Economia

Saiba como usar o 13º salário para quitar dívidas e começar o ano no azul

No Distrito Federal, um terço da população está endividada. Segundo especialistas, o salário extra pode ajudar quem se encontra inadimplente a iniciar o ano com o nome limpo ou diminuir o montante devido

O Distrito Federal soma mais de 1,1 milhão de pessoas em situação de inadimplência, ou seja, com contas e dívidas em aberto. Juntos, os valores devidos por esses brasilienses somam R$ 6,5 bilhões, com uma média de R$ 5.925 por pessoa. Para quem esteve ou ainda está nessa situação, sair dela requer planejamento econômico. Especialistas acreditam que o 13º salário, a ser recebido, agora, no fim de ano, pode ser um meio de iniciar uma negociação das dívidas e dão dicas para quem quer sair do vermelho. Segundo eles, a regra é que 30% seja destinado ao aluguel e 30%, a prestações em aberto.

Segundo os dados do Serasa, em outubro deste ano, os inadimplentes da capital federal acumulavam 5.029.053 dívidas em aberto. "Quando o consumidor não honra com os compromissos junto ao credor, à empresa ou a quem deveria receber, solicita-se que o nome do indivíduo entre no cadastro de inadimplência", explica Aline Sanchez, especialista da empresa. Segundo ela, o primeiro passo para sair da lista é buscar renegociação com o credor.

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Uma empresária de 57 anos, moradora do Lago Norte, que prefere não se identificar, afirma que a maior dificuldade, no momento, é com aluguel. "E contas que vão se acumulando. Sempre tem uma ou duas em atraso, por exemplo, água e luz", relata. Como dona do próprio negócio, ela ressalta que, com a pandemia de covid-19, os clientes diminuíram, logo, a renda também. O meio para amenizar a situação foi controlar os custos não essenciais. "A estratégia que estamos utilizando resolve em parte. São coisas como cortar os gastos extras, como shopping, compras, diversão, viagens. Enfim, gastar o dinheiro apenas com extremamente necessário", completa.

O economista e consultor independente Carlos Eduardo de Freitas salienta que, para quem está inadimplente, vale utilizar o 13º para tentar quitar as dívidas. "Depende dos valores, mas usar tudo é válido se for ajudar", diz. Tratando o 13º como um salário normal, o especialista enumera duas regras. "Até 30% do valor pode ser utilizado para o aluguel e mais 30% para arcar com prestações em aberto. O resto, é preciso analisar cada caso", completa.

Planejamento

Além das dívidas comuns, há os superendividados. São pessoas que somam de débitos mensais mais do que recebem como renda. Membro do Conselho Regional de Economia do DF, Newton Marques explica que quem se encaixa nessa condição precisa de apoio especializado. "É um vício em gastar que faz com que a conta não feche. Essas pessoas têm que se conscientizar e cortar gastos", frisa. Para isso, Newton defende que é preciso começar a fazer o caminho reverso. "Olhar com o que se gasta e avaliar, de forma consciente e se necessário com ajuda de outra pessoa, o que é essencial e o que pode ser cortado ou reduzido", detalha. Porém, Newton reforça que há casos e casos.

Uma servidora pública de 51 anos, que também prefere não se identificar, diz que a maioria das dívidas que tem são com bancos e cartões de crédito. A mulher conta que utilizou o 13º para sanar algumas contas vencidas, mas considera que não é possível utilizar o salário extra para limpar o nome. "Paguei algumas, mas muitas são de valores mais altos que não consegui negociar, na época", comenta. A fim de complementar a negociação, ela tomou algumas medidas. "Paguei um dos cartões a vista e o cancelei. Cancelei cheque especial. E tento ser menos consumista", revela.

Com objetivo de auxiliar pessoas que estão em débito no DF, o Serasa organiza, anualmente, o Feirão Limpa Nome, em que os inadimplentes podem entrar em contato com empresas parceiras do Serasa e negociar as dívidas com descontos de até 99%. Esse contato pode ser feito por meio das agências presencialmente, pelo site (www.serasa.com.br/limpa-nome-online/) ou pelo aplicativo do Serasa. Este ano, o feirão vai até 6 de dezembro.

 

Como sair do endividamento

"O primeiro passo tem a ver um pouco com este momento que estamos vivendo. A Black Friday e qualquer outra promoção não pode pressionar o consumidor a comprar. Ou seja, não caia na tentação. A partir desse ponto, podemos começar a pensar em usar o 13º, por exemplo, para começar a quitar as dívidas. Se eu tivesse que elencar as mais importantes, seriam três: pagar colégio — dívidas de educação são importantes, ainda mais neste período de rematrícula —, os cartões de crédito e o cheque especial, que sevem ser prioridade por causa dos juros altos. É preciso evitar ter dívidas e fugir das que têm juros altos, pois viram uma bola de neve. É válido avisar que parcelar não é prudente, porque, às vezes, a pessoa acha que cabe no bolso mais uma parcela, mas quem já está endividado não pode fazer isso, pois fica sem fôlego financeiro para emergências. Uma dica que vale para todos: não gastar mais do que recebe. Além disso, fazer um planejamento financeiro".

Riezo Almeida, economista e coordenador do curso de economia do Iesb

 

Refis da pandemia

O Governo do Distrito Federal (GDF) planeja enviar o projeto final da nova fase do Programa de Incentivo à Regularização Fiscal (Refis) para a Câmara Legislativa (CLDF) até o fim deste mês. A nova edição deve abranger o período de 2019 e 2020 e beneficiar mais de 226 mil pessoas e 19 mil empresas inadimplentes. A expectativa é de que o texto seja aprovado até dezembro, para que o prazo de adesão abra em janeiro de 2022 e vá até março. Todas as dívidas, até 2020, poderão ser renegociadas.

Nesta nova etapa, poderão ser renegociados valores de multas e de juros que incidem sobre a dívida. As que foram contraídas até 2012 poderão ter abatimento do valor principal. O último Refis foi realizado recentemente e renegociou dívidas contraídas até 2018. O prazo de adesão, aberto no final de 2020, foi encerrado no final de março deste ano e bateu recorde histórico de arrecadação, foram cerca de R$ 3 bilhões. Entraram para os cofres do DF R$ 600 milhões.

Para passar a valer, o projeto precisa ser aprovado pela maioria dos distritais. O vice-presidente da Casa, o deputado Rodrigo Delmasso (Republicanos), afirma que o GDF deve pedir urgência na apreciação e que o andamento do texto vai depender dos líderes das comissões e do presidente da CLDF. Apesar disso, ele afirma que "vai ser aprovado, sim".