro viaturas foram deslocadas para o enfrentamento das chamas, que não atingiram o parque, uma área ambiental com 42,3 mil hectares que abrange as regiões administrativas de Brasília, Sobradinho e Brazlândia e o município goiano de Padre Bernardo (GO).

Até a tarde de ontem, o DF tinha 120 registros de incêndios em um único dia, conforme comunicou os Bombeiros. “Pelo menos metade deles ainda está em atuação. Os maiores focos, em Sobradinho e Gama, sem registro de pessoas ou animais feridos”, explicou a corporação, por nota, destacando que algumas ocorrências são duplicadas.

Desde o dia 12, a Chapada dos Veadeiros também é ameaçada pelo fogo. As regiões conhecidas como Cascata, em Teresina de Goiás (GO), e Ponte de Pedra, em Cavalcante (GO) enfrentam focos de incêndios. “Esses dois focos adentraram ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, e estão cerca de 60km distantes das áreas dos atrativos turísticos. Portanto, não oferecendo risco até o momento aos turistas”, declara o militar.

Até o último domingo, a corporação calculou 18.620 hectares devastados pelas queimadas na região de preservação ambiental. “Não temos informação atualizada por conta da cobertura de fumaça na região. O satélite precisa da área limpa para calcular o impacto”, esclareceu o capitão Dias, Bombeiro Florestal do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás (CBMGO).

Para conter a tragédia, uma força-tarefa atua na linha de frente com um efetivo de 200 pessoas. Dentre elas, estão brigadistas do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMbio), Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), brigadas voluntárias, Corpo de Bombeiros de Goiás e do DF. Ontem, aviões fizeram lançamentos de água durante todo o dia. “A expectativa é de que a gente possa progredir nessas linhas e que possamos ter um panorama melhor hoje”, conclui o capitão Dias.

Colaborou Rafaela Martins

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