A morte de Shirlene Ferreira da Silva, 38 anos, e da filha Tauane Rebeca da Silva, 14, segue em investigação pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Os corpos foram periciados no local em que estavam parcialmente enterrados, a cerca de 500 metros da margem de um córrego no Sol Nascente, na manhã de ontem. Por volta de 11h, o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) levou as vítimas para o Instituto de Medicina Legal (IML). Médicos legistas suspeitam de que as mortes foram provocadas por esfaqueamento, a mãe tinha marcas de golpe no tórax, e a filha, no pescoço. As duas saíram, no último dia 9, para tomar banho no curso d'água que fica próximo a casa onde mora a família e, desde então, estavam desaparecidas. Elas foram encontradas na segunda-feira por agentes da 23ª Delegacia de Polícia (P Sul), depois de 11 dias de buscas, em estado avançado de decomposição.
Devido a região onde os corpos foram localizados, a investigação passou a ser conduzida pela 19ª Delegacia de Polícia (P Norte). "Vamos instaurar o inquérito policial. Os corpos foram para a perícia técnica, e vamos ouvir a família e alguns vizinhos. Estamos diligenciando na 23ª DP para ver o que eles têm de elementos e provas. Por enquanto, está bem incipiente. O estado de decomposição do corpo também não proporcionou uma boa perícia no local. Não deu para verificar vestígio de violência sexual, abuso ou violência física. Os corpos estavam com muito barro", detalha o delegado da 19ª Gustavo Augusto.
Segundo Gustavo, sem o laudo pericial, não é possível precisar o tempo que os corpos ficaram expostos ao clima e a ataques de animais. "Já tinha urubu circulando na redondeza. Inclusive, foram eles que fizeram os policiais atravessaram e encontraram os indícios para encontrarem o local. Apesar disso, o ponto estava bem intacto. Em geral, o laudo da perícia demora até dois meses para sair, mas pode ser mais rápido", adianta. Apesar de as vítimas terem sido encontradas na segunda-feira, não foi possível resgatar os corpos no mesmo dia devido às precipitações.
Três vidas perdidas
Shirlene estava grávida de quatro meses, ansiosa para fazer a ecografia e descobrir o sexo do bebê. Mãe de três filhos — um de 21, Tauane, de 14, e o caçula de 12 anos —, Shirlene é descrita pela irmã Shirlei Vieira da Silva, 39, como uma mãezona. "Ela fazia tudo pelos filhos, se dedicava a eles e à casa. A Tauane era uma menina ainda, não via maldade em nada, para ela tudo era uma festa", relata a cabeleireira e moradora de Samambaia.
A família de Shirlei mudou-se do Maranhão para o DF quando as duas irmãs ainda eram jovens. "Eu tinha 12 anos, e ela (Shirlene) tinha 11 anos. Viemos morar em Ceilândia. A Shirlene queria muito montar um negocinho para ela nos últimos tempos. Chegou a ter uma lojinha de roupa, um bazar, mas quando veio a pandemia, ela fechou tudo e vendeu as coisas que tinha", lembra.
Com a morte da irmã e sobrinha, Shirlei confessa que a família está sem reação. "Meu cunhado (marido de Shirlene) e todo mundo não sabe o que fazer. A minha irmã não era de sair de casa, ela não dormia fora, a gente sabia que tinha acontecido alguma coisa para ela não aparecer. Desde que perdemos nossa mãe, sempre fomos eu e ela, éramos muito unidas. Estava muito feliz esses últimos dias, principalmente com a gravidez. Pensar que isso tudo aconteceu dói muito. E não ter podido ajudar, não ter podido fazer nada, é algo que machuca muito", lamenta.
O Centro de Ensino Fundamental 19 de Ceilândia (CEF 19) prestou homenagem a Tauane e Shirlene na manhã de ontem. A jovem era aluna do 7º ano do colégio. Amigos de sala e professores confeccionaram cartazes, e todas as turmas, na entrada do turno matutino, na porta da escola, fizeram um minuto de silêncio e executaram, no aparelho de som da escola, a música Noites traiçoeiras. Uma faixa com os dizeres "Comunidade do CEF 19 em luto pela nossa aluna Tauane Rebeca e sua mãe" foi colocada no local. "Fizemos uma foto do momento e queremos enviar à família depois, se for possível, como uma pequena homenagem, para prestar nossos sentimentos neste momento. Estamos todos muito tristes e consternados", descreve a vice-diretora do CEF 19, Eliane Gomes.
Buscas
Um dos atuantes nas buscas realizadas pelo CBMDF, aspirante oficial Martinelli explica o motivo de os corpos não terem sido localizados antes. "Desde o princípio, nós trabalhamos com a situação de afogamento ou cabeça d'água. A gente não tinha levantado essa situação de homicídio. Então, trabalhamos de acordo com o que o leito do rio poderia nos informar", detalha.
O Correio acompanhou, ontem, o percurso realizado pelo CBMDF para resgatar os corpos. Os agentes explicaram que o principal foco era trazer as vítimas com o máximo de integridade para a família. De difícil acesso, para chegar ao local onde as duas estavam enterradas, foi necessário atravessar duas vezes o córrego da região, conhecido como Coruja. As pedras escorregadias e o leito do rio dificultavam a travessia, principalmente dos bombeiros, que retornavam, em equipes alternadas, carregando as vítimas.
A reportagem conversou com vizinhos e moradores da região, que, sob o pedido de não serem identificados, relataram que o local frequentemente é utilizado como ponto de droga. "Vem muita gente fumar droga aí. É muito perigoso", disse um dos moradores.
*Colaborou Ana Isabel Mansur
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