Saúde

Covid, influenza e dengue preocupam área de saúde

Para certificar que os sintomas são mesmo de gripe e não de covid-19, diversos pontos do DF estão disponibilizando testes gratuitos contra o coronavírus, com o resultado saindo em até 15 minutos após a coleta. Governo quer realizar 900 mil testes em 2022

*Bernardo Guerra
postado em 05/01/2022 00:01
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O subsecretário de vigilância à Saúde do DF, Divino Valero Martins, foi o convidado desta terça-feira (4/01) no CB.Poder, uma parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. Na entrevista à jornalista Ana Maria Campos, o subsecretário afirmou que o Distrito Federal está preparado para iniciar a vacinação infantil contra a covid-19, tendo que aguardar apenas a publicação de uma nota técnica do Ministério da Saúde detalhando como o procedimento será realizado.

Segundo Divino, apesar de o DF enfrentar uma mistura de doenças como covid, influenza e dengue, a situação hoje é muito mais tranquila que há um ano. Mais de 80% da população com mais de 12 anos estão imunizados e os médicos e especialistas estão mais preparados para enfrentar a pandemia.

O cidadão, no entanto, precisa fazer a sua parte: tomar as três doses da vacina, ter cuidados com higiene e usar máscara.

Quando a gente pensa que a pandemia está chegando ao fim, diminuindo a sua força, a gente vê um início do ano com contaminação de influenza. Como é que a Secretaria de Saúde está lidando com essa nova situação?

Na verdade, do ponto de vista da saúde pública e da epidemiologia, já estávamos esperando essa situação, mas, chegado o fim do ano, nós também tivemos um adiantamento do número de casos de influenza que normalmente ocorrem no final de abril e início de maio. Esse ano houve essa antecipação por diversos fatores, um deles foi porque nos concentramos muito no processo de imunização da covid em 2020 e muita gente deixou de ser vacinado em 2021 para a influenza. Aconteceu também, além da questão das variantes da covid, um aumento muito expressivo no número de influenza aqui no Distrito Federal.

As pessoas estavam muito preocupadas com a covid e se esqueceram que existem outras doenças que também podem ser graves?

Exatamente. Com a chegada do fim do ano, as festas de Natal e réveillon, a aproximação maior das pessoas, isso propiciou, do ponto de vista epidemiológico, esse encontros que culminaram no aumento do número de casos de influenza, e também a gente espera um aumento pequeno do número de casos de covid aqui no DF.

82% da população do DF com idade acima de 12 anos já estão vacinados. É isso mesmo?

Exatamente. Isso nos dá um conforto epidemiológico. Nós podemos ter um aumento de casos, mas nós esperamos continuar neste programa de imunização, para que nós consigamos manter a baixa taxa ainda de internação e de morte. Para nós, o que conta é isso, números de internações e óbitos. Mesmo que eu tenha um aumento do número de casos, a secretaria vai estar vigilante e atuante.

As pessoas, por estarem vacinadas, estão se sentindo mais seguras para ir às ruas, para participar de eventos, até aglomerarem?

Isso é cultural. Nós passamos os últimos dois anos de certa forma muito apreensivos. Toda essa situação do processo pandêmico influenciou demais no comportamento das pessoas. No DF, nós fizemos o dever de casa muito corretamente, chegamos a números expressivos. Ainda não é o ideal, o sonho é chegar em 100%, mas chegamos em uma marca muito expressiva com mais de 82% da população com as duas doses. É preciso que se continue essa campanha, que a gente aumente mais. Para você ter uma ideia, nós temos mais de 91% da população que já tomou a primeira dose, ou seja, nós esperamos que esta mesma população volte agora para tomar a segunda e a gente passará para mais de 90% de cobertura. Aliado a isso, houve naturalmente uma tranquilidade maior, as pessoas se sentiram mais à vontade, os pais voltaram a ficar mais à vontade com os filhos, e também é importante ser dito que aqui, no Distrito Federal, nós ainda temos quase 200 mil pessoas que não tomaram a vacina.

A Secretaria de Saúde tem um perfil de quem são essas pessoas? São pessoas que moram distantes do centro ou são pessoas antivax?

É muito difícil definir um padrão. Primeiro, porque nós trabalhamos com a informação que as pessoas nos fornecem. Nem sempre o endereço, por exemplo, da residência que ela me dá é realmente o dela. Outro fator importante é que também aqui nós temos a região do Entorno que é muito densa, então nós temos muita gente do Entorno que se vacinou aqui e também tem muitas pessoas daqui que se vacinaram no Entorno. A gente fez uma compilação por faixa etária e identificou uma falha maior na faixa etária dos 30 aos 49 anos, como a menor faixa de vacinados. Para isso a gente vem buscando ampliar a cobertura vacinal oportunizando mais pontos de vacina.

Ainda há cerca de 190 mil pessoas que não foram tomar a segunda dose?

Aproximadamente 190 mil pessoas não voltaram para tomar a segunda dose. A gente aproveita aqui e faz até um apelo para quem não tomou: vá ao posto, nós temos todas as vacinas.

Como está a vacinação do reforço, as pessoas estão indo?

As pessoas estão procurando. A gente acredita que essa procura não está maior porque tem um espaço de 4 meses e muita gente não chegou na época ainda de tomar a terceira dose.

Essa dose é fundamental?

Importantíssima! A gente ainda não tem ideia da temporalidade da garantia da segurança desta vacina, quanto tempo o indivíduo fica imune após ter tomado essa vacina, por isso a gente vem e toma a terceira, essa dose de reforço. Acreditamos que em pouco tempo nós vamos definir essa vacina até no calendário de vacina como uma rotina até a gente ter uma paz epidemiológica com relação a essa situação do covid no mundo.

Pelos números da secretaria, as pessoas que estão sendo internadas, em sua maioria, são pessoas que não se vacinaram? Existe algum estudo sobre isso?

Sim, nós fizemos um levantamento recentemente e 94% das pessoas que foram a óbito e das pessoas que se internaram, 94% não tinham completado o ciclo vacinal.

Tomar a vacina não significa que a pessoa não será contaminada, é só o risco que fica menor de ter uma doença mais grave, não é isso?

Exatamente, a sua pergunta é importantíssima. A partir do momento que o indivíduo toma as doses, reduz muito a capacidade de agravamento caso ele pegue o vírus. Pegar o vírus vai ser quase que natural, todos nós podemos pegar. Agora se ele estiver vacinado, se ele estiver imunizado, a probabilidade de uma evolução é muito pequena.

A Secretaria de Saúde já registrou algum caso no DF de dupla contaminação, covid e influenza?

Já temos, mas são poucos. Nós ainda estamos fazendo alguns estudos direcionados para a posteriori, podermos publicar isso com maior assertividade. Mas nós já temos essas coinfecções bem definidas e registradas. É normal o indivíduo começar com influenza, depois, em função da própria característica e da debilitação imunológica, acaba pegando uma covid ou vice-versa e a própria influenza muitas vezes pega mais de um tipo de influenza então, isso está sendo monitorado.

A influenza também é uma doença grave que pode causar riscos?

Depende do caso, isso é muito relativo. O importante é a pessoa procurar o médico, fazer todos os exames, se cuidar, tomar as vacinas, tomar a da influenza também, e, por via das dúvidas, fazer o teste da covid, até porque, pelas características, pelos sinais e sintomas, isso ainda é muito parecido. Nós recomendamos que a pessoa não se automedique, procure um médico. Isso também serve para subsidiar a secretaria nas estratégias a serem tomadas e passar a conhecer qual vírus está circulando, qual a frequência, quais os locais, a informação nesses casos de saúde pública é basicamente tudo.

A gente tem informações que logo depois da virada, os hospitais, até os particulares, estavam muito cheios… Pode ser que esse número de contaminações seja mais alto ainda do que a secretaria registrou?

Isso é possível. Nós acreditamos que, na verdade, a secretaria já espera o momento do número de casos, mas hoje nós estamos vivenciando vários problemas em saúde pública que não é só a influenza, não é só covid, nós temos problemas com dengue. Então, hoje, o importante é as pessoas estarem se protegendo, usando máscara, mantendo o distanciamento, procurando se vacinar, e nós da área técnica, da Secretaria de Saúde do DF fazemos a nossa parte promovendo políticas públicas que garantam a nossa população toda a assistência e a vigilância necessária.

A dengue também está aumentando?

A dengue vem aumentando no país inteiro, apesar de no ano passado nós termos conseguido, aqui no DF, uma redução de mais de 70% dos casos. Neste ano, a gente já viu e está acompanhando o registro em outros estados, como Goiás, o aumento do número de casos por uma questão muito simples, sazonalidade muito favorável, intensidade pluviométrica muito forte, aumento de depósito, incidência vetorial também crescendo muito e circulação viral.

E para nos protegermos da dengue, o que é preciso fazer?

Na verdade, o indivíduo tem que se transformar em um agente de saúde. Não há cientificismo nenhum de alta complexidade que impeça o próprio morador de cuidar do seu ambiente. O que seria isso? Ele observar se tem depósitos com água, botar recipiente ou no lixo ou descartar, se for uma garrafa colocar de boca para baixo, observar se a caixa d'água está devidamente coberta, se trocou o pneu do carro bote em uma área coberta, não deixe exposto no quintal. Fazer aquela vigilância básica de observar todo o ambiente externo da casa se não tem nenhum depósito com água.

O senhor está mais preocupado hoje do que estava no começo de 2021?

Eu diria que não. Hoje nós temos que estar mais tranquilos. No começo de 2021, tínhamos muitas incertezas, quando começamos a fazer a promoção da vacinação no DF, nós tínhamos mais perguntas do que respostas. Hoje, nós já temos vacinas em abundância para toda a população, temos uma rede capacitada, o governo investiu muito na contratação de agentes para cobrir áreas que antes não estavam sendo cobertas, o governo contratou recentemente mais de 300 enfermeiros para auxiliar na resposta dos núcleos hospitalares, nós já conhecemos as ações e o que devemos fazer.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou recentemente que até o final de janeiro começará o processo de vacinação das crianças. Por mais que haja uma polêmica em relação ao presidente Bolsonaro (PL), que se colocou contra, parece que vai sair a vacinação. Como é que vai funcionar aqui?

O Distrito Federal trabalha em consonância com a determinação do Ministério da Saúde no que tange às estratégias, nós temos um público estimado em aproximadamente 268.000 crianças no Distrito Federal, de cinco a 11 anos, segundo a Codeplan. Nossa expectativa é que o ministério, assim que definir, tem que fazer uma publicação. A regra básica é que vai soltar uma nota informativa dizendo a questão da dose, que parece que vai ser um terço do que é para o adulto, a seringa específica, o frasco diferenciado. As observações serão bem específicas. A gente ainda não sabe se vai usar as mesmas salas ou se o ministério vai querer uma sala com alguma especificação nos pontos de vacina diferenciado. Então, nós estamos dependendo do Ministério da Saúde para que defina estas regras claramente e que nos envie os insumos e as seringas. A partir daí, nós temos algumas horas para dar continuidade e desenvolver uma metodologia, mas eu já posso lhe assegurar que nós temos a melhor capacidade do Brasil de resposta de vacina.

Não houve nenhuma morte no DF em decorrência da vacina?

Aqui no DF nós já vacinamos 4,8 milhões de pessoas aproximadamente sem nenhum efeito, sem nada que merecesse um destaque negativo.

Em relação aos testes, os centros de saúde oferecem esse serviço para o cidadão, a pessoa que está com algum sintoma de covid ou de influenza pode procurar um posto de saúde para fazer um teste de covid?

Sim, nós recebemos agora do Ministério da Saúde mais 500 mil testes, abrimos inclusive na rodoviária do Plano Piloto um núcleo de teste que funciona o dia inteiro. A nossa expectativa e esperança agora é abrir mais pontos de testagem, até porque quanto mais nós testarmos mas vamos conhecer em que pé está essa circulação do vírus no Distrito Federal e que cepa está predominando, como é que está, por cidade. Nossa ideia é fazer aproximadamente, até junho, 800 a 900 mil testes.

 

* Estagiário sob a supervisão
de Ana Maria Campos

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