Em meio a um cenário preocupante de aumento da transmissão do coronavírus no Distrito Federal, usuários do transporte público reclamam da superlotação. A maioria teme ser contaminada pela variante ômicron, que tem alto grau de disseminação.
A doméstica Maria de Lourdes Silva, 60 anos, trabalha na 207 Sul e pega ônibus todos os dias por volta das 7h, no Recanto das Emas. "Sempre muito cheio. Poucos ônibus para muita gente", critica. Com o aumento dos casos de covid-19, ela relata a preocupação e o medo de contrair o vírus. "Tenho que me cuidar, mas também preciso trabalhar. Tenho gente mais velha em casa, e me preocupo com eles", conta. Para conseguir um ônibus mais vazio, ela precisa ir até a Rodoviária do Plano Piloto e, de lá, tomar outro para chegar em casa. "Tem engarrafamento, demora, tudo fechado e abafado, é desesperador", lamenta.
Moradora de Ceilândia, a jovem aprendiz Júlia Maria Santos Barbosa, 20, também precisa de dois ônibus para chegar ao trabalho, no Núcleo Bandeirante. "A ida é mais tranquila, mas volto no horário de pico, às 18h. Fico apavorada com o ônibus lotado e os vidros fechados por causa da chuva", desabafa. Na última semana, Júlia conta que contraiu influenza e acredita que foi no transporte público. "Não tem máscara que proteja a gente nessas condições. Tenho certeza que foi nesses ônibus lotados. Dessa vez foi só gripe, mas tenho medo de pegar covid-19, a gente fica muito exposto."
Com o distanciamento social, a quantidade de passageiros deveria ser reduzida a cerca de 50% nos ônibus. Em nota, a Secretaria de Transporte e Mobilidade do DF (Semob) informa que desde o início da pandemia determinou às empresas que fosse mantida a operação normal. A pasta garante monitorar o sistema a fim de atender as solicitações de ampliação da oferta de transporte coletivo enviadas pelos usuários, quando possível.
A Semob acrescenta que, no ano passado, os passageiros de ônibus do DF tiveram o reforço de 25 novas linhas e 101 ampliações de itinerários. "Essas medidas foram algumas das mais de 700 intervenções que a Secretaria realizou para melhorar o transporte público coletivo. Ainda, cabe ressaltar que, a fim de conter a disseminação do coronavírus, é realizada a higienização com o uso de desinfetante de Hipoclorito de Sódio-Cloro Ativo, nas partes internas dos coletivos, tais como corrimãos, barras de apoio de sustentação, roletas e apoios de porta", comunica a nota.
Alternativa
Para contornar o problema da superlotação e da falta de ônibus, grande parte dos moradores do Distrito Federal recorre ao transporte irregular. Alternativa mais arriscada.
Em 2019 a infração se tornou gravíssima, podendo resultar em multa de R$ 293,47, além da perda de sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). No mesmo ano, o Departamento de Trânsito (Detran-DF), de Estradas de Rodagem (DER-DF) e a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) registraram 4.156 ocorrências da infração. No ano seguinte, o número caiu 50,14%, com 2.072 autuações. Já em 2021, o número voltou a crescer, aumentando 42,42%, com 2.951 infrações foram registradas.
O Detran-DF tem promovido ações de fiscalização para coibir esse tipo de irregularidade. Mas a redução, de acordo com o diretor de Policiamento e Fiscalização de Trânsito, Glauber Peixoto, se deu por causa das medidas de segurança implementadas pela pandemia. "Principalmente em 2020, foi o auge dos fechamentos, lockdown, teletrabalho e aulas virtuais. As movimentações presenciais reduziram muito", explica.
Peixoto alerta para os perigos desse tipo de transporte. O diretor destaca que, na maioria dos casos, o condutor não é capacitado para esse tipo de transporte, o que pode resultar em acidentes. Além disso, há também riscos de situações criminais. "O passageiro não sabe quem é que está na direção. Recentemente tivemos casos de estupros e diversas outras situações criminais, com grande repercussão. Ocorre de a pessoa entrar no veículo e a intenção do motorista que deveria transportá-lo ser outra", adverte.
Apesar dos riscos, para quem depende do transporte público, em algumas áreas do DF, não há outra alternativa. É o caso da moradora da Vila Pacheco, em Planaltina, Kellen Gabriely Lopes Vieira, 21 anos. Ela conta que usa com frequência o transporte irregular porque há apenas um circular que chega até a região onde mora e que demora mais de uma hora para aparecer. "Durante o dia, pouquíssimos ônibus passam para o Plano, então tenho que recorrer ao pirata que passa toda hora", conta. Segundo ela, o transporte irregular é algo normal na região. "Dá para contar nos dedos quantas vezes no mês a gente pega ônibus ao invés do pirata. Se não fossem eles, não sei como seria minha vida", lamenta.
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