ENTREVISTA

Aterro sanitário de Brasília precisou ser ampliado devido ao descarte irregular

Declaração do presidente do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) ao programa CB.Poder chama a atenção para a urgência da adoção de ações que orientem os brasilienses quanto ao descarte adequado de resíduos

De acordo com o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), o Distrito Federal descarta no aterro sanitário 2,5 mil toneladas de resíduos diariamente. No entanto, desse montante, 500 toneladas são de materiais que poderiam ser reciclados e não recebem a destinação correta. Devido a esse quadro, o presidente da empresa, Silvio de Morais Vieira, alerta para a necessidade de conscientização dos moradores. "Precisamos entender que, se o descarte é incorreto, o material vai parar no aterro sanitário. O resíduo reciclável, por exemplo, poderia ser usado para alimentar as famílias dos catadores e das cooperativas que vivem disso", afirma. Silvio foi entrevistado dessa segunda-feira (23/11) pelo jornalista Lucas Móbille, no programa CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília.

Os moradores reclamam muito de lixo descartado em área pública. Como o SLU fiscaliza essas situações?

É um assunto que merece muita atenção do Governo do Distrito Federal (GDF). O governador (Ibaneis Rocha) tem dito que vamos trabalhar em cima disso. É uma questão de educação ambiental. São ao todo 2,5 mil toneladas de resíduo/dia encaminhado para o aterro sanitário, sendo que destas, 500 mil toneladas são de material reciclável. É um absurdo, a população tem que entender que se descartar incorretamente o material vai chegar ao aterro. E seria um produto que poderia estar servindo para alimentar as famílias dos catadores ou as cooperativas que vivem e dependem desses materiais. Além disso, há outros materiais como entulhos que têm sido jogados nas ruas e áreas verdes, que é um problema que o SLU tem enfrentado e precisa resolver. Hoje, contamos com o poder de constatação, ou seja, podemos constatar o ato indevido e incorreto e fazer uma notificação que será encaminhada ao DF Legal (Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística) para aplicação da multa. O importante, cada vez mais, é a consciência do cidadão na hora de fazer o encaminhamento do resíduo.

Algumas regiões, no entanto, não possuem coleta seletiva. Quais as alternativas para os moradores desses locais?

Hoje não existe motivo nenhum para um cidadão fazer encaminhamento ou descarte irregular. Atualmente, temos cerca de 300 papa lixos instalados, que são equipamentos semienterrados onde a pessoa pode descartar o resíduo que vai para o aterro sanitário. Até o ano que vem, pretendemos chegar a 450 papa lixo em todo o DF. Também temos o papa entulho, que é um equipamentos que tem 1.000 m², onde o cidadão pode levar seu resto de obra, sua poda de árvore e seu óleo de cozinha velho que ele não utiliza mais. Hoje, temos 12 na nossa cidade e já estamos com uma licitação pronta e em execução. Até janeiro a nossa ideia é estar com mais 11 papa entulho prontos. E temos 13 mil lixeirinhas espalhadas em toda a cidade. Até o fim do nosso governo, queremos chegar a 21 mil. Ou seja, nada justifica a cidade ter sujões.

Algumas pessoas ainda não conhecem esses serviços oferecidos pelo SLU. Como vocês trabalham para divulgar isso para a população?

Temos feito, a cada 15 dias, uma mobilização dentro do SLU, onde cerca de 60 pessoas vão a uma região administrativa, junto com o pessoal da regional, e fazem um grande arrastão pelas ruas orientando, conversando e explicando como fazer o descarte correto aos moradores. Já fomos no Gama, Cruzeiro, Sudoeste e Guará e pretendemos visitar outras unidades. Também pedimos que as pessoas baixem o aplicativo SLU Coleta DF, que é super interessante. Além da educação ambiental, ele explica o que pode ser descartado, como se encaminhar o material reciclado e como realizar a separação. Uma das grandes dificuldades é nessa parte da separação dentro de casa. O aplicativo também fala o dia que o caminhão vai passar no endereço para a coleta seletiva e a convencional. É super prático e fácil de usar.

Em relação a começar dentro de casa na separação do lixo, o SLU tem alguma iniciativa pensada para as crianças?

Sim, estamos com alguns projetos pilotos. Estamos em contato com a Secretaria de Educação e já conversei com a (secretária) Hélvia (Paranaguá). A iniciativa é um aplicativo que queremos em breve disponibilizar para as crianças, para ver qual será o resultado, principalmente porque a criança costuma dar aquele puxão de orelha no pai.

Outra iniciativa é o Cartão Verde, certo? Como ele funciona?

O Cartão Verde foi uma ideia excepcional porque o cidadão pode ganhar o cartão vermelho, verde ou amarelo, como no jogo de futebol. Dessa forma, acontece uma educação ambiental feita pelo SLU. Nos prédios e condomínios, explicamos como se deve fazer o descarte e a separação correta dos resíduos, com isso, após algum tempo, o nosso gari avalia se o descarte no local está acontecendo de forma correta. Se estiver errado, o gari dará o cartão vermelho no contêiner. Com isso, o síndico se torna muito importante no processo porque começa a cobrar os moradores. O interessante é que caso o condomínio adote as medidas corretamente, ele recebe um selo verde, com um certificado, como um incentivo pela medida.

Como esse descarte incorreto afeta o aterro sanitário?

Essa questão é muito séria. Tivemos que licitar uma terceira e quarta etapa do aterro sanitário, ou seja, ampliar o aterro, porque não estava cabendo mais. É inadmissível que o cidadão continue mandando, no dia da coleta seletiva, o material reciclável. Ele precisa fazer a coleta correta, colocar no dia certo.