Desde o início da pandemia, os cientistas alertaram que era preciso manter as medidas de proteção contra o vírus, mesmo com a avanço da vacinação. A pandemia no Oriente, na Europa e nos Estados Unidos funciona como trailer do que acontecerá no Brasil.
Na Europa, países com mais de 80% de vacinados com a segunda dose resolveram flexibilizar o uso de máscaras, suspender as medidas de evitar aglomerações e liberaram eventos de massa, como os megashows e a presença das torcidas nos jogos de futebol. O resultado foi a volta de índices de contaminação e dos fantasmas de um retorno a decisões restritivas mais drásticas.
Não dá para entender qual o fundamento de nossos governantes para o liberou geral, com apenas 60% da população vacinada, como se a pandemia tivesse sido inteiramente superada. Qualquer leigo que acompanha as informações dos cientistas sabe que baixar a guarda é fatal. Com a queda dos índices de contaminação e de mortes, graças à vacinação, de repente, os governadores decidiram acabar com a pandemia por decreto.
Suas excelências imaginam que podem ludibriar o vírus da mesma maneira que enganam os eleitores incautos, ao fazer falsas promessas nas campanhas e ao votar ou instituir políticas públicas contra os interesses da maioria dos cidadãos. Consideram que é possível agir como o personagem da peça picaresca de cordel escrita por Luiz Gutemberg, que enganou o diabo e ainda pediu troco.
Em um a ardil de avestruz, eles pensavam que bastaria não conceder espaço para os cientistas falarem e tudo estaria resolvido. Claro que não daria certo, o vírus ignora os baixos interesses, a intenção de bajular os poderosos, a proximidade com as eleições e os conluios dos balcões de negócios da política.
A um mês término do semestre, as escolas foram obrigadas a retomar as aulas sob o argumento de prejuízos ao desenvolvimento dos alunos e da necessidade de que parte deles se alimentassem. Mas, como era de se esperar, nem todas as instituições de ensino estavam preparadas para receber os alunos com segurança e faltou merenda para várias escolas.
E, como se não bastasse, a insensatez em série se espraiou para outros campos. Liberaram o público nas partidas de futebol, as festas de révellion, os cultos religiosas com aglomerações, a folia do carnaval, a necessidade de distanciamento físico nos restaurantes e o uso de máscaras em ambientes abertos. Em vez de mirar o que acontece na Europa e nos Estados Unidos, eles preferiram apostar que é possível enganar o vírus e ainda pedir troco.
É uma onda de insensatez em série. Mobilizar a população para as medidas de proteção foi uma tarefa titânica ante o bombardeio de fake news negacionistas da vacina nas redes sociais. A ação das excelências provocou uma desmobilização geral. O que os cientistas previam aconteceu: a omicron, a nova mutação do vírus, derrubou os castelos de areia e ameaça provocar o caos.
Os pesquisadores haviam alertado que era preciso manter a vigilância, mesmo com o avanço da vacinação, pois a desmobilização cria um ambiente favorável à proliferação do vírus. Não havia a necessidade de expor a população, pois a economia havia voltado a funcionar, com as medidas de segurança.
A vacinação não se completa por causa da pobreza material de alguns países ou por causa da pobreza de espírito dos governantes. Espero que suas excelências tirem alguma lição dos erros em que incidem e reincidem. E que pensem que, em suas decisões, estão em jogo a vida e a morte de milhares de pessoas.
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