Sinais do céu

Severino Francisco
postado em 10/01/2022 00:01

Moro em condomínio e, há três anos, fui de carro com minha mulher para fazer umas compras na Asa Norte, no período da tarde. Tudo estava tranquilo, mas, de repente, desabou um temporal tão intenso, que, mesmo com limpador de para-brisa ligado, era difícil enxergar qualquer coisa a poucos metros de distância. Em um átimo, nos sentimos acuados pela tempestade.

O vento arrastava folhas, sacudia árvores e ameaçava tudo que encontrava pela frente. Foi uma experiência assustadora nos vermos dentro da natureza transtornada. Felizmente, aos poucos, tudo foi serenando e seguimos viagem de volta à casa. Porém, a sensação de desamparo se reaviva com as notícias de temporais que assolam Brasília.

Em muitas cidades do Brasil, a chuva é sinônimo de drama, mas durante muito tempo, não era no Plano Piloto. No entanto, nas últimas décadas, o Plano também perdeu esse privilégio. Os engenheiros apontam as causas: sistema de deficiente, ausência de reparos nas tesourinhas, acúmulo de lixo nas bocas de lobo e adensamento das construções com vedação do solo, o que dificulta o escoamento da água.

A inundação de garagens na Asa Norte tornou-se uma cena recorrente no período das chuvas. Cheguei até a fazer uma crônica com os problemas insanáveis e insolúveis de Brasília, que atravessam governos de direita e de esquerda. É cada vez mais comum a queda de árvores, reviradas, destroçadas e amontoadas perigosamente em cima de carros ou de blocos, invadindo os apartamentos.

No ano passado, os ventos alcançaram a velocidade de 70km por hora. Não sou mais tão magro, mas se estivesse na rua, ele me levava. Em certas ocasiões, o Corpo de Bombeiros tem dificuldade para atender todas as ocorrências. Há vários aspectos a considerar nas mutações sobre o Plano Piloto e sobre o DF. O meu sogro, o doutor Guarany Cabral de Lavor, foi chefe do Setor de Podas e Erradicação da Novacap. Tratava as plantas com tamanho cuidado que ganhou dos colegas o apelido de "Pai das árvores."

Contudo, ele era imbuído do realismo de sertanejo cearense: quando uma árvore representava perigo, não tinha dúvidas em ordenar que fosse cortada. Dizia que muitas precisavam ser erradicadas, no entanto, não havia pessoal suficiente para atender a toda a demanda. E, realmente, vimos que muitas árvores estavam com as raízes comprometidas.

Em estudo sobre as árvores plantadas nas superquadras do Plano Piloto, elaborado a partir de sua observação, ele alertava que algumas espécies eram inadequadas. Além disso tudo, há o problema das alterações no clima, no regime das chuvas e nos ventos. Os cientistas têm alertado que o número de furacões aumentou em vários pontos do planeta nas últimas décadas.

A solução de alguns problemas depende da administração de nosso quintal brasiliense. E outra parte envolve políticas ambientais mais amplas, em escala distrital, estadual, federal e até global. Existe algo a fazer além de rezar?

É preciso votar em governantes que tenham compromissos com o meio ambiente. Alguns não conseguem fazer a manutenção sequer nos viadutos que já existem e querem construir outros maiores e que afetam, gravemente, a escala bucólica. Acho que deveríamos prestar mais atenção, a natureza está nos mandando sinais.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação