À QUEIMA-ROUPA

Correio Braziliense
postado em 11/11/2021 00:01

Você defende uma maior participação feminina na Ordem. Como é essa luta?

Após a iniciativa nossa aqui no DF, o sistema reagiu. Sob a escusa de que estariam avançando na pauta das mulheres, acabaram invertendo a natureza jurídica das contas. Mas limitaram a chamada paridade para 50% da participação feminina, quando na realidade a gente entende que se a gente for falar de democracia paritária a gente tem que falar de, no mínimo, 50% de mulheres e jamais limitar. Grupos como o nosso que já tinham consolidado essa maior participação da mulher na política acaba muitas vezes impedido de participar das eleições. No nosso caso isso não aconteceu porque tivemos apoio de muitos colegas advogados que se alinham com o que a gente defende, com nosso programa político, mas nós continuamos sendo um grupo majoritariamente feminino. A gente hoje tem um pedido de registro de chapa que tem 58% de mulheres.

Uma bandeira sua é a ampliação da participação das mulheres na vida pública?

Sim. É uma bandeira minha, uma bandeira nossa, da sociedade. A pandemia ainda trouxe isso de uma forma muito clara. As maiores lideranças políticas do mundo mulheres tiveram uma participação notável no enfrentamento a essa pandemia. Talvez porque a nossa forma de fazer política seja diferente. 

Por que você quer ser presidente da OAB-DF?

Eu entendi que havia necessidade estando no sistema, em 2015. Eu e minhas companheiras entendíamos que essa política eminentemente masculina não nos contemplava e eu me lembro quando a cota foi criada foi um escândalo. Diziam 'de onde vão tirar tanta mulher, mulher não quer...' E a gente sabe que tem muita gente que quer fazer política, principalmente uma política nova, uma política de resultados. Durante a pandemia, eu tive várias colegas advogadas que desistiram da carreira.

Por que desistiram?

A Ordem nunca teve uma política dirigida para as mulheres. A gente vem em franco crescimento. Éramos maioria nas universidades e agora somos maioria na profissão. Apesar de as mulheres virem ocupando mais espaços, a gente nunca teve um olhar efetivo da Ordem com as nossas demandas. Mulheres são vítimas diuturnas de assédio moral, assédio sexual — não que os companheiros homens também não sejam vítimas de assédio moral, mas no caso de assédio sexual os números falam por si. Só há proteção para a mulher advogada quando ela é mãe. Mas nem toda mulher quer ser mãe. E está tudo bem. As nossas questões vão para muito além da maternidade. Então, esse olhar reducionista... Eu acredito realmente que o apequenamento da instituição afeta o meu mister, afeta a minha profissão. Eu vejo na Ordem e é o que me motiva — o que toca meu coração — é o tamanho da ordem, a sua envergadura e especialmente com o que me comprometi quando peguei minha carteira. Todos nós fizemos um juramento.

Qual é o papel
institucional da OAB?

Por meio da ordem, até por determinação legal, a gente pode fazer valer tudo aquilo que a gente prometeu: zelar pela justiça social, pela boa aplicação das leis, defender a democracia. Eu quero ser presidente da Ordem, junto com esse grupo majoritariamente feminino, mas também com homens notáveis, para que a gente devolva a Ordem para essa envergadura que nos difere dos demais conselhos de classe e que a gente possa voltar a ser parceiros da sociedade civil para além desse olhar mais atencioso com a classe. 

Ou seja, muito além da defesa dos advogados?

Sim. Quero fazer um parêntese: toda vez que a gente fala a palavra política, as pessoas pensam em partidarismo, em direita e esquerda, ainda mais nessa polarização, e acabam confundindo a política com política partidária. Acabam confundindo a necessidade de se participar da vida política com o instrumento de se chegar lá. A Ordem precisa estar em todos os espaços. A Ordem precisa estar nos conselhos distritais. Não interessa à Ordem ficar batendo no governo, seja qual governo for. Entra com uma ação civil pública, entra com uma ação direta de inconstitucionalidade. Não. A gente vai fazer isso quando necessário for, mas a gente quer contribuir ao lado da sociedade com políticas públicas efetivas. A gente jurou defender esses votos. A Ordem é muito maior do que a defesa da classe. Não estamos falando de um CRM, não estamos falando de um conselho de contabilidade. A sociedade espera isso.

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