Crônica

Crônica da Cidade: Andei pela W3. E não é que me encantei?

Uma caminhada a pé pode nos apresentar a ângulos inusitados de uma avenida como a W3 Sul

Ana Dubeux
postado em 25/10/2021 13:58 / atualizado em 25/10/2021 17:04
 (crédito: Ana Dubeux/CB/D.A Press)
(crédito: Ana Dubeux/CB/D.A Press)

O abandono de alguns espaços de Brasília agride nossos olhos com frequência. Mas, para quem caminha como eu, não é raro bater de frente com o belo que vai além do verde e das formas, ora retas, ora sinuosas, dos grandes artistas que criaram Brasília. Aconteceu de novo comigo, e fiquei surpresa.


Decidi caminhar da 516 Sul até o Setor Comercial Sul, no último sábado. Sim, faço caminhadas longas, uma forma de manter mente e corpo alertas e em movimento. Meus olhos de repórter esperavam aquele velho cenário de uma W3 semimorta, lotada de espaços vazios, fechados, longe daqueles áureos tempos em que foi a grande avenida comercial de Brasília. Aqui por dentro, entoava a cantilena resistente do velho discurso de revitalização que nunca saiu do papel.


Mas, devo confessar, vi lampejos bem interessantes, que podem indicar, por que não, novos tempos. Quadra por quadra, passo a passo, aqui e ali enxerguei além da decadência. Tradicionais lojas em reforma, a resistência dos antigos Pioneira da Borracha e o restaurante Roma. Vi lojas novas em espaços gigantes como a Casa de Carnes Sobradinho. Vi calçadas sendo consertadas. 

W3, DF
W3, DF (foto: CB/D.A Press )


Mais do que tudo, enxerguei a beleza das intervenções artísticas. Painéis lindos com as figuras de Oscar Niemeyer, Burle Marx, Marianne Peretti, Juscelino Kubitschek e Lucio Costa, que terá seu acervo, infelizmente, transferido para Portugal. Vi pontos de ônibus pintados, grafitados. E vi, também, novos espaços de novos negócios, com jeito diferente de se mostrar e se abrigar. Coworking e um centro criativo, o beco da 506 Sul, iniciativa dos empreendedores abraçada também pelo governo.


Não posso dizer que, desta vez, vai dar certo ou que, de fato, a W3 será revitalizada com o cuidado e o investimento que merece. Mas posso afirmar que, para quem olha de perto, parece que tem um movimento bonito nascendo, de reocupação e reinvenção, do brasiliense para ele mesmo, além de governos e governantes — e digo isso sem querer ser injusta com nenhuma das iniciativas anteriores, mas sabendo que só o brasiliense vai ter, de fato, o talento e a oportunidade para mudar aquilo tudo ali em conjunto com investimentos públicos.


A caminhada foi boa que só. A W3 sempre teve cantinhos interessantes, negócios indiferentes e inusitados. Desta vez, bateu uma certa nostalgia e, ao mesmo tempo, uma esperança de ver aquilo com ainda mais vida num futuro próximo.


Olhar o novo já é bom. Olhar o velho e enxergar nele novidade é melhor ainda. Terminei a caminhada com as pernas sem reclamar e o coração pulsando sangue novo. Aconselho a todos uma volta pela avenida. Apoiar os novos negócios que estão nascendo e os antigos e resistentes que permanecem ali faz parte do nosso dever cidadão. Brasília só tem a ganhar. 

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