Desbravador de caminhos. É assim que a família do eletricista José Paulo Sarkis, 90 anos, descreve o mineiro de Uberlândia. O pioneiro chegou a Brasília em 1957, antes mesmo de a cidade existir, e faleceu na madrugada de ontem, por volta das 4h, na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Santa Lúcia, onde esteve internado nos últimos 30 dias. O empresário lutava contra o Parkinson e, há cerca de três meses, foi submetido a uma cirurgia de prótese nos joelhos.
Durante a recuperação, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e passou a ter dificuldades para engolir líquidos e alimentos. O quadro debilitado acabou facilitando infecções e, há um mês, desenvolveu uma pneumonia severa. Foi levado ao hospital. Viúvo, José Paulo deixa quatro filhos, 11 netos e 11 bisnetos. O enterro ocorreu na tarde de ontem, no Cemitério Campo da Esperança.
O empresário trabalhava em uma companhia de energia elétrica na cidade natal. Prevendo o que o futuro reservava a ele e sua família no Planalto Central, pediu demissão e veio tentar a sorte em Brasília. Jorge Sarkis, o terceiro filho do pioneiro, conta que o pai, ao chegar ao local onde nasceria a nova capital, manteve a chama da esperança acesa. “No dia em que chegamos a Brasília, meu pai pediu a Deus que desse saúde e trabalho para que ele pudesse mudar o rumo da vida, porque vontade não faltava. Há um lado poético da poeira que comemos quando chegamos”, reflete Jorge.
Legado
A prece não somente foi ouvida como atendida e multiplicada. José Paulo, pioneiro que era, fundou o primeiro estabelecimento de alvenaria de Brasília, na 506 Sul, a Elétrica Sarkis. Confirmando a trajetória de desbravador, o primeiro parto feito na nova capital foi de um filho de José Paulo, que, infelizmente, não sobreviveu. Estabelecido, o empresário convenceu os irmãos a se mudarem para a nova capital. Com o sucesso do pioneiro, a família construiu uma rede de prósperos negócios na cidade, que vão desde estabelecimentos de iluminação e instalação a empreendimentos imobiliários e no ramo da construção civil.
Trabalhador incansável, o mineiro não se aposentou. “Enquanto esteve consciente, era a cabeça da empresa. Todas as orientações para os negócios foram feitas por ele, até os últimos instantes de lucidez”, descreve Jorge. Sobre os ensinamentos deixados por José Paulo, o filho não poupa elogios. “Exemplos nos eram dados dia a dia, nos pequenos detalhes e nas grandes decisões. Saber falar, saber calar e, sempre, saber ouvir. Meu respeito, meu pai. Que Deus o recompense dignamente pelo seu legado — de força e fé”, homenageou.
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