DUAS RODAS

Conheça a brasiliense que chegou à final do concurso da Harley-Davidson

Raphaela Maciel rodou mais de 6 mil quilômetros pelo Centro-Oeste em uma missão de conquistar o sonho de ter uma moto profissional

Talita de Souza
postado em 23/09/2021 06:00
 (crédito: Miguel Jeff)
(crédito: Miguel Jeff)

Quando Raphaela Maciel acompanhava o pai em encontros de motociclistas no Autódromo de Brasília, durante a infância, ela não imaginava que, aos 29 anos, teria rodado mais de 6 mil quilômetros pelo Centro-Oeste em uma missão de se tornar a única representante do Distrito Federal em um concurso nacional de uma das mais antigas montadoras de motos do mundo, a Harley-Davidson. Dez meses de superação, choro, alegrias e até falta de freio em autoestrada, ela conquistou uma das cinco vagas de finalistas do concurso. Para ajudar a Rapha a ganhar, curta a foto dela aqui, até as 23h59 desta quinta-feira (23/9).

A paixão do pai que foi compartilhada com ela foi a força propulsora para a brasiliense embarcar no desafio de se tornar a vencedora do Harley Rider Challenger BR. O concurso premiará um motoqueiro ou motoqueira com um modelo novo da montadora. Para isso, o participante precisaria cumprir oito viagens estipuladas pela Harley e conseguir o maior número de curtidas na foto final do desafio.

Quando soube do concurso, em uma postagem nas redes sociais, Rapha se identificou com a proposta de "fazer novos amigos, viver a adrenalina e se autoconhecer". Era a oportunidade perfeita para ela viver o estilo de vida de motociclista na totalidade, do jeito que almejava na infância.

"Quando eu vi o anúncio do concurso, eu me via nas falas do narrador, sobre se conhecer, fazer novos amigos, viver a adrenalina, tudo andando de moto. Lembrei que via meu pai vivendo entre os motoclubes, via tantas mulheres empoderadas lá e me perguntava o porquê que eu não podia fazer também. Me inscrevi, era o primeiro passo", lembra.

Para a moradora de Samambaia, o plano era perfeito, com apenas duas falhas: a falta de recursos financeiros para bancar as viagens e a moto de Rapha. A Suzuki Intruder 125 2009 da motoqueira é um modelo menor e inferior da dos outros participantes, e poderia enfrentar contratempos nos percursos. Aliás, a brasiliense é a única finalista com um veículo que não é da Harley Davidson. Mesmo assim, a motoqueira não se abalou, já que a "motinha", como ela chama, nunca a deixou na mão em outras viagens que começou a fazer há dois anos.

"Apesar de amar o motociclismo, com uma filha, eu nunca comprei uma moto. Em 2018, após um momento em que fiquei sem carro, fiz uma promessa a Deus e comprei uma moto, com um dinheiro emprestado, para me locomover”, diz.

"Passei a frequentar a cena que eu gosto, que era de ir na Torre, que toda terça-feira tem encontro de moto com música ao vivo, o Galpão 17 também e depois quis pegar estrada, ir para longe, viver o trecho. Personalizei a motinha e comecei. Meu marido e eu", conta.

Ela conta, ainda, que quando começou o desafio algumas pessoas a questionaram sobre a possibilidade de alugar uma Harley para as viagens e ter mais chances de ganhar. "Eu sempre respondi que não, que minha moto é essa. O maior desafio foi fazer na minha motinha, me desafiando, mas isso me fez me sentir muito viva e entender que as coisas são como devem ser”, declara a motoqueira.

Quatro rodas, dois corações e muita fé

Um mês após a inscrição, Rapha recebeu da Harley Davidson Brasília um passaporte com os oito destinos que ela deveria cumprir. Com algumas economias e o marido, Miguel Jeff, companheiro de sete das oito viagens, ela partiu em busca do primeiro carimbo, que seria dado em Pirenópolis, Goiás. Em 27 de dezembro de 2020, Rapha comemorou o primeiro desafio, com 230km rodados em quatro horas.


A partir da primeira viagem, Rapha sabia que precisaria muito mais do que disposição para dirigir por horas a fio. Superação era a palavra que ela buscava. "Foi uma loucura os oito desafios, sabe? Hoje, quando eu paro para olhar eu fico sem entender como fizemos. Foram 6.350km de muita superação”, lembra.

"O concurso não fornece nenhum tipo de ajuda financeira, nem nada, é tudo do seu bolso, o seu esforço e determinação. Como eu precisava de tempo, eu não pude trabalhar. Nós pegamos grana emprestada, moto emprestada, ficamos na casa de pessoas, muita gente que nos abraçou e cumprimos juntos sete desafios", diz.

Um dos momentos mais marcantes das viagens foi no terceiro desafio, a ida para Paracatu, em Minas Gerais. Dos 237km a serem percorridos, Rapha fez 130 sem o freio dianteiro. "A minha moto treme muito e a pinça que segurava o freio saiu do lugar. Como é uma moto customizada, não é todo mundo que entende o que foi feito e não tínhamos como pagar também. Eu resolvi continuar, porque se não seria eliminada”, relembra.

A motoqueira conta que foi nesta viagem que aprendeu que a vida é batalha, mas que persistir pode levar a lugares bonitos. "Era muito calor, muito sol, um desconforto, o perigo sem o freio. Depois que tiramos a foto no local para garantirmos o carimbo no passaporte, pegamos a estrada e lembro de uma cena que guardo no coração", suspira.

"O Miguel passou com a moto na minha frente, todo feliz, com a cara queimada. O sol tava se pondo e eu agradecendo a Deus e ao Harley Challenger por aquele momento, pela vida. Com certeza, você pegar a estrada com a pessoa que você ama é uma benção muito grande", compartilha, emocionada.

Além de Pirenópolis (GO) e Paracatu (MG), o casal também esteve na Chapada dos Veadeiros (GO), Casa de Confessa (MG), Caldas Novas (GO), Trindade (GO), São Francisco de Goiás (GO) e Usina de Capitólio (MG).

O último desafio: a prova de fogo

Na última viagem, para Palmas, em Tocantins, Rapha encarou a estrada sozinha. "A gente teve mais dificuldade na questão de grana. Em todo o tempo a gente fez vários 'corres', muitas pessoas nos ajudaram, mas no último desafio não conseguimos ir juntos", lamenta.

O desafio foi o momento em que ela viveu uma verdadeira batalha para provar que queria se superar e levar o prêmio para casa. Além de estar sozinha, ela se perdeu pelo caminho e dirigiu por 280km a mais, o que totalizou em 1.160km apenas na ida. O motor da motinha fundiu, mas Rapha, sem saber, continuou o caminho e só descobriu o fato quando levou a mascote para uma revisão antes da volta.

"Conclui o desafio com muita emoção, dificuldades, mas a certeza de que existem mais pessoas boas do que ruins! De como o motociclismo nos une pelo mesmo amor. Eu rodei 2.013km sozinha, com Deus, a motinha e todas as pessoas boas que estavam na minha cabeça. Foi assim que consegui chegar ao meu destino”, lembra.


 

Família: de laços sanguíneos a laços em duas rodas

De toda a jornada vivida por Rapha, ela destaca que descobrir família no motociclismo e em amigos é o que mais a marcou. A brasiliense, que conheceu o laço fraterno dos motoclubes quando acompanhava o pai em encontros de motociclistas no Autódromo de Brasília, viveu na pele o carinho de quem ama pegar a estrada nos estados pelo qual passou.

“Todo mundo que me ajudou até aqui virou amigo, pessoas que abriram as portas. Teve muita gente de Brasília que fez o cadastro, mas que não conseguiu chegar e me apoia. Eu sinto que, se o prêmio acontecer para mim, é como se elas também estivessem realizando o sonho delas”, declara.

Pronta para o prêmio

Ela também afirma que se sente feliz em ser uma representante mulher e ter conseguido cumprir o desafio com a moto de outra montadora. "Ser de Brasília, ser mulher, estar com moto de baixa cilindrada de todos os finalistas significa que a gente tá rompendo muito mais do que barreiras dos meu sonhos apenas, é muito mais que isso", conta.

"É com certeza uma história que eu vou gostar muito de contar para minha filha, para os meus netos e para todo mundo que eu tiver oportunidade. Porque eu me lembro muito bem do dia que eu orei para isso, mesmo sendo algo impossível de acontecer", diz.

Rapha diz que é uma nova pessoa depois do desafio, que cresceu em autoconhecimento, que aprendeu a ressignificar as coisas e a ter paciência. "Hoje, sei que tempo ruim é fase, que depois da chuva, de uma tempestade mesmo, vem uma calmaria, coisas boas”, diz.

Agora, a brasiliense está no topo do ranking para ganhar a Harley-Davidson mais que merecida. "Mas o segundo lugar está vindo a 130 km/h", revela Rapha. Para ajudar a motoqueira a garantir o “harllão”, como ela chama”, clique aqui e curta a foto.

“Eu quero trazer esse Harllão para minha vida, para Brasília e para o mundo. Quero viver na estrada. Enquanto eu puder, quero está em cima de uma moto”, conclui.

DIÁRIO DE BORDO - RAPHA MACIEL, de Samambaia em duas rodas para o mundo

Confira os registros e relatos de cada desafio cumprido por Rapha:

Desafio 1 - Pirenópolis (GO)

 

Desafio 2 - Chapada dos Veadeiros

 

Desafio 3 - Casa de Concessa, Paracatu (MG)

 

Desafio 4 - Caldas Novas (GO)

 

Desafio 5 - Trindade (GO)

 

Desafio 6 - São Francisco de Goiás (GO)

 

Desafio 7 - Capitólio (MG)

 

Desafio 8 - Praia da Graciosa (TO)


Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação