Em meio a tantas notícias ruins, retorno das férias e recebo uma novidade alentadora: a Dad voltou. E voltou com a corda toda. Aproveitou o período de confinamento compulsório da pandemia para cuidar da saúde e para realizar projetos. Ao longo de décadas, ela contribuiu para alfabetizar, desasnar e lapidar várias gerações de brasilienses no trato com a língua portuguesa.
Se tínhamos alguma dúvida insanável na redação, ligávamos para a Dad, e ela resolvia sempre da maneira mais gentil. Dad é elegante no vestir, no escrever e no viver. Ensinar é um dom que ela exerce com toda a generosidade.
Certa vez, ela passou por uma blitz do Detran, um policial a identificou, entabulou uma consulta sobre dúvidas gramaticais pra lá de Marrakech que provocou um terrível engarrafamento de trânsito. Em outra ocasião, uma excelência flagrada em agressão à norma culta ficou brava e chamou Dad de arrogante. Só faltou alegar ter foro privilegiado. A pendência gramatical quase foi parar no STF. Dad permaneceu inarredável no senso de humor.
Durante anos a fio, editei as colunas da Dad e, confesso, sentia uma ponta de alegria quando encontrava um erro, pois, na minha cabeça, ela era infalível. Mas Dad sorria e não tinha nenhuma dificuldade em admitir que também comete deslizes e desatenções. O erro a humaniza.
Inventei uma teoria sobre a cabeleira desagulhada da Dad, uma de suas marcas registradas. Sempre imaginei que ela tinha os cabelos arrepiados de tanto se espantar com as declinações capengas, as regências verbais estropiadas, as vírgulas indevidas, as incorreções de grafia, os cacófatos e outros equívocos crassos que lê ou ouve. A cada erro, o cabelo dela foi se espetando até forjar o estilo Dad de madeixas rebeldes, tão original e que lhe cai tão bem.
As colunas que Dad Squarisi publica no Correio são minicursos inteligentes, ilustrados, bem-humorados e leves. Você aprende e se diverte. Não há método pedagógico mais eficiente. Todavia, a gente só conhece mesmo uma pessoa de verdade em uma situação extrema, em uma situação-limite. Além dos ensinamentos sobre a língua portuguesa, a maior lição que Dad nos deu foi de vida.
Ao se deparar com doença traiçoeira, Dad se abalou, mas jamais se entregou. Enfrentou tudo com uma coragem, uma serenidade, uma humildade e uma dignidade comovedoras. A doença não a impediu de viver plenamente a vida e de exercer a vocação com prazer. Ela tem algo de oriental na busca da essencialidade de todas experiências. A fé de Dad é capaz de mover montanhas de empecilhos.
Durante o confinamento imposto pela pandemia, ela escreveu o livro Maravilhas de Brasília, que subverte completamente a imagem da capital estigmatizada pelas bandalheiras da classe política. Com leveza, imaginação e humor, ela mostra facetas pouco conhecidas dos forasteiros: o cerrado, o céu, a arquitetura, o Plano Piloto, o paisagismo e os brasilienses. É um presente para todos nós a volta de Dad.
PS: Ela autografa o livro Maravilhas de Brasília, hoje, na Livraria da Travessa (Casapark) e, no dia 5, na Banca da Conceição.
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