FIM DE SEMANA

Economia mais que criativa: Feira No Setor estreará na Galeria dos Estados

Feira No Setor começa a funcionar neste domingo (17/10) na Galeria dos Estados e reunirá diversos artistas e comerciantes no local, com o objetivo de mostrar as riquezas culturais do Setor Comercial Sul

Edis Henrique Peres
postado em 16/10/2021 06:00
Equipe da Feira No Setor -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Equipe da Feira No Setor - (crédito: Arquivo Pessoal)

A Galeria dos Estados vai receber, a partir deste domingo (17/10), a Feira No Setor, que nasce com a intenção de proporcionar um encontro de riquezas culturais no centro de Brasília. O local reunirá artesanato, bebidas, produtos naturais e orgânicos, além de moda, biocosméticos, arte e autocuidado. O projeto da feira é uma iniciativa do Instituto Cultural e Social No Setor e tem o apoio da Administração Regional do Plano Piloto e fomento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec). A feira funcionará por oito domingos, até 5 de dezembro.

Coordenador de projetos do instituto, Bruno Macedo destaca que “buscamos dar à feira a cara que Brasília tem, explorando essa cidade heterogênea e trazendo a valência e a diversidade para o centro, o DF tem gente do Nordeste, do Sul, de Minas, do Acre, de todo lugar do Brasil”. Para Bruno, os grandes centros urbanos possuem suas feiras emblemáticas, que representam a cidade e as suas raízes. “A ideia da feira acontecer na Galeria dos Estados é de ocupar o centro e trazer toda essa cultura para o local. Por ser próximo da Rodoviária e também da estação de metrô, nosso objetivo é trazer essa conexão com as outras regiões”, ressalta.

A feira teve um processo de seleção que reuniu mais de 100 inscritos, no entanto, devido ao espaço, a curadoria precisou escolher cerca de 35 feirantes que poderiam ocupar o local. “O foco é conseguir fomentar a economia do DF e ajudá-los. O local também conta com acessibilidade para as pessoas com deficiência, pois a estrutura física da galeria tem rampas, elevadores e piso tátil”, destaca.

A iniciativa pretende mudar o estigma que o Setor Comercial Sul (SCS) sofre no DF. “A gente vai mostrar para as pessoas que o SCS vai além da imagem estigmatizada, que as pessoas transformaram o local. Sofremos um processo de apagamento social da população de rua que vive aqui. Nossa ideia é conseguir desconstruir essa imagem e mostrar outro panorama”, conta.

Um dos feirantes que vai participar é Gabriel Kuch, 30 anos, morador do Altiplano Leste. Gabriel e a esposa, Bárbara Segato, 29, iniciaram há mais de um ano o projeto Deu Na Telha, que consiste em um trabalho de artesanato em telhas de cerâmica. “Sou de Porto Alegre e cresci com feira de rua. Para mim, é importantíssimo esse ambiente, sem falar nesse momento, que possibilita o encontro de várias pessoas, em um domingo, quando estão dispostas a conhecer novos locais, ouvir outro estilo musical, respirar um ar diferente”, pontua.

Gabriel destaca o simbolismo da feira acontecer na Galeria dos Estados. “É símbolo da confluência dos vários estados que chegaram em Brasília”, diz. A iniciativa do Deu Na Telha nasceu em um momento reflexivo de Gabriel. “O projeto começou em agosto do ano passado. Estou morando em uma casa alugada e lá tem diversos materiais jogados no fundo. Estava passando por um momento complicado, quando encontrei uma telha no jardim e peguei os pincéis que tínhamos em casa e comecei a pintar. A primeira telha nasceu assim. No começo, dávamos de presente para amigos, depois começamos a divulgar e vender no Instagram”, revela.

  • 14/10/2021. Crédito: Arquivo Pessoal. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Feira No Setor. Setor Comercial Sul. Sandra cozinha há cinco anos profissionalmente e estará nas oito edições da Feira No Setor. Além de geleias, antepasto e arepas colombianas, a cozinheira servirá pratos pedidos na hora.
      Caption
    14/10/2021. Crédito: Arquivo Pessoal. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Feira No Setor. Setor Comercial Sul. Sandra cozinha há cinco anos profissionalmente e estará nas oito edições da Feira No Setor. Além de geleias, antepasto e arepas colombianas, a cozinheira servirá pratos pedidos na hora. Caption Arquivo Pessoal
  • Tour SCS
    Tour SCS Adauto Menezes/Divulgação
  • Tour SCS
    Tour SCS Igor Kichi/Divulgação
  • Deu Na Telha
    Deu Na Telha Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

Economia criativa

A Feira No Setor representa, também, um importante incentivo à economia criativa na capital do país. De acordo com dados do Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, realizado pela Federação de Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), em 2017 o Produto Interno Bruto (PIB) Criativo representou R$ 171,5 bilhões. Em um recorte regional em relação à participação na indústria criativa, o DF ocupa a terceira colocação, com 3,1% de representação, acima da média nacional de 2,61%. A capital federal também é responsável por 42% do consumo na indústria criativa nacional, e é a região em que os profissionais do setor são melhor remunerados. Ainda em 2017 havia, pelo menos, 8.912 pessoas empregadas no setor da área criativa de consumo do DF.

Além do peso da economia na capital, outro título confere importância à cidade. Em 31 deste mês, faz quatro anos que a Organização das Nações Unidas Para a Educação (Unesco) anunciou Brasília como uma das integrantes da Rede de Cidades Criativas, reconhecida como a capital criativa do design. O projeto da Unesco estabelece sete pilares da indústria criativa e cultural: design, artesanato e artes folclóricas, gastronomia, literatura, cinema, música e artes midiáticas.

Larissa Cayres, coordenadora de arquitetura e design de interiores do Centro Universitário Iesb, explica que a economia criativa é todo o serviço que envolve a produção intelectual e cultural. “Ou seja, envolve a criatividade e gera valor econômico”, pontua. Para Larissa, o maior desafio é a falta de valorização desse setor. “A população precisa entender e valorizar a economia criativa, assim como o governo deve incentivar essa prática, com reduções de impostos para tornar mais viáveis esses negócios econômicos e estimular o desenvolvimento de novos empreendedores”, ressalta.

Com o título de Cidade Criativa do Design, a especialista avalia que o incentivo à economia criativa deve ser mais discutido. “Precisamos fomentar constantemente eventos, discussões e projetos para a manutenção dessas iniciativas. Por isso, conscientizar as pessoas da importância de valorizar o que temos na capital e valorizar a nossa produção é essencial”, comenta.

Atrativos

A feira também vai contar com a presença de estandes de alimentação. Sandra Vale, 42, chef de cozinha e moradora do Guará 2, confessa que está entusiasmada para o começo do evento. “Trabalho com gastronomia brasileira, como personal chef e em eventos, mas nunca participei de uma feira, então estou bem animada. Logo que saiu o projeto da feira eu me interessei, principalmente pelo forte traço cultural e os diversos expositores que estarão presentes”, aponta.

Sandra vai vender geleias, antepastos, arepas colombianas, pão de queijo à base de vegetais e também alimentos para consumo local, feitos na hora. “Na praça de alimentação terá café da manhã, almoço e petisco durante a tarde. Todo domingo quero levar um prato diferente. Neste fim de semana, vou levar um arroz de cordeiro e um prato vegetariano de cogumelo defumado. Meu plano é sempre trazer a opção de um prato vegetariano”, afirma.

A chef de cozinha conta que é voluntária em diversos trabalhos com os moradores de rua. “É triste ver que todos são tratados de forma negativa. As pessoas pensam que eles estão nas ruas roubando ou vendendo drogas. Existe, sim, alguns nessa situação, mas tantas outras pessoas estão ali porque não têm onde morar. A pandemia, por exemplo, aumentou bastante o número de pessoas lá (Setor Comercial Sul), porque ficaram desempregadas”, pontua.

Além das exposições, o Feira No Setor conta com mais dois projetos: de 15 em 15 dias o portal Panorama SCS, mantido por um grupo de turismólogas do Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília (UnB), realizará publicações sobre arte urbana no portal do grupo, com o foco em valorizar a região. Além disso, em domingos alternados, o grupo SCS Tour promoverá um walking tour por pontos estratégicos.

“O nosso foco é resgatar a memória do SCS por meio do turismo. Por isso, oferecemos algumas experiências à população. Em um passeio a pé pelo Setor Comercial, passamos pelos principais pontos arquitetônicos, históricos e culturais, contando a história do território. As visitas acontecerão de 15 em 15 dias, em dois horários, às 11h e às 15h da tarde. Cada tour tem duração média de uma hora e meia e teremos limite de 12 pessoas no grupo devido a pandemia”, explica Guilherme Capanema, coordenador do SCS Tour. O grupo terá apoio de intérprete de libras e também de acompanhante para deficiente visual, para incluir as pessoas com deficiência interessadas. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas com antecedência (leia Para saber mais).

Guilherme ressalta que, embora o SCS seja muito movimentado, poucas pessoas param para conhecer a história do local. “Esse conhecimento é uma forma de criar um vínculo e uma sensação de pertencimento à cidade. Brasília é um local onde as culturas se encontram e tem uma dinamicidade muito grande. O SCS tem obras de grandes artistas da arquitetura, como prédios de Oscar Niemeyer, de João Filgueiras Lima, conhecido como Lelé, e do Athos Bulcão. Além disso, tem a própria cultura da cidade que foi se construindo ao longo da sua existência e sendo expressa ali”, finaliza.

Uma rede

Confira outras feiras da capital neste mês de outubro

Feira rural no Parque

Data e hora: 10 a 24 de outubro (domingo) das 8h às 14h
Endereço: Praça Jatobá, Estacionamento 13 do Parque da Cidade

Feira rural no Sudoeste

Data e hora: aos sábados (16, 23 e 30 de outubro), das 8 às 12h
Endereço: EQSW 301/302, atrás do Parque Bosque do Sudoeste, no estacionamento da Thomas Jefferson e da Bodytech

Feira rural no CABV (Sobradinho)

Data e hora: Toda terça-feira (19 e 26 de outubro), das 17 às 21h
Endereço: Área multiuso do Condomínio Alto da Boa Vista

Feira rural do produtor da Vargem Bonita

Data e hora: aos sábados (16, 23 e 30 de outubro), das 7 às 15h
Endereço: em frente ao comércio local, ao lado da quadra de futebol

Feira Rural de Multiprodutos do Barreiros

Data e hora: toda sexta-feira (15, 22 e 29 de outubro), das 16h às 21h
Endereço: DF-140, km 11, núcleo rural Barreiros, São Sebastião

Para saber mais

Feira No Setor
Funcionamento: todos os domingos de 17 de outubro a 5 de dezembro, das 9h às 17h
Endereço: Galeria dos Estados, entre o Setor Comercial Sul e o Setor Bancário Sul

SCS Tour
Inscreva-se: sympla.com.br/ produtor/scstour
Participação gratuita, limitada a grupos de 12 pessoas
Datas: 17 e 31 de outubro, 14 e 28 de novembro

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