Crônica da cidade

Correio Braziliense
postado em 19/11/2021 16:42
 (crédito: Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

Boa sorte, jovens!

 

Marcelo Agner

 

marceloagner.df@dabr.com.br

 

Sempre tive ressalvas ao gigantismo do Enem. Entendo o argumento de que uma prova nacional pode democratizar o acesso ao ensino superior. Mas o exame se transformou num evento de exageradas dimensões. As recentes polêmicas sobre a prova, numa luta ideológica em que até o presidente da República se envolveu — desnecessariamente, por sinal —, reforçam essa sensação. E também servem para aumentar a pressão sobre os candidatos. Mas a prova está aí, começa amanhã, e mobiliza milhões de pessoas.

Tenho simpatia especial pelo Programa de Avaliação Seriada, o PAS, uma ideia com a cara de Brasília. Restrita à UnB, a seleção dilui em três anos a carga sobre a juventude (enorme, por sinal) pelo acesso a uma instituição pública. A universidade apostou alto neste processo de seleção, bastante sério e difícil, que se consolidou, mostrando ser muito mais humano.

Mas essa curta análise sobre os sistemas de avaliação serve apenas como um bilhete para uma viagem ao passado. Especificamente, à época em que prestei o vestibular da UnB. Também era um tempo de megalomanias e exageradas cobranças à juventude. Em Brasília, nos anos 1980 e até meados da década de 1990, as provas eram em quatro dias. De terça à sexta-feira, numa incansável maratona.

Um grande evento, mas vejo, agora, como extremamente desnecessário. Do lado de fora do ICC — o conhecido Minhocão — milhares de candidatos. À espera deles, uma disputa entre cursinhos preparatórios e escolas. As imediações da UnB viravam um festival, com direito a pais ansiosos. Cresceu ali — não é uma invenção brasiliense — a mórbida e cruel torcida pelos atrasados. A desgraça de alguns virava a imagem mais esperada da cobertura. Até hoje é assim. Há quem comemore...

O vestibular era tão importante nessa época que a lista dos aprovados era divulgada nos jornais e nas rádios. Sim! Mais de mil nomes, lidos um a um pelos locutores. Soube que passei em jornalismo pela 105 FM (hoje Clube), em casa.

Neste domingo, algumas imagens como essas vão se repetir. Haverá atrasados e choro. E tudo vai correr as redes sociais instantaneamente. Mas algumas coisas não mudam. A principal delas é a constatação que nossa educação ainda precisa de mudanças profundas, de maior justiça social, de chances iguais para todos. No distante ano de 1985, quando entrei na UnB, havia abismos entre os jovens. Essas diferenças continuam e dificilmente serão vencidas num curto espaço de tempo: a educação não foi prioridade deste e dos muitos governos que se revezaram pelo país nas últimas décadas. O Enem, o vestibular e o PAS são um meio, nunca um fim. Por isso, jovem, boa sorte, e nunca desista de estudar!

 

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