Voltar-se para si mesmo

Correio Braziliense
postado em 02/01/2022 00:01

O grande desafio vem sendo vencido. Mas como sobreviver à pandemia? Que olhar deve-se voltar para o amanhã? Refletindo sobre os mistérios do nascimento, da vida e da morte, sobre a herança do passado e o futuro da humanidade.

Note-se, entretanto, que reflexão com uma tal abrangência somente será possível depois do pensador voltar-se para si mesmo, praticar o "conhece-te" socrático, corrigir seus defeitos, prodigalizar suas virtudes e, a partir de então, olhar para o semelhante, porque o sentido da vida é conhecer a si próprio e depois voltar-se para a humanidade.

A pandemia propiciou este mergulho benfazejo. A doença e as medidas para não sermos contaminados, sugeriram a prática da reverência à vida, uma postura que molda nosso caráter, elevando-nos à mais poderosa de todas as virtudes: a humildade.

Seria como um subproduto valioso, trazido pelo isolamento, pelo confinamento, pela segregação: a oportunidade que nos foi concedida, não por "paroles d'evangile", senão pela leitura, que abre o conhecimento de nosso interior, desprezando aspectos negativos e valorizando as boas práticas.

E por que ler? Porque somente a leitura intensa, constante e atenta, é capaz de construir e desenvolver um eu autônomo ainda melhor. E enquanto não nos tornarmos nós mesmos, que benefícios poderemos trazer para os outros?

"Verba volant scripta manent": as palavras voam, os escritos ficam. É o conhecimento que possibilita a todos nós — figurantes de um quadro tão desafiador — desconhecer as distopias e manter a paz interior, que fortalece o "self" e abre as perspectivas para o amanhã.

Na minha vivência pessoal, a viagem para a concha foi bem sucedida, com a escolha de um novo endereço nesses quase dois anos. Na zona rural, a Fazenda São Pedro do Morro, com vacas e reprodutores nelore produzindo vida;, rios e cachoeiras; lagoa, capela São Pedro, São Tiago; livros, muitos, e um piano eletrônico de cauda...

Devo então ressaltar, com boa dose de certeza, que a pandemia pode, sim, produzir um novo ser integrado, fértil e feliz, se o seu processo de individuação realizar-se com sucesso, consciente e inconsciente, convivendo em paz e completando-se um ao outro.

Nesse cenário, viver e louvar as festividades natalinas constituem compromissos que se impõem, favorecendo, marcadamente, a esperança de um novo ano muito melhor.

Não podemos mais ser reféns do medo. Devemos ser reféns de nossos sonhos e do compromisso com nossas escolhas e com nossos destinos.

Pedro Gordilho, advogado

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