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Gato, um pet para chamar de meu

Recentemente ultrapassando a marca de 25 milhões de felinos domésticos no Brasil, os bichanos estão se tornando cada vez mais populares no Distrito Federal

Bernardo Guerra*
postado em 18/12/2021 00:01
 (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)

É difícil achar alguém que, atualmente, nunca tenha visto algum vídeo fofo ou engraçado de gatinhos pela internet e não tenha se sentido conquistado pelos charmes e trejeitos independentes do bichinho na mesma hora. Nos últimos anos, cada vez mais brasilienses estão adotando e comprando esses pequenos felídeos, se tornando populares companheiros de quarto e de casa durante a pandemia.

De acordo com um estudo realizado, em 2020, pelo Instituto Pet Brasil, de São Paulo, ao longo da pandemia a população de gatos cresceu 3,6% e ultrapassou a marca de 25 milhões de felinos domésticos no Brasil. Esse crescimento foi de 2% em relação ao censo de 2019. O aumento da chamada "população pet" é três vezes mais acelerado do que a população humana atualmente. Estima-se que daqui a nove anos a população de gatos ultrapassará a de cães, que hoje está em torno de 34 milhões.

Meu bichano

A estudante de engenharia química Maria Helena, 20 anos, mora em Sobradinho com a mãe e a tia em uma casa. Com desejo antigo de ter um gatinho, ela costumava entrar em grupos de adoção de pets no Facebook, mas a distância dela aos doadores sempre se mostrava como um empecilho. Maria só foi capaz de realizar seu sonho devido a uma coincidência. Em 2019, ela ainda estava no ensino médio e uma amiga, com quem estudava, encontrou um filhote abandonado de gato que quase havia sido atropelado na rua. A amiga lhe ofereceu o gato, sabendo de seu desejo de adotar um. Miguelito foi o nome dado por Maria Helena para o primeiro de muitos que depois adotaria.

Hoje, a estudante, a mãe e a tia moram com seis gatinhos. Junto de Miguelito, Brisa, Juninho, Luna, Salém e Máscara são os demais residentes de quatro patas da casa. Todos vieram da rua, resgatados pela própria jovem. Maria conta que a adaptação inicial não foi tão complicada quanto acreditava que seria. "Nosso maior medo sempre foi eles fugirem, porque gato é muito difícil controlar, ainda mais em casa. O Miguelito, que foi o primeiro, era muito medroso, por isso a gente tinha muito medo de ele escapar. Acabou que o bichano saiu algumas vezes, sumia, aí a gente ficava desesperada, mas ele sempre voltava. A gente acabou se acostumando com esse negócio de gato sumir e aparecer do nada. De resto foi muito tranquila a adaptação", disse.

A jovem afirma que todos os seus animais são extremamente amorosos, mais, até mesmo, que os cachorros que ela teve antes. "Falam que gatos são só apegados à casa e não à pessoa, mas eu discordo totalmente, porque os meus gatos entendem quando estou triste, quando estou feliz, me fazem companhia. Eles te entendem, mesmo sendo independentes", argumenta.

A professora Thyally Vasconcelos e o gerente de desenvolvimento, Lucas Vasconcelos, ambos 31 anos, são donos da conta do Instagram @zoopantyta, onde registram e compartilham a vida de seus seis bichinhos de estimação. Kakaroto, Logan, Luck, Mafalda, Riobaldo e Diadorim vivem com o casal em uma casa de Sobradinho. Thyally conta que sempre teve o sonho de ter um gato e um cachorro iguais aos do desenho Tom e Jerry — além do ratinho, havia um cachorro como protagonista. O primeiro pet do casal veio após um ano de casados, a jabuti She-ra. "Ela (She-ra) chegou para nós doente e, apesar de termos tentado tudo, ela faleceu com 1 mês. Depois disso eu não queria ter mais nenhum bichinho, mas após uma semana apareceu a oportunidade de adotarmos o Kakaroto, nosso bulldog. Depois que ele chegou, queríamos um gato, mas eu nunca achava gatos cinzas para adoção, entrei em vários grupos de adoção, comecei a seguir ONGs de proteção e nunca achava um gatinho cinza que parecesse com o Tom do desenho", explica.

O sonhado felino só chegou em 2017, na forma de Riobaldo, um persa exótico cinza. Nesse meio tempo, o casal também adotou Mafalda, uma jabuti. Mesmo com dois bichos de diferentes espécies na casa, a adaptação do gato foi tranquila, rapidamente se tornou amiga de Kakaroto e, até mesmo, adotou alguns comportamentos de cachorro devido à convivência, gostando de passear de coleira pela rua. Dois anos depois veio o Logan, outro bulldog.

A partir desse ponto, Thyally começou a procurar um gato branco para fazer companhia a Riobaldo e ensinar ele a ser gato. O casal achou um anúncio online de doação de uma ninhada e foi visitar. Embora o plano fosse pegar outro macho, quem voltou para casa com o casal foi Diadorim, uma gatinha fêmea que encantou Lucas. Assim que chegou, ele começou a ensinar o Riobaldo a pular e escalar mais os móveis, derrubar objetos por aí e ficar observando o mundo afora pela janela.

O último bichinho adotado foi o poodle Luck, que está com o casal há oito meses. "Agora a fábrica fechou, pois estou grávida e preciso aprender a gerenciar a vida com seis pets e um bebê", conta a professora. Convivendo com tantos pets, Thyally destaca que os gatos são os mais fáceis de cuidar. "Os bichanos dão muito menos trabalho em relação à alimentação e higiene, não tem nem comparação", afirma. "Eles (os dois gatos) gostam de acompanhar, participar de tudo e estar por perto sempre. Os dois são bem amigos da jabuti, a Diadorim vive entrando no terrário para dormir com a Mafalda, e se suja todinha. Ela também se adaptou bem aos cachorros, se esfrega muito neles, ela é bem carinhosa", revela.

Também dona de gatos, a servidora pública Doralice Goes, 45, não esconde a paixão que tem pelos felinos domésticos, sendo tutora de três, atualmente. Há sete anos, tentou adotar um gato quando morava em uma quitinete, mas, mesmo tentando por um ano, a adaptação não deu certo, pois o gato era acostumado com casa, gostava de sair o dia inteiro e só voltava para comer. "A partir disso, comecei a pesquisar mais sobre gatos, porque na época eu não sabia nada a respeito e eu queria conhecer mais para que da próxima vez desse certo."

A pesquisa deu frutos para Doralice, lhe apresentando a raça felina Ragdoll, que a conquistou por serem gatos "extremamente dóceis". Logo veio Kiwi, a sua primeira ragdoll, e assim ela foi se aprofundando cada vez mais no mundo felídeo. Um ano e meio depois, foi a vez de Apple Alaska chegar, sua segunda ragdoll. "Nessa mesma época eu comecei a cuidar e olhar os gatos dos outros enquanto eles viajavam, eu vou todo dia para a casa deles por uma hora, cuido e brinco com eles, porque os gatos não podem ficar muito tempo sozinhos. Há três anos eu faço isso. Eu já convivi com felinos das mais diferentes raças e temperamentos por causa disso", explica.

Durante a pandemia, em 2020, Doralice adotou o seu terceiro gatinho, o gato-de-bengala Ayo Malbec. Unindo sua pesquisa e experiência de anos cuidando dos mais diversos gatos, juntamente com sua paixão pelos felinos, a servidora pública escreveu um livro sobre gatos para novos tutores ou aqueles interessados. Chamado Conquiste seu gato em 30 dias, o livro conta com dicas e reflexões para melhorar a relação do tutor com seu gato e como preparar um ambiente mais propício para essa convivência.

"É mais fácil criar um gato hoje em dia, ele é mais independente, pode morar em espaços pequenos, é bem compatível com apartamentos e com o nosso ritmo moderno de trabalhar, de estudar e de ter pouco tempo", reflete ela.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

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Dicas de especialista

 (crédito: Ibram)
crédito: Ibram

O veterinário Ricardo Martins, 57, trabalha há mais de 30 anos no ramo e afirma que, especialmente na pandemia, houve um aumento considerável no número de adoções de gatos. Quando questionado pelos motivos desse acontecimento, ele explica. "O gato é mais independente, não necessita de tanta atenção, faz suas necessidades sempre no local adequado, tipo caixas de areia, e não necessita de passeios frequentes, o que na pandemia estava restrito".

Ricardo dá seis dicas fundamentais para aqueles que planejam ser tutores de gatos, ou para quem se interessar pelo assunto:

Telar janelas e varandas, tirar bibelôs e coisas que podem se quebrar das estantes e manter armários e gavetas fechados;

Providenciar arranhadores para não estragarem os móveis;

Manter uma caixa de areia sempre limpa para as necessidades;

Procurar saber se não tem alguém alérgico a pelos que vá conviver no mesmo ambiente;

Levar ao veterinário antes para providenciar vacinas e vermífugos;

Fazer teste para Aids e leucemia felina, doenças e vírus no geral, antes de introduzir o animal
junto a outros.

Destas, o veterinário alerta quanto a importância da última, afirmando ser um erro comum entre os novos tutores. "Eles acabam adotando os animais e não passam no veterinário para fazer o teste FIV/FeLV ou não exigem o mesmo quando adotam. Quando descobrem a doença, já houve um laço afetivo e por se tratarem de doenças incuráveis, o problema já está instalado. Também, outro erro comum, é quando não procuram isolar o animal de outros para fazer tipo uma quarentena e observar possíveis sintomas e comportamentos", esclarece.

Adoção

A ONG de proteção animal, Clube do Gato (clubedogato.org.br), localizada em Brasília, atua desde 2012 na conscientização para a posse responsável e na promoção de adoção de gatos. Além disso, contam com uma loja própria onde toda a renda é revertida integralmente para manter o projeto em funcionamento. A ONG garante a castração do gatinho adotado, caso o mesmo tenha menos de quatro meses de idade, e ele já é doado castrado se tiver mais de quatro meses. O Clube do Gato oferece também a possibilidade de ser realizado um período de experiência com os bichanos, geralmente com a duração de uma semana, para certificar que a adaptação dê certo. Caso não dê, eles pegam o animal de volta. Se a pessoa morar em apartamento, um pré-requisito fundamental antes da adoção é que as janelas e varandas sejam teladas.

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