OBITUÁRIO /

José Roberto Barreto Filho, cardiologista

Médico será lembrado pela vocação de cuidar de pessoas e deixa um legado de avanços tecnológicos na área em que atuava, além de ser um dos responsáveis por trazer o jiu-jitsu ao DF

Talita de Souza
postado em 24/11/2021 00:01
 (crédito: Facebook/Reprodução)
(crédito: Facebook/Reprodução)

O Distrito Federal perdeu um dos grandes nomes da medicina cardiológica. O médico José Roberto Barreto Filho faleceu, ontem, aos 63 anos. Ele não resistiu a complicações de um câncer no pâncreas. O sepultamento ocorreu ontem, no Cemitério Campo da Esperança. O especialista deixa um legado de avanços tecnológicos na área em que atuava, além de ser um dos principais responsáveis por trazer o jiu-jitsu para a capital.

Natural do Rio de Janeiro, José Roberto Barreto Filho veio a Brasília em 1978 estudar medicina na Universidade de Brasília (UnB). Em 1984, ele decidiu que a capital federal seria o local da atuação de excelência que ele estava disposto a entregar para salvar vidas. Logo após se especializar em cardiologia, entre 1985 e 1986, o médico não parou de estudar para trazer o melhor para a área que escolheu.

Foram oito cursos de aperfeiçoamento, entre universidades brasileiras e estrangeiras; mais uma especialização, agora em eletrofisiologia; e mais de 80 congressos e cursos na área registrados no currículo do especialista. A excelência profissional foi premiada com a Medalha de Honra ao Mérito da Presidência da República, por meio da Secretaria Especial da Ciência e Tecnologia, em 1989.

Em 2021, José Roberto Barreto era, além de médico particular com consultório no Victória Medical Center, presidia o Centro de Tratamento Cardiovascular (CTVC), do Hospital Brasília. Na instituição, ele liderava uma equipe que aliava atendimento de emergência e estudo para criar avanços científicos. Uma das inovações lideradas pelo médico foi a realização pioneira em Brasília de um implante de válvula aórtica por cateter.

Na época, Barreto afirmou que o procedimento evitava a necessidade da cirurgia aberta e aumentava as chances de salvar pacientes com doença vascular . Com a possibilidade de condução do implante por via percutânea, que é minimamente invasiva, mesmo aqueles que não podem enfrentar uma cirurgia aberta são candidatos ao procedimento, comentou, na época, ao site do CTVC.

Cuidar e ensinar

Para familiares e amigos, a vocação de Roberto era cuidar de pessoas, seja profissionalmente, seja no círculo de amizades ou entre entes queridos. O ator Jorge Pontual, primo de José Roberto, revelou que o médico foi, para ele, amigo, irmão, conselheiro e o profissional que cuidou do pai dele.

"Meu primo (na verdade, meu irmão) foi meu herói! Uma pessoa de sorriso fácil, campeão de jiu-jitsu, parceiro, conselheiro, amigo…. Morei um tempo com ele e meus primos e tios em Brasília. Era um grande médico; eu sempre pedia conselhos, ele cuidava da família, cuidou do meu pai…", disse Pontual em uma homenagem feita em uma rede social.

O ator afirmou, também, que os dois passaram por momentos inesquecíveis e que o amor que sentia por José não pode ser colocado em palavras. "Quantas histórias, quanta coisa passamos juntos! Sem palavras pra dizer o quanto eu amava esse meu irmão querido! O que importa é que foi em paz para os braços do Senhor. Você sempre estará no meu coração. Estarei sempre emanando amor para que você possa estar fazendo a passagem da melhor forma", complementou.

Ralil Salomão, amigo há 40 anos de José Roberto, diz que teve o privilégio de compartilhar a vida com o médico. "Zé foi mais que um irmão de sangue pra mim. Foi uma pessoa que veio à Terra só para fazer o bem, alegrar e salvar vidas. Nesse último ano, eu tive o privilégio de estar ao lado dele praticamente todos os dias e foi um presente que ganhei de Deus, porque ele me ensinou até o último momento na resiliência, no amor à vida e o amor ao próximo. Agradeço a Deus o privilégio de ter o conhecido e desfrutar da sua amizade por mais de 40 anos", declarou emocionado.

A gentileza, a hombridade e o cuidado também eram passados por José de outra forma: pelo ensino e pela prática do jiu-jitsu. O médico foi o responsável por difundir a prática da arte marcial no Distrito Federal, logo após chegar na cidade, em 1984. Acompanhado do tio, mestre Sérgio Barreto, eles começaram a ensinar a luta para a guarda presidencial da época e também para membros da Polícia Federal.

Aos poucos, José começou a expandir as aulas para alguns amigos, na garagem de casa, aos sábados. "Eram pessoas previamente selecionadas, o que significava que, para aprender os conhecimento técnicos do jiu-jitsu, o praticante deveria ter uma reputação ilibada e um caráter digno de possuir tais conhecimentos", diz um trecho da biografia do Centro de Treinamento Barreto, instituição criada pela família anos depois e em atividade até hoje na 507 Sul. A preocupação, de acordo com o Centro, era a integral formação do atleta.

Com esse objetivo, José formou diversos professores do DF e foi responsável pela criação indireta de alguns centros sociais que oferecem aulas gratuitas para crianças e adolescentes de baixa renda como uma forma de ajudá-los a se livrar de possíveis rotas de tráfico de drogas ou outros crimes.

O anúncio da morte do mestre fez com que os atuais "faixas pretas" prestassem diversas homenagens a José. A primeira foi de um dos principais pupilos de José, o atual principal professor do Centro de Treinamento Barreto, o mestre Roberto Macedo, que cancelou o funcionamento da casa nesta terça em razão da morte do médico.

"Nosso mestre foi, certamente, um dos grandes responsáveis por tudo que sou hoje. Fez o bem a vida toda. Foi médico, professor, irmão e iluminado. Sigo vivo para manter viva sua memória e sua trajetória como fazedor implacável do bem", disse.

A campeã mundial de kickboxing e tetracampeã mundial de caratê Carla Ribeiro, que era amiga pessoal de José, disse que o médico cuidava dos coração das pessoas porque ele era "de um grande coração". "Meu querido amigo passou da morte para a vida. Ele não se escravizou pelo diagnóstico do câncer, ao contrário, continuou lutando, vivendo, e, claro, amando porque para ele amar era o mais importante da vida", frisou.

 

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