Transporte público

Superlotação expõe ao vírus

Para evitar ônibus lotados, onde há grande chance de contaminação, brasilienses se arriscam no transporte alternativo

Renata Nagashima
postado em 15/01/2022 00:01
 (crédito:  Carlos Vieira/CB/D.A Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

Em meio a um cenário preocupante de aumento da transmissão do coronavírus no Distrito Federal, usuários do transporte público reclamam da superlotação. A maioria teme ser contaminada pela variante ômicron, que tem alto grau de disseminação.

A doméstica Maria de Lourdes Silva, 60 anos, trabalha na 207 Sul e pega ônibus todos os dias por volta das 7h, no Recanto das Emas. "Sempre muito cheio. Poucos ônibus para muita gente", critica. Com o aumento dos casos de covid-19, ela relata a preocupação e o medo de contrair o vírus. "Tenho que me cuidar, mas também preciso trabalhar. Tenho gente mais velha em casa, e me preocupo com eles", conta. Para conseguir um ônibus mais vazio, ela precisa ir até a Rodoviária do Plano Piloto e, de lá, tomar outro para chegar em casa. "Tem engarrafamento, demora, tudo fechado e abafado, é desesperador", lamenta.

Moradora de Ceilândia, a jovem aprendiz Júlia Maria Santos Barbosa, 20, também precisa de dois ônibus para chegar ao trabalho, no Núcleo Bandeirante. "A ida é mais tranquila, mas volto no horário de pico, às 18h. Fico apavorada com o ônibus lotado e os vidros fechados por causa da chuva", desabafa. Na última semana, Júlia conta que contraiu influenza e acredita que foi no transporte público. "Não tem máscara que proteja a gente nessas condições. Tenho certeza que foi nesses ônibus lotados. Dessa vez foi só gripe, mas tenho medo de pegar covid-19, a gente fica muito exposto."

Com o distanciamento social, a quantidade de passageiros deveria ser reduzida a cerca de 50% nos ônibus. Em nota, a Secretaria de Transporte e Mobilidade do DF (Semob) informa que desde o início da pandemia determinou às empresas que fosse mantida a operação normal. A pasta garante monitorar o sistema a fim de atender as solicitações de ampliação da oferta de transporte coletivo enviadas pelos usuários, quando possível.

A Semob acrescenta que, no ano passado, os passageiros de ônibus do DF tiveram o reforço de 25 novas linhas e 101 ampliações de itinerários. "Essas medidas foram algumas das mais de 700 intervenções que a Secretaria realizou para melhorar o transporte público coletivo. Ainda, cabe ressaltar que, a fim de conter a disseminação do coronavírus, é realizada a higienização com o uso de desinfetante de Hipoclorito de Sódio-Cloro Ativo, nas partes internas dos coletivos, tais como corrimãos, barras de apoio de sustentação, roletas e apoios de porta", comunica a nota.

Alternativa

Para contornar o problema da superlotação e da falta de ônibus, grande parte dos moradores do Distrito Federal recorre ao transporte irregular. Alternativa mais arriscada.

Em 2019 a infração se tornou gravíssima, podendo resultar em multa de R$ 293,47, além da perda de sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). No mesmo ano, o Departamento de Trânsito (Detran-DF), de Estradas de Rodagem (DER-DF) e a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) registraram 4.156 ocorrências da infração. No ano seguinte, o número caiu 50,14%, com 2.072 autuações. Já em 2021, o número voltou a crescer, aumentando 42,42%, com 2.951 infrações foram registradas.

O Detran-DF tem promovido ações de fiscalização para coibir esse tipo de irregularidade. Mas a redução, de acordo com o diretor de Policiamento e Fiscalização de Trânsito, Glauber Peixoto, se deu por causa das medidas de segurança implementadas pela pandemia. "Principalmente em 2020, foi o auge dos fechamentos, lockdown, teletrabalho e aulas virtuais. As movimentações presenciais reduziram muito", explica.

Peixoto alerta para os perigos desse tipo de transporte. O diretor destaca que, na maioria dos casos, o condutor não é capacitado para esse tipo de transporte, o que pode resultar em acidentes. Além disso, há também riscos de situações criminais. "O passageiro não sabe quem é que está na direção. Recentemente tivemos casos de estupros e diversas outras situações criminais, com grande repercussão. Ocorre de a pessoa entrar no veículo e a intenção do motorista que deveria transportá-lo ser outra", adverte.

Apesar dos riscos, para quem depende do transporte público, em algumas áreas do DF, não há outra alternativa. É o caso da moradora da Vila Pacheco, em Planaltina, Kellen Gabriely Lopes Vieira, 21 anos. Ela conta que usa com frequência o transporte irregular porque há apenas um circular que chega até a região onde mora e que demora mais de uma hora para aparecer. "Durante o dia, pouquíssimos ônibus passam para o Plano, então tenho que recorrer ao pirata que passa toda hora", conta. Segundo ela, o transporte irregular é algo normal na região. "Dá para contar nos dedos quantas vezes no mês a gente pega ônibus ao invés do pirata. Se não fossem eles, não sei como seria minha vida", lamenta.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

  •  14/01/2022  Cidades. Transporte publico e a transmissao dos virus: covid, influenza. Maria Lourdes da Silva no ponto de onibus. Paradas cheias.
TAGUATINGA - AV. DAS PALMEIRAS
    14/01/2022 Cidades. Transporte publico e a transmissao dos virus: covid, influenza. Maria Lourdes da Silva no ponto de onibus. Paradas cheias. TAGUATINGA - AV. DAS PALMEIRAS Foto: Carlos Vieira/CB
  •  14/01/2022  Cidades. Transporte.  Transporte publico e a transmissao dos virus: covid, influenza. Maria Lourdes da Silva no ponto de onibus. Paradas cheias.
TAGUATINGA - AV. DAS PALMEIRAS
    14/01/2022 Cidades. Transporte. Transporte publico e a transmissao dos virus: covid, influenza. Maria Lourdes da Silva no ponto de onibus. Paradas cheias. TAGUATINGA - AV. DAS PALMEIRAS Foto: Carlos Vieira/CB

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação