TRÂNSITO

Morto por motorista bêbado

Condutor do veículo estava na contramão quando atingiu Fábio Freire Pontes, 38 anos. O autor do acidente ocorrido em Taguatinga foi preso após apresentar índice de alcoolemia de 0,57mg/l, porém foi solto após audiência mediante o uso de tornozeleira eletrônica

EDIS HENRIQUE PERES; SAMARA SCHWINGEL; CIBELE MOREIRA
postado em 30/11/2021 00:01 / atualizado em 30/11/2021 09:21
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

Um motociclista morreu após ser atingido por um veículo na contramão, no Setor C Sul, em Taguatinga, no último domingo. De acordo com o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), o condutor, Yuri de Jesus Zerbini, 23 anos, estava alcoolizado no momento do acidente, com índice de alcoolemia em 0,57mg/l — volume acima do limite para ser considerado crime, de 0,33 mm/l. Yuri foi preso em flagrante e autuado por embriaguez ao volante e homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar. Na manhã de ontem, ele passou por audiência de custódia e foi solto sob monitoramento por tornozeleira eletrônica.

A vítima, o frentista Fábio Freire Pontes, 38 anos, passava próximo às obras do novo túnel de Taguatinga quando foi atingido pelo veículo conduzido por Yuri Zerbini. Fábio não resistiu aos ferimentos e morreu no local do acidente. Após o ocorrido, o motorista se queixou de dores nas costelas e precisou ser levado para o Hospital Regional de Ceilândia. Descartadas possíveis lesões, o condutor embriagado foi encaminhado para a 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro).

De acordo com a Polícia Civil do DF (PCDF), o motorista não tem antecedentes criminais. Na audiência de custódia, o magistrado autorizou Yuri a responder o processo em liberdade, porém com o uso de tornozeleira eletrônica, além de cumprir diversas medidas cautelares. O caso segue em segredo de Justiça. O Correio tentou localizar a defesa de Yuri, mas não conseguiu contato. O espaço segue aberto para um posicionamento.

Homenagem

Fábio Freire Pontes deixa a esposa e dois filhos — um menino de 6 anos e uma menina de nove meses. A vítima estava indo para o posto São Roque, localizado no SOF Norte, onde trabalhava como frentista, quando foi atingida pelo veículo na contramão. Murillo Muniz, 25 anos, morador de Planaltina e colega de trabalho de Fábio, detalha como recebeu a notícia da morte do amigo. "Quando a esposa dele me ligou, eu imaginei que ela diria que ele estava no hospital. Mas ela me contou que ele não resistiu". Murillo destaca que Fábio era prestativo e empenhado em ajudar os colegas. "Quando alguém tinha algum prejuízo, ele era o primeiro a propor alguma vaquinha. Ele era disposto a ajudar as pessoas, era um cara que sempre teve um coração imenso", pontua.

"Ele era muito leal. A gente se conhecia desde 2005. Éramos amigos de futebol, da adolescência. Estudamos juntos. Era trabalhador e pai de família. Amigo de todas as horas, quando a gente precisava ele sempre estava do nosso lado", conta Filipe Lenon, 32 anos, vigilante e morador de Ceilândia. "Foi um susto. Começamos a receber a notícia de manhã cedo. Desde então, estamos tentando ajudar a esposa, que ficou praticamente sozinha com os filhos, mas é difícil", relata.

A esposa de Fábio vendia doces para ajudar na renda, mas a maior parte do sustento para a casa, localizada em Taguatinga, vinha do frentista. Para Filipe, o homem acusado de matar o amigo não deveria ser solto. "Foi um crime, não foi um acidente. E vamos lutar por justiça, para que ele responda pelo que fez. Ele assumiu o risco de matar alguém e foi o que, infelizmente, aconteceu", desabafa Filipe. Uma faixa feita pelos amigos deve ser estendida no local do ocorrido e no túmulo do frentista. "É uma lembrança, para não pararmos de lutar", completa o amigo da vítima.

Fábio foi enterrado, ontem,no Cemitério Campo da Esperança, em Taguatinga. Cerca de 200 pessoas, entre familiares e amigos, aproveitaram para se despedir do frentista com camisetas e faixas em homenagem ao motociclista. A mãe e os irmãos ficaram o tempo todo ao lado do corpo. O pai não conseguiu ir, pois estava muito abalado.

Tolerância zero

Dirigir sob influência de bebida alcoólica ou de qualquer outra substância psicoativa é extremamente proibido no Brasil desde 2008, quando a Lei Seca passou a vigorar em todo o território nacional. De acordo com o código de trânsito, condutores de veículos automotores pegos conduzindo com índices de alcoolemia a 0,05mg/L são autuados por infração gravíssima, com multa de R$ 2.934,70 e suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) por 12 meses. Nos casos em que a concentração de álcool por ar alveolar atesta valores igual ou superior a 0,34mg/L, é considerado crime e o motorista responde por homicídio doloso.

No último fim de semana, 202 condutores foram autuados por dirigirem após ingerir bebida alcoólica no DF, durante operação conjunta do Detran, do Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER), da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Segundo levantamento do Detran, o ano de 2021 registrou um aumento de 26,3% nas autuações por alcoolemia. De acordo com a autarquia, neste ano, entre janeiro e outubro, foram 21.796 flagrantes de condutores dirigindo sob efeito de álcool, contra 17.247 ocorrências contabilizadas no mesmo período de 2020.

Por outro lado, houve uma redução nas mortes ocasionadas por motoristas bêbados — 188 vítimas no ano passado contra 141 este ano. Para o coordenador de Policiamento e Fiscalização do Detran, Luiz Carlos Souto, a queda nos óbitos é positiva, mas ainda não é motivo para se comemorar. "Ainda temos muito que melhorar. O nosso objetivo é chegar a um dia em que não precise multar ninguém e não tenha mais mortes ocasionadas por alcoolemia. É preciso que a população se conscientize. Temos vários meios de transporte alternativo, como táxis ou por aplicativo; não tem justificativa", aponta o coordenador. Para esse período de fim de ano, o Detran irá intensificar as fiscalizações com blitze em vários pontos do Distrito Federal em horários diurnos e noturnos.

 

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