Notícias da macacada
“E os macaquinhos?” De vez em quando um leitor me pergunta, pois eles foram personagens de muitas crônicas. Bem, resolveram dar um tempo. Moro em um condomínio horizontal fronteiriço a uma mata cerrada. Durante muito tempo, os macacos frequentaram as mangueiras, as goiabeiras, as pitangueiras, as amoreiras e o telhado de minha casa.
A chegada deles é sempre um acontecimento mágico. Primeiro, a gente ouve um alvoroço no mato, mas é um alvoroço aéreo de folhagem remexida. Logo, o chefe do grupo desponta e a turma vem atrás. Eles fazem acrobacias a mais 10 ou 15 metros de altura de deixar os malabaristas do Cirque du Soleil no chinelo. São simpáticos, brincalhões e bagunceiros.
Em certa madrugada, acordei assustado com o barulho do que me parecia um pagode ou uma pelada em cima do telhado. A zoada indicava que um time atacava e outros se defendia, conforme os lances da partida, se movimentando, abruptamente, de um lado para o outro. Sentei-me na cama por alguns segundos para me certificar se não estava sonhando.
Levantei-me assustado no rumo da sala e, no escuro, quando olhei para a faixa de vidro no alto da parede, percebi a silhueta de um macaco. Abri a porta de vidro e, para assustar a macacada, peguei uma pedra e atirei na mangueira. Estava
com os músculos desaquecidos e tive uma tremenda torção. Precisei fazer fisioterapia durante quase um mês.
E o pior é que o médico ficou mais preocupado com os macacos do que comigo. Sempre alfinetava: “Olha, trate bem dos macaquinhos.” O maior estrago que eles faziam era invisível durante a seca, mas dramático no período da chuva. Eu percebia a bagunça deles no telhado, mas não tinha ideia da extensão.
No entanto, de repente, caiu uma tempestade, parece que chovia mais dentro de casa do que fora. O telhado estava pontilhado de goteiras, era preciso colocar bacias por todos os cantos para aparar a água que pingava incessantemente. Ficou caro pagar o senhor Hermínio para subir na casa e trocar mais de 20 telhas quebradas.
Numa tarde, avistei um macaquinho andando em cima da cerca de arame farpado. Fiquei imóvel, prendi a respiração e evitei piscar, com medo de assustar o bicho e provocar um acidente. Mas ele terminou a travessia tranquilo e imperturbável, com incrível habilidade, sem sequer dar uma olhada para baixo, na direção de onde pisava.
Durante uma das minhas férias, resolvi botar moral na macacada. Passava boa parte do tempo em uma rede lendo e vigiando a chegada da trupe bagunceira. De repente, avistei uma cena que me pareceu fantástica: um macaco de duas cabeças. Mas eu me enganei. A mãe carregava um macaquinho nas costas e isso me deu a impressão de que se tratava de um macaco bifronte.
Quando foi flagrada, ela me mirou por alguns segundos. É como se me perguntasse: “e aí, não vai deixar que eu dê comida a meu filho?” Não, eu não resisto a uma mãe que deseja alimentar o filho. Acabou a minha moral com a macacada.
Agora, os macaquinhos deram um tempo porque a vizinha resolveu construir uma casa no lote ao lado e decidimos cortar algumas árvores frutíferas e erguer um muro. Mas não reclamo, eu que invadi o território deles. E a verdade é que me salvaram várias vezes com histórias para a crônica. Valeu, macacada!
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