Covid-19

Voluntários contam a experiência de terem sido primeiros a receberem a vacina no DF

Quase um ano após o início da imunização contra a covid-19, pessoas solidárias e profissionais da saúde relatam experiência saúde contam a experiência de serem os primeiros a receberem a medicação no Distrito Federal

Arthur de Souza Júlia Eleutério
postado em 16/01/2022 06:01 / atualizado em 16/01/2022 08:20
 (crédito:  Carlos Vieira/CB)
(crédito: Carlos Vieira/CB)

Após cerca de um ano do início dos testes e da vacinação contra a covid-19 nos funcionários da Saúde do Distrito Federal, que atuaram na linha de frente do combate à pandemia, o Correio entrevistou alguns dos voluntários que se imunizaram no período em que os casos da doença estavam em alta e o medo tomava conta de todos, para entender como está o cotidiano de cada um, quais foram os anseios do passado que mudaram com a vacinação e o que continua com o surgimento de novas variantes. "Nunca tinha visto algo assim", recorda a médica do Hospital Universitário de Brasília (HUB) Larissa Bragança, 34 anos, que ainda trabalha em um pronto-socorro e viu o surgimento de muitos casos do novo coronavírus no início da pandemia.

"Vi muitas emergências, pacientes graves e diferentes doenças, mas nunca tinha visto algo tão devastador quanto a covid-19. O caos no atendimento, a insalubridade de longas horas de trabalho com aquele uniforme quente e pesado, a sobrecarga nos plantões, o medo de se infectar ou transmitir para os familiares, a frustração de acompanhar tantos pacientes que acabaram morrendo em nossas mãos", ressalta a médica.

Larissa participou do estudo inicial para a vacina da CoronaVac e se imunizou no começo do ano passado. "Quando anunciaram o estudo da CoronaVac eu não pensei duas vezes. Sempre confiei no programa de vacinação brasileiro, e o Instituto Butantan é uma organização muito séria. Na época, eu não sabia, mas eu fui do grupo placebo. Ainda assim, mesmo na linha de frente e atendendo covid 60 horas por semana, eu não fui infectada. Em fevereiro, ao saber que fui placebo, tomei a primeira e a segunda dose da vacina pelo estudo mesmo", destaca a voluntária. "Ficávamos contando os dias para a solução e víamos um isolamento parcial que não estava dando muito resultado. Ficou claro que a única solução era a vacinação. A experiência de participar do estudo foi marcante. Naquele momento, eu, como profissional de saúde e cidadã, estava disposta a dar tudo de mim para contribuir para o fim da pandemia", conta a médica.

A voluntária já tomou a dose de reforço, mas acabou pegando a doença no intervalo entre o ciclo vacinal e a terceira dose. "Eu tive muita esperança na vacina, e os resultados hoje mostram que este é o caminho. Infelizmente, com a cobertura vacinal parcial por razões econômicas nos países subdesenvolvidos ou por razões ideológicas e desinformação, estão surgindo novas variantes e a pandemia continua", avalia Larissa.

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PRI-1501-COVIDE_NUMEROS.jpg (foto: Editoria de Arte)

Confiança

A técnica de enfermagem Joelma de Souza, 38, também participou do estudo inicial para a vacina da CoronaVac. Ela trabalhou na linha de frente, prestando assistência aos pacientes com covid no HUB e no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Joelma afirmou que a disponibilidade do imunizante melhorou bastante os cenários nos hospitais do DF. "O Hran era referência para tratamento da doença na época e, após a chegada da vacina, conforme a disponibilidade para a população, o número de internações por conta da covid foi caindo", destaca.

Joelma é técnica de enfermagem e também foi voluntária
Joelma é técnica de enfermagem e também foi voluntária (foto: Arquivo Pessoal)

Joelma, que está com o esquema vacinal completo, incluindo a dose de reforço, lamentou que o imunizante não chegou a tempo para todos. Ela contou que perdeu uma tia para a doença antes da campanha de imunização chegar na idade em que ela poderia se vacinar. No entanto, a técnica de enfermagem confia na imunização. "Sei que muitas vidas foram salvas devido ao sucesso dos resultados da pesquisa em que participei, e a partir do momento que o imunizante se tornou disponível para população".

Assim como Joelma, o médico Leonardo Gonçalves, 50, também confia na vacina contra covid. Leonardo atua na UTI do Hospital de Ceilândia (HC) e contou que, no início da pandemia, cerca de 80% dos funcionários foram infectados com a covid, e isso atrapalhou o atendimento dos pacientes na unidade. Entretanto, o médico afirmou que a aplicação da vacina nos profissionais da saúde do DF fez com que o número de casos entre os trabalhadores do hospital diminuísse consideravelmente.

Leonardo, que também foi um dos primeiros imunizados, destacou que o novo aumento de casos em Brasília está ligado à falsa sensação de que a pandemia está controlada no DF. "Sabíamos que, com as festas de fim de ano, os números iriam voltar a subir. Mas o que se vê em volta é que parece que não estamos em uma pandemia. Todos que vão a bares, cinemas, etc., andam sem máscara como se o vírus já estivesse controlado", lembrou o médico. Leonardo alerta que, além da vacinação, os cuidados básicos ainda precisam ser tomados. "Não acho que precisamos de um novo lockdown, pois a cobertura vacinal já é considerada segura. No entanto, é necessário continuar utilizando as máscaras de proteção facial, evitar aglomerações e fazer a higiene das mãos com álcool em gel", destaca.

Vacine-se

Para a infectologista Ana Helena Germoglio, a vacinação é imprescindível para que a pandemia seja controlada e os casos graves diminuam cada vez mais. "Desde antes da covid-19, a gente fala que as vacinas são seguras e necessárias. A pandemia só veio chancelar essa ideia, e a gente já sabe agora na vigência dessa variante nova que precisamos, inclusive, de três doses para garantir a imunidade suficiente para não desenvolver a forma grave", destaca Ana.

A médica pontuou também o quão prejudicial é para a sociedade a pessoa que insiste em não se imunizar. "A partir do momento que a gente tem pessoas não vacinadas circulando, além de ser um risco para os outros é um grande risco para a própria pessoa. O vírus vai procurar um ambiente que seja mais favorável para ele, para infectar e para se desenvolver, sendo muito mais provável que infecte uma pessoa não vacinada ou que ainda não tenha completado o esquema vacinal. Quem não vacina realmente conta muito com a sorte de que não vai pegar uma doença, que não vai desenvolver uma doença grave", explica Germoglio.

Questionada sobre o controle sanitário para conter os novos casos, a infectologista pontuou três medidas necessárias, começando pela testagem do maior número de pessoas possível. "Desde que começou a pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já orientou que a gente precisa fazer testagem massiva da população, de forma gratuita e irrestrita, para facilitar o acesso. Só assim a gente mensura e consegue estabelecer medidas efetivas para tentar controlar a doença, para não ficar numa falsa suposição de que a pandemia está controlada", avalia Ana. "Não tem como a gente não controlar a pandemia sem investir em três frentes: prevenção pela vacina, pelas medidas não farmacológicas e pela testagem da população", complementa a médica, explicando que o uso de máscara é necessário para controlar até a transmissão do vírus da influenza, além da preocupação em não manter contato com outras pessoas caso apresente sintomas respiratórios.

A infectologista não acredita que o DF vá sofrer com uma nova onda ao ponto de faltar leitos de unidade de terapia intensiva. "Como a gente tem uma alta taxa de vacinação em Brasília, provavelmente não deveremos ter aquela demanda por leitos que tivemos no início do ano passado, mas a ômicron é tão transmissível que tivemos agora um aumento de casos. Foi só iniciar os festejos de fim de ano que a transmissão aumentou absurdamente. A demanda vai aumentar por assistência de saúde no momento que a gente já está com o problema da influenza, que está precisamente alta agora em Brasília", ressalta.

No entanto, o médico José David Urbaez, infectologista do Exame Imagem e Laboratório/Dasa, afirma que, mesmo assim, é muito importante ficar atento. "A proporção de casos graves é baixa, mas, se você tiver uma transmissão muito mais elevada do que as outras variantes, no final das contas o problema voltará, e isso, com certeza, aumentará a demanda do serviço de saúde, e pode voltar a acontecer situações de colapso da rede assistencial do DF", alerta José David.

Sars-Cov-2 e influenza

Com a divulgação de casos de infecção com os dois vírus (H3N2 e covid-19), acendeu o alerta para que os cuidados continuem e que a vacinação seja a porta de saída para evitar o agravamento do estado de saúde dos infectados. "É mais um motivo de vacinar contra a covid e a influenza, além de manter todos os cuidados. Nesse ambiente de altíssima circulação de dois vírus respiratórios, vai ser cada vez mais comum a gente ter a detecção dos dois casos", finaliza a infectologista.

José David lembra, no entanto, que casos de infecção com dois vírus não são uma novidade. "O que temos são casos de co-infecção ou infecção mista, que não é algo raro. Já aconteceu em outras circunstâncias. Sempre que você compartilha as vias de transmissão, isso pode acontecer, como já aconteceu com infecções mistas, por exemplo, por chikungunya e dengue — pois o aedes aegypti é o vetor para os dois vírus", relata o médico.

 

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    Joelma é técnica de enfermagem e também foi voluntária Foto: Arquivo Pessoal
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    PRI-1501-COVIDE_NUMEROS.jpg Foto: Editoria de Arte
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