CB.Poder

"Procura quatro vezes maior"

Especialista diz que pessoas estão procurando pronto-socorro no primeiro dia dos sintomas; fila de espera chega a 4 horas

Bernardo Guerra*
postado em 01/02/2022 00:01
 (crédito:  TV Brasília/Reprodução)
(crédito: TV Brasília/Reprodução)

Entrevistado pelo CB Poder, o clínico geral e coordenador do pronto-socorro do Hospital Santa Lúcia Sul, Luciano Lourenço, conta que a unidade está atendendo de 800 a mil pessoas com queixas de sintomas gripais a cada dia. Ele afirma que a ômicron pode infectar ao menor descuido. Mas, alerta que as pessoas que estão sentindo sintomas de covid-19 estão procurando atendimento médico de forma precipitada ao ir para os pronto-socorros no primeiro dia de sintomas. Segundo o especialista, essas procuras antecipadas por atendimento tem causado uma mudança na dinâmica de combate à doença, já que muitos testes podem ter um resultado falso-negativo. O programa CB.Poder é realizado em parceria entre a TV Brasília e o Correio Braziliense.

Qual cenário os profissionais enfrentam hoje no
pronto-socorro do
Hospital Santa Lúcia Sul?

"Estamos com um volume quatro a cinco vezes maior do que em outros momentos. Pacientes que chegam com algum sintoma relacionado às vias respiratórias superiores ou inferiores, ou até sintomas mais inespecíficos, como febre, dor no corpo, diarreia."

Isso dá uma média de quantos atendimentos por dia? E quantos casos são covid e quantos  acabam sendo só uma gripe comum, ou, até mesmo, a H3N2 ou a H1N1?

"Estamos em um momento que precisamos falar de covid, da influenza, em especial a H3N2 e, além disso, da dengue. As três são doenças virais com sintomas que se confundem muito. Isso gera para a gente, no pronto-socorro, em torno de 800 a mil atendimentos a cada 24 horas na clínica médica com pacientes se queixando de sintomas gripais. Isso devido a uma série de peculiaridades desse momento, com natal, reveillon, férias escolares e as viagens, e, junto com isso, uma variante de capacidade de transmissão muito alta, a ômicron."

As pessoas estão indo ao hospital procurar atendimento e orientação?

"É raro a gente ter um paciente que chega lá e não comente que está preocupado com o pai, com o filho ou com algum ente querido que é imunodeprimido. A gente percebe que as pessoas estão buscando o pronto-socorro de uma forma muito precoce. O paciente acordou com algum sintoma gripal e já procura o pronto-socorro atrás de informações e avaliações médicas. Por causa disso, a gente vê esse volume gigantesco de pessoas aguardando. O tempo de espera chega a quatro horas no pronto-socorro."

Com todas essas variáveis, qual é o momento certo de procurar o atendimento, seja na rede pública ou privada?

"Com sintomas leves, o ideal é que você tenha pelo menos três dias para que a avaliação se torne mais eficaz e o exame também já poderá ser solicitado no pronto-socorro dos hospitais que têm o teste disponível. Isso pode ser antecipado quando os sintomas gripais são mais intensos, diferentes de outros que você já foi acometido, uma febre mais persistente, refratária aos antitérmicos como o dipirona ou paracetamol, artralgia muito intensa (dor nas articulações), dores musculares, tosse muito intensa, falta de ar também são sintomas muito importantes. Normalmente, a falta de ar no início da infecção sugere tendência ao quadro mais grave, inclusive com necessidade de internação."

Em relação a ômicron, a equipe médica já consegue reunir alguns sintomas clássicos que diferem das variantes anteriores?

"A gente já percebeu um acometimento um pouco mais agressivo em vias aéreas superiores: de garganta, de amígdalas, da faringe, de seios da face. A gente está observando isso em mais de 50% dos pacientes, além de ter também a queixa da dor na garganta. Um sintoma mais tardio, a gente vem vendo muito com relação ao cansaço persistente. Às vezes o paciente já até cumpriu o tempo de isolamento para os sintomas leves, mas não consegue praticar as atividades físicas que praticava antes, voltar ao trabalho. Se formos separar dois sintomas que são mais específicos da ômicron, é um acometimento um pouco mais severo das vias aéreas superiores e uma prostração um pouco maior."

Nós estamos, como o senhor disse, em fase de aumento de casos de dengue, mais as gripes que são comuns nessa época do ano. Como a pessoa diferencia um sintoma do outro?

"Para essa confirmação a gente precisa muito da avaliação laboratorial. Porém, existem alguns sinais que são clássicos. A dengue tem um acometimento de erupção cutânea e vermelhidão na pele que quando a gente vê já sabe que a probabilidade de ser dengue é muito alta, além um acometimento mais relacionado com às gastroenterites, à diarreia, ao desconforto abdominal. Quanto à covid, a gente sempre pensa nas vias respiratórias, falta de ar. E na influenza, o H1N1, o H3N2 e os vírus relacionados aos resfriados e às gripes mais leves, normalmente os sintomas são menos severos. Mas a confirmação, só com os exames."

Quando a gente tem contato com uma pessoa que reporta ter se infectado, qual procedimento deve adotar?

"O isolamento sem sombra de dúvida. Se você teve um contato um pouco mais direto, acima de duas horas, e compartilhou momentos sem máscara, é importante um tempo de cinco dias de isolamento e, logicamente, observar se os sintomas vão se desenvolver. 

*Estagiário sob a supervisão
de Layrce de Lima

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