Entrevista / Valéria Paes - infectologista e professora da UnB

Especialista falou sobre a alta taxa de transmissão na capital federal e os cuidados que devem ser mantidos na pandemia da covid-19

Jéssica Gotlib
postado em 14/10/2021 23:15
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

“População do DF se descuidou”

Em entrevista ao CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília — , a infectologista Valéria Paes, professora da Universidade de Brasília (UnB), falou sobre a alta taxa de transmissão no Distrito Federal e os cuidados que devem ser mantidos com a pandemia. Enquanto que o índice de transmissão médio da covid-19 no Brasil está em 0,6, no DF segue acima de 1. “À medida que as pessoas estão sendo vacinadas, elas têm uma tendência maior a se sentirem seguras”, explicou a especialista. À jornalista Carmen Souza, Valéria abordou o avanço da vacinação, a volta às aulas e a necessidade de se manter os protocolos sanitários. “Eu diria que a gente pensar em grandes aglomerações é bastante temerário”, destacou. Confira alguns trechos da entrevista:

 

Nesta semana, a taxa de transmissão no Brasil caiu para 0.6, mas no DF segue acima de 1. O que está acontecendo aqui?
Essa transmissão do vírus pode variar muito de região. Aqui, nós temos avançado com a vacinação, mas a adesão aos protocolos de prevenção, as outras medidas que nós estamos sempre recomendando, pode ter reduzido. Tivemos o aumento do número de eventos e percebemos um certo relaxamento das pessoas, com diversos relatos de aglomeração. Então, é natural que essa transmissão fatalmente irá ocorrer. Há muitos trabalhos voltando às atividades presenciais, e temos velhos problemas ainda não resolvidos, como o do transporte público. Além disso, as pessoas, à medida que estão sendo vacinadas, têm uma tendência maior de se sentirem seguras e se encontrarem mais. A gente sabe que a vacina protege contra as formas graves da doença, mas ainda não protege totalmente contra a infecção.


No Rio de Janeiro, começam a ser vendidos ingressos para o carnaval. Aqui, muitas pessoas planejam festas como o réveillon. Já é o momento para retomar esses grandes eventos?
Eu diria que a gente pensar em grandes aglomerações é bastante temerário. Até porque há um longo período até lá. Com a pandemia, em um prazo de dois meses, a situação epidemiológica pode se alterar muito. A gente lembra como foi no final do ano passado. Tivemos um fim de ano em que estávamos em redução dos casos, e quando foi no carnaval estávamos em uma situação crítica. Ainda temos uma taxa de transmissão elevada aqui em Brasília e em outros lugares do país. Estamos caminhando com o reforço, a terceira dose para os grupos mais suscetíveis, e isso será muito importante para evitar internações e mortes. Mas, possivelmente até o réveillon e o carnaval, não serão todos que terão conseguido a segunda dose e estarão com seis meses de vacinação.


E no caso da retomada às aulas presenciais?
Essa é uma situação diferente, porque nós estamos percebendo todos os prejuízos que ocorreram na educação durante esse período de ensino remoto. Então, eu diria que, como o prejuízo para a criança é permanecer no ensino remoto existe e é reconhecido por diversas especialidades da educação, seria prioritário retornar o ensino presencial em detrimento dessas outras grandes aglomerações, mesmo reconhecendo a importância cultural que elas têm para todos. Ainda assim, a volta às escolas também vai precisar de adesão aos protocolos sanitários, uma reorganização das salas de aula. A gente não pode mais, por exemplo, ter salas superlotadas. É preciso ter acesso a exames e saber o que fazer com uma criança que acabou de iniciar sintomas, bem como todo aquele núcleo familiar.


Mesmo com a alta transmissão, há uma diminuição do número de mortes no DF. A gente pode atribuir isso ao aumento da vacinação?
Sim. Nós temos observado nos hospitais que a grande maioria dos internados é de pessoas não vacinadas. Então, essa redução dos óbitos, com certeza, tem uma correlação com a vacina. É preciso deixar claro que a vacina protege contra as formas graves. E, agora que estamos evoluindo com o reforço vacinal para os idosos e para os imunossuprimidos.

 

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