COTIDIANO

Já é Natal! Conheça histórias de colecionadores de presépios no DF

Representação da vinda de Jesus ao mundo, os presépios de Natal encantam pela beleza e simplicidade. Há quem os colecione e quem mantém a tradição anual de montá-los

Liana Sabo
Pablo Giovanni*
postado em 13/12/2021 06:00
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O presépio é a representação visual mais democrática do mundo cristão. Não importa a idade ou a classe social das pessoas, não importa a época ou o local de comemoração do Natal; o interesse único é destacar Jesus. A palavra vem do latim e significa estábulo. Quem fez o primeiro presépio foi São Francisco de Assis, em 1223. Ele vivia no meio dos pobres e construiu um presépio de argila, dentro de uma gruta, para mostrar visualmente como se deu o nascimento do Salvador.

A criação do presépio ocorre no primeiro domingo de advento (são quatro os domingos, depois do último vem o Natal). Ele é desmontado após a visita dos três reis magos a Belém, que ocorreu no dia 6 de janeiro, considerado Epifania, palavra grega que significa revelação, a partir da qual houve o conhecimento da vinda de Jesus como rei do mundo, visitado pelos astrólogos que lhe ofereceram presentes (ouro, incenso e mirra). Essa tradição é seguida nos quatro cantos do planeta e, a cada ano, é renovada com enorme fervor, como revela o médico Júlio Cesar do Amaral, de 63 anos. "Desde os quatro anos de idade, eu monto o presépio que aprendi com minha mãe e sempre me empolgo muito", conta. Ele pertence a uma pioneiríssima família mineira: o pai veio para Brasília em 1957, para trabalhar com Israel Pinheiro, na Novacap.

Na casa do pediatra com especialização em pneumologia, na QI 15 do Lago Sul, o presépio ocupa amplo espaço ao lado do pinheiro, mas há dois anos, quando a sala estava em reforma, a lapinha ficou restrita a um canto sobre o balcão da cozinha. "Nunca, porém, deixei de montá-lo", diz o médico, que acrescentou à clássica representação da natividade meia dúzia de miniaturas de casas e uma igrejinha, produzidas em barro pelas artesãs do Vale do Jequitinhonha (MG). A "vila" está disposta num patamar mais elevado, representando Belém. Quando o anjo Gabriel quebrou, há três anos, Júlio César saiu à procura de outra imagem,  encontrada na Feira Rosa Mística, realizada no centro comercial Gilberto Salomão.

Para o médico, que se considera "doido por presépio", a montagem não oferece nenhuma dificuldade. Sobre uma mesa de centro, ele usou caixas de papelão envoltas em papel pardo e cobertas por tecido tipo saco de estopa, com o qual modelou uma gruta onde distribuiu as peças. Sem a presença da mãe, Rachel Teixeira Neves do Amaral, ex-professora de artes plásticas e literatura na Escola Classe, que faleceu em janeiro aos 89 anos, o Natal terá um toque de saudade. "Tudo muda quando se perde alguém", diz Júlio, para quem "construir presépio é uma maneira de evangelizar". A família, formada pela mulher, Ivete, e os filhos, Carol e Leonardo, médico como o pai, aplaude.

Coleção

A professora Débora Dalla Barba de Seixas, que leciona na Escola Classe 304 Sul há quase 30 anos, coleciona presépios desde os 17 anos, quando comprou o primeiro, feito de juta, no bazar de Natal da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Brasília (CECLB), onde congrega. Atualmente, são cerca de 25, de vários tipos de material: argila, feltro, madeira, palha, estopa, laminado além de vidro, como o que foi montado dentro de um recipiente vazio de perfume pelo artista plástico cearense dono da grife Elias miniaturas.

O gosto veio da infância no Rio Grande do Sul, quando Débora ajudava a avó materna a armar, embaixo da árvore, as peças do presépio, usando areia para fazer os caminhos e espelho que imitava lago. "Eu achava muito bonito e passei a gostar cada vez mais, a ponto de colecionar presépios em miniatura, o que facilitava às pessoas a trazerem na mala lembranças de viagem", explica a alfabetizadora especializada em psicopedagogia. Das viagens do pai, vieram presépios de Israel, feito em madeira de oliveira, Peru e Angola. Educada na fé luterana, os dois únicos símbolos natalinos que Débora conheceu foram o presépio e o pinheiro, enfeitado de velas e bolas de vidro. "Do Papai Noel, eu tinha horror", confessa a professora, lembrando o medo que lhe incutia a figura do bom velhinho alijado de sua infância.

Ao casar com Lawrence de Seixas, funcionário do Tribunal Superior do Trabalho (TST), a educadora conheceu outros costumes na celebração do Natal, que começa não mais ao entardecer da véspera, como era praxe em sua casa, mas à 0h do dia 25 de dezembro, com farto jantar precedido pela oração em família. Distribuídas sobre os móveis da sala, as miniaturas são delicadas testemunhas da fé no Salvador do mundo, enquanto do lado de fora, exuberantes enfeites natalinos ornam o bloco D da 106 Sul.

Foi a síndica Suely de Roure, ex-prefeita da quadra, quem providenciou a recuperação de um lindo presépio no jardim de fronte ao prédio, onde havia sumido a imagem do menino. Neste ano, a sagrada família está completa, comemora Luan de Jesus, de 27 anos, auxiliar de serviços gerais, que trabalha no bloco há oito anos. Morador do Riacho Fundo 2, ele vai comemorar o Natal em família e, claro, com um pequeno presépio, garantiu.

Tradição

De tanto montar presépios, dona Arminda Moreira, 89 anos, sempre tenta mudar um pouco a decoração de anos anteriores para não repetir o cenário do nascimento de Jesus, mas sempre contando a história como manda o rito. "A tradição eu aprendi na igreja. Comecei a montar o meu presépio, comprei os personagens e montei bem pequenininho, porque não dá pra bater de frente com as da igrejas, que são gigantes. É uma honra todo ano montar. Sempre mudo um pouco a decoração ao redor, e até coloco uns piscas-piscas", diz. Para ela, o nascimento de Cristo tem que ser comemorado ao lado de familiares. "Coloco o personagem do menino Jesus do dia 24 ao dia 25 de dezembro, que é o dia em que Jesus nasceu. Pela pandemia, ano passado não nos reunimos em família. Esperamos que toda a família venha este ano para a comemoração do nascimento de Jesus", pontuou.

A tradição na casa da família da professora Cristiana Silveira, 40 anos, nunca é esquecida, sendo seguida fielmente por anos. "É uma tradição antiga da minha família, e a qual não pode ser esquecida. Desde muito cedo, aprendi seguindo as orientações litúrgicas, que devemos montá-lo sempre no primeiro domingo do advento, ou seja, no primeiro domingo do mês de dezembro, e desmontá-lo no dia 6 de janeiro (Dia dos Reis Magos)", disse. "Não pode faltar no nosso presépio algumas peças principais, como o Menino Jesus, que é o filho de Deus; a Virgem Maria, também conhecida por nós católicos como a virgem santíssima que intercede junto a Jesus por nós; e São José, o protetor das famílias e pai adotivo de Jesus Cristo. Montamos o presépio todos os anos, pois essa linda representação da Natividade de Jesus Cristo faz com que nosso lar viva o verdadeiro espírito do Natal", complementou.

 

*Estagiário sob a supervisão de Adson Boaventura

 

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  • Arminda Moreira sempre muda a decoração para não repetir o presépio
    Arminda Moreira sempre muda a decoração para não repetir o presépio Foto: Carlos Vieira/CB
  • O médico Júlio Cesar do Amaral se considera
    O médico Júlio Cesar do Amaral se considera "doido por presépio" Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • Um dos vários presépios da professora Débora Dalla Barba de Seixas, que coleciona as representações desde os 17 anos
    Um dos vários presépios da professora Débora Dalla Barba de Seixas, que coleciona as representações desde os 17 anos Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • O gosto de Débora por presépios veio da infância no Sul
    O gosto de Débora por presépios veio da infância no Sul Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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