Com a alma cheia de cerrado

José Carlos Vieira
postado em 23/11/2021 00:01
 (crédito: Gilberto Alves/ENCDF/D.A Press)
(crédito: Gilberto Alves/ENCDF/D.A Press)

"Amar se aprende amando"... Como Carlos Drummond de Andrade é simples e genial! Uma das lições dessa pandemia que me tirou do eixo emocional, foi a importância das pequenas coisas, dos pequenos atos e gestos. Agradecer cada dia sobre a terra. Dei até para meditar... Logo eu, agitado como um punk no palco.

Minhas caminhadas de agora são perfumadas. Busco perceber as nuances das flores e plantas da capital. Os ipês, os pés de mangas, os flamboyants... As alamedas das entrequadras depois da chuva fina... O roquenrou dos pássaros... Mas a árvore com quem mais converso é um pé de pequi no Parque da Cidade, um, especificamente. Quando passo por ele, saco meu celular e fotografo. Click! Desde agosto acompanho suas fases, a secura, o verde marrom de suas folhas, os primeiros banhos de chuva e, recentemente, a floração, que amarela com suavidade os galhos tortos...

Confesso, não entendia as plantas do cerrado, mesmo fã do poeta Nicolas Behr. Mas esse pé de pequi, me pegou de jeito por sua elegância e resiliência. No meio de tantas plantas exóticas — o pessoal do governo adorava plantas de outras regiões — o pequi reina bem próximo do caminho de asfalto do parque.

O playboy passa ao lado dele e nem olha para o lado. A menina do crossfit, o servidor público de folga, o jogador de futevôlei, a criança de patins... Ninguém... Mas o pé de pequi está lá, com seus frutos amarelados feito ouro, sabores e espinhos.

Comentei com um amigo no jornal, morador na Chapada dos Veadeiros, sobre essa exuberância torta da flora cerratense e fui presenteado por ele, com castanhas de cajuzinho do cerrado. Plantei, reguei e elas vingaram... Eu me senti o "joão pé de feijão"!

No próximo ano terei cajuzinho para beber com uma cachaça da Serra da Canastra. Dois mil e vinte e dois é logo ali, ano de eleições. Se candidato for, minha plataforma será cajuzinho do cerrado e pequi no Parque da Cidade, além de pêra-do-campo, cagaita, mama-cadela, baru, araticum, buriti, mangaba e colorir aquela grama com canela-de-ema, chuveirinho, caliandra... Não te falei, caro leitor, "amar se aprende amando".

 

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