Violência

Facções aterrorizam o DF

Guerra entre grupos criminosos marcam a capital do país com assassinatos e disputa por ponto de tráfico

Darcianne Diogo
postado em 16/11/2021 00:01
 (crédito: Alexandre de Paula/CB/D.A Press)
(crédito: Alexandre de Paula/CB/D.A Press)

Nascida há mais de 10 anos a partir da disputa de gangues, a maior facção do Distrito Federal, o Comboio do Cão (CDC), vem manchando as ruas da capital de sangue. Em nove dias, suspeitos de fazerem parte da organização criminosa participaram de, ao menos, dois casos de extrema violência: a morte de uma jovem, de 21 anos, em um motel de Taguatinga, e a tentativa de homicídio contra um sargento da Polícia Militar (PMDF) no Riacho Fundo 2. Com base em inquéritos policiais, processos e depoimentos de testemunhas sigilosas, o Correio Braziliense detalhou como funciona a estrutura da facção e como os membros se articulam para traficar drogas e assassinar adversários.

O início do Comboio do Cão, o CDC, ajuda a explicar o atual estado da organização. De dentro da Penitenciária do Distrito Federal 2 (PDF 2) no Complexo Penitenciário da Papuda, entre 2008 e 2009, três detentos, conhecidos como Rogério Peste, Marcão 121 e Marcelo Lacraia, decidiram fundar a facção. No começo, a maioria dos membros era de dentro da cadeia, mas, à medida que ganharam a liberdade, as diretrizes foram destinadas a outras pessoas. Entre os nomes estão: Fabiano Sabino, vulgo FB, preso desde 2017, e Willian Peres Rodrigues, o Wilinha, que estava foragido desde 2019 e foi capturado em Paranhos (MS) no final de abril. Com a dupla encarcerada, outro criminoso assumiu o posto e está na mira da polícia.

Desde o surgimento, a base da facção opera em pontos estratégicos no Riacho Fundo 2, como em bares e em casas de criminosos. São nesses locais que os integrantes armazenam as armas e drogas que vêm de outros estados e do Paraguai. Boa parte dos armamentos são Glock .9mm e .40. Algumas vêm com um marcador de chassi com as letras "FB", referindo-se a Fabiano. Em um dos depoimentos cruciais para a investigação, uma testemunha revelou, ao menos, cinco locais diferentes onde os faccionados escondiam os ilícitos. Segundo o delegado-titular da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Decor), Adriano Valente, a polícia mapeia pontos para desarticular e impedir a instalação do grupo. "Eles também ficam em regiões como Samambaia, Recanto das Emas e Planaltina. Seguimos com o monitoramento ininterrupto sobre essa e outras facções", frisa.

Separação

A disputa por pontos de tráfico de drogas resultou em inúmeros assassinatos. No DF, o CDC é investigado em, pelo menos, 500 ocorrências e 30 homicídios. As ações da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) impediram o crescimento do grupo, como foi o caso da operação Rosário, deflagrada em agosto de 2019, em que 46 integrantes foram presos por tráfico de drogas, homicídios, lavagem de dinheiro, entre outros crimes.

Junto ao Comboio do Cão, outras gangues dominavam algumas regiões do DF, como no Gama, Santa Maria e Entorno. Entre os grupos estão o Grupo do Galba, a facção Faixa de Gaza, os Irmãos Metralha, a organização criminosa da Quadra "50" do Gama, além dos traficantes independente. Até 2013, essas quadrilhas não tinham rivalidades entre si e até chegavam a se apoiar na criminalidade. A ruptura veio depois da prisão de Bruno Soares Leite, o Leitão. Ele era ligado ao grupo Irmãos Periquitos, comandado por Edson Marques da Silva e Francisco de Assis Marques da Silva e contava com outros aliados: Fabiano Soares, o Pepita; Helio Alves, o Helinho, Maicon Nascimento, Victor Wagner e os Meninos da Quadra "50" do Gama. Todos rivais do CDC.

Para se livrar da cadeia, Francisco de Assis entregou à polícia a localização do hotel onde Bruno Leitão, o comparsa, armazenava drogas e armas: uma regra quebrada na "conduta do crime", geralmente punida com morte. Quando traficantes locais souberam do ato, decidiram se vingar e matar o irmão de Assis, o Edson. No entanto, Edson, tomando conhecimento do risco de morte, agiu primeiro e assassinou Ferro Velho em setembro de 2013, às 9h30. Em uma guerra sem fim, membros do Comboio do Cão se articularam e mataram Gilson Ramos de Queiros, em forma de "resposta" ao crime cometido pelos Irmãos Periquitos.

Edson de Assis chegou a ir ao Rio de Janeiro em 2011 para firmar sociedade de negócio Antônio Francisco Bomfim Lopes, o Nem da Rocinha, traficante preso e ex-chefe do tráfico da Favela da Rocinha pela facção Amigos dos Amigos (A.D.A). Na lista de inimigos, estava FB, o chefe do Comboio do Cão, que deixou o DF.

Depois da saída dos Irmãos Periquitos da capital, o ponto de tensão retornou. Dessa vez, a guerra do Comboio era com a turma de Pepita, comandada por Fabiano Soares. Abelha, Fabiano FB, Wilinha e outro membro do CDC foram até o Setor Leste do Gama e mataram Pepita. Outro rapaz que estava com ele também morreu. "A diferença entre o PCC e Comboio é que o PCC é mais ostensivo e as regras são conhecidas. No caso do Comboio, essas normas são ocultas. Temos desencadeado grandes operações na intenção de desarticular esses grupos e temos tido sucesso", finalizou o delegado Adriano Valente.

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