Entrevista | Coronel Márcio Cavalcante Vasconcelos, comandante-geral da PMDF

De olho na legalidade

Comandante avaliou corporação durante manifestações do 7 de Setembro e rebateu a afirmação de que a PMDF é bolsonarista. Coronel afirmou que debate sobre feminicídios aumentou, dando a impressão de mais ocorrências

Ana Isabel Mansur
postado em 30/11/2021 00:01

À frente da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) desde abril, o coronel Márcio Cavalcante Vasconcelos, comandante-geral da corporação, foi o convidado do CB.Poder de ontem. Em conversa com a jornalista Ana Maria Campos, ele analisou o papel da PMDF durante as manifestações do 7 de Setembro, cuja atuação, segundo o coronel, teria sido "emblemática." O comandante afirmou ao programa, uma parceria do Correio com a TV Brasília, que jamais poderia dizer que a PMDF é bolsonarista, nem ligada a qualquer outro político, já que é uma instituição pública formada por pessoas, "que têm as suas convicções políticas independentemente da farda que vestem."

Para o coronel, a discussão acerca da violência contra a mulher cresceu nos últimos anos, o que dá a impressão de que os feminicídios também aumentaram, quando, na verdade, diminuíram. Dados da Secretaria de Segurança Pública do DF apontam que houve queda nesse tipo de crime de 2019 (33) para 2020 (17), mas os números de janeiro a setembro de 2021 já se igualam aos do ano passado inteiro. Houve crescimento nos valores de 2017 (18) para 2018 (28). Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

A PMDF deu uma demonstração importante durante o 7 de Setembro. Como foi a experiência?

Tomei posse em 5 de abril e talvez o 7 de Setembro tenha sido a situação mais emblemática e simbólica desde então. Vínhamos construindo um diálogo de como seria a dinâmica no dia, com o comando das manifestações, levadas a efeito por redes sociais e polarizadas. Acabamos tendo, na véspera, uma tentativa de descumprir o acordo feito com as lideranças, que culminou na invasão parcial (da Esplanada, por caminhoneiros bolsonaristas). Se não tivéssemos feito as barreiras de contenção até a altura do Itamaraty, a consequência poderia ter sido diferente.

Foi a maior manifestação da história de Brasília?

Não. Tivemos a ocupação na vitória do Brasil na Copa do Mundo (o pentacampeonato de 2002) e a posse do presidente Lula, uma manifestação que reuniu muita gente. No 7 de Setembro, foram aproximadamente de 420 mil a 500 mil pessoas na Esplanada. As manifestações populares têm acontecido de maneira muito reiterada, mas, com o volume de público do 7 de Setembro, tinha tempo que não acontecia.

A PMDF é bolsonarista?

Não. Somos uma polícia militar formada por pessoas, e as pessoas têm as suas convicções políticas, independentemente da farda que vestem. Somos uma polícia de Estado, que representa os valores de uma instituição pública. A PM sempre vai se pautar, como tem pautado, pela legalidade e respeito ao cidadão, independente do momento político, do partido ou movimento no poder, seja de esquerda ou direita, vamos sempre respeitar o direito de manifestar, que é constitucional.

Como está o policiamento? As pessoas podem se sentir seguras no DF?

Essa é a nossa atividade fim. O DF é, hoje, uma unidade da Federação exemplo para o país. Se pegarmos os dados dos últimos quatro ou cinco anos, estamos no melhor momento da segurança pública no DF. Há 30 anos, a população era cerca de oito vezes menor que a de hoje, e tínhamos um efetivo policial muito maior do que o atual — a PMDF tem cerca de 10 mil policiais hoje. Ainda assim, nossos números são excepcionais. Estamos caminhando para o melhor mês de novembro da história do DF em relação a crimes violentos letais intencionais.

Mas temos a impressão de que os casos de feminicídio aumentaram.

Houve diminuição. O assunto antes era ignorado e veio à tona. Hoje a violência contra a mulher, com a Lei Maria da Penha, tem sido reverberada de maneira mais forte. Temos um programa de prevenção contra a violência doméstica que é exemplo para o país, o Provid (Policiamento de Prevenção Orientado à Violência Doméstica, feito desde 2015). Há também o Mulher Mais Segura (projeto da Secretaria de Segurança Pública do DF em ação desde março deste ano); a Câmara Técnica de Monitoramento de Homicídios e Feminicídios; e a DNPP (Diretoria de Monitoramento de Proteção de Pessoas). Em parceria com a Vara de Execução Penal, a Secretaria da Mulher, e a SSP-DF, estamos monitorando a mulher, não apenas o apenado, com tornozeleira eletrônica. A vítima tem um dispositivo, com monitoramento 24 horas. Quando os dois aparelhos com campos de exclusão monitorados e georreferenciados se aproximam, é disparado um alerta no sistema e um protocolo se inicia, desde o sinal para a tornozeleira para que o apenado se afaste, um SMS para a mulher e até ligações e, como última ação, o envio de uma viatura policial, em parceira com o 190.

A PMDF não é tida como uma polícia violenta, como é em outros estados. Isso é um mérito grande da corporação?

Temos como visão institucional, no planejamento estratégico, ser uma polícia cidadã, que cumpre a lei, garante os direitos fundamentais previstos na constituição e respeita a dignidade da pessoa humana.

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