Despedida /

O sonho de um pioneiro

Karl Marx Simas, 86, fundador da Moka's Sorveteria, deixa três filhos, três netos e a esposa

Samara Schwingel
postado em 07/12/2021 00:01
 (crédito: Arquivo pessoal )
(crédito: Arquivo pessoal )

O fundador da Moka's Sorveteria e pioneiro de Brasília Karl Marx Simas faleceu, ontem, aos 86 anos devido à complicações de um câncer de pulmão, que se estendeu para a coluna. O empresário, que concretizou o sonho de ter uma sorveteria em 1980, deixa três filhos, três netos e esposa. De acordo com os parentes, o corpo será cremado e as cinzas serão soltas no Parque da Cidade, lugar preferido de Karl. 

Descoberta

Os últimos dias de Karl foram muito rápidos. Segundo o filho mais novo, Marcos Simas, 59, o pai descobriu o câncer após reclamar de dores nas costas. "Fomos ao médico e descobrimos o quão avançada a doença estava. O tratamento a ser feito era paliativo, de conforto. Todo o processo durou cerca de três semanas. Ele foi internado e, em dois dias, faleceu", conta. Apesar da surpresa, os familiares estão confortados por saberem que Karl desfrutou da vida que almejou. 

"Ele sempre foi um espírito muito livre e independente, não se importava com a opinião alheia e vivia da maneira dele", acrescenta Marcos. Para o filho mais novo, a família tem que agradecer pela vida de Karl. "Triste eu estava em vê-lo naquele momento (doente). Foram dias difíceis para ele. Mas ele fez tudo o que quis. Só temos que agradecer por tudo", diz. 

Legado

Segundo Marcos, o projeto de Karl de ter uma sorveteria na capital do país será mantido pelos filhos. "Desde o primeiro dia da loja eu já ia para lá com ele. Eu tinha 18 anos. Hoje, tenho 59 e continuo aqui. A loja continua ativa e a gente faz tudo o que ele ensinou", relata. A sorveteria foi fundada em 1980, após Karl pedir demissão do cargo de gerente de uma multinacional para montar o próprio negócio. "E esse sonho já dura 41 anos", comenta Marcos. 

Em retrospectiva, o filho mais novo do empresário afirma que o maior ensinamento do pai foi sua maneira de viver. "Eu sou muito fã dele", assume. Marcos comenta a decisão de soltar as cinzas de Karl no Parque da Cidade. "Ele era um atleta, se exercitava muito. Era o maior amante do parque. Todo dia estava lá", diz. A expectativa da família é cremar Karl amanhã e lançar as cinzas no parque esta semana.  

Saudade

Eduardo Ruy Ramos, 59, filho de um amigo de Marx e também colega pessoal dos filhos do pioneiro, comenta que o empresário deixa um vazio. "Uma pessoa que tem muito a ensinar sempre faz falta para quem ficou", reflete.

Nos anos 80 e até antes da inauguração da sorveteria, Eduardo frequentava a casa de Marx. "Pude conviver com ele muitos anos da minha vida. Foi uma pessoa muito íntegra, correta e discreta. Uma pessoa que esteve sempre à frente do seu tempo no quesito de compreender o mundo e as diferenças. Isso foi muito importante. Recebi um grande ensinamento ao conviver com o Marx. É um referencial de pai de família e de amigo", completa.

A maior lição, para Eduardo, é a calma com que Marx lidava com as coisas. "Foi uma alegria e um prazer muito grande caminhar e aprender com a discrição e serenidade dele", diz. Ele destaca que Marx foi casado com uma professora, também pioneira de Brasília, e que a casa da família era sempre cheia de músicos e de alegria. "Tinha bons equipamentos, bons profissionais. Era uma alegria", conclui.

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