Um casal de namoradas dança de rostinho colado. O som vem de debaixo do viaduto, onde a banda toca sambas clássicos. Só param quando uma amiga chega e dá um abraço efusivo nelas, com a intensidade de quem, chuto dizer, não se veem há uns dois anos. Mesmo sob as máscaras, é possível ver o sorriso de felicidade pelo reencontro.
A poucos metros dali, uma criança de não mais de dois anos corre, em passos cambaleantes de quem acabou de aprender a andar, atrás das bolinhas de sabão que um grupo de meninas solta alegremente. As pessoas não param de chegar. Algumas vêm de bike; outras trazem o cachorro na coleira. Em comum, uma vontade urgente de curtir cada segundo, como se gritassem ao mundo: sobrevivemos.
Sob o viaduto, além da banda, barracas vendem comida, bebidas e artesanato. No gramado, pequenos grupos de amigos estendem a canga e improvisam um piquenique. Eu e minha família somos um deles. Saboreio um pastel — desses de rua, fritos na hora —, já de olho no acarajé que pretendo comer em seguida.
Sempre gostei de frequentar eventos ao ar livre, sou uma ferrenha defensora da ocupação das áreas urbanas. Afinal, mais que um lugar de passagem, para mim, a rua é um democrático espaço de encontros. E como eu estava com saudade desses encontros! Antes de todos nos fecharmos em casa, por causa da pandemia da covid-19, praticamente todos os fins de semana participava de algum deles. E, durante a eterna quarentena, foi uma das coisas das quais mais senti falta.
Com o avanço da vacinação e a queda na taxa de transmissão do novo coronavírus, aos poucos, os eventos começam a retornar. Confesso que ainda não me sinto totalmente segura, mas, com minhas inseparáveis máscara e garrafinha de álcool, tento vencer o medo e voltar à "normalidade" possível.
Este evento em que estive, ocorre todos os domingos no Setor Comercial Sul, mais precisamente na Galeria dos Estados. A Feira no Setor reúne artesanato, gastronomia e boa música. E o que é melhor: é aberta a todos, como manda uma boa ocupação urbana. Promovida pelo Instituto No Setor, uma plataforma de transformação do centro de Brasília por meio da ocupação e da ressignificação do espaço público, faz parte de um projeto mais amplo.
Antes da pandemia, algumas edições da feira já haviam ocorrido. Depois da pausa necessária, voltou, há cerca de um mês, com o objetivo de ajudar a fazer a economia local girar. Pessoas ligadas à cultura e à arte, dois dos setores mais prejudicados durante a crise sanitária, encontram ali um espaço para expor seus trabalhos e retornar ao mercado.
Enquanto observava as namoradas, a amiga e as crianças, sentia que o pastel, a cerveja e a música estavam com um sabor diferente. Traziam uma pitada de felicidade e de esperança!
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