Mesmo em meio à alta de casos de covid-19, o Distrito Federal não tem percebido diminuição na circulação de pessoas nos transportes públicos. A falta de alternativa de deslocamento — somada à impossibilidade de trabalho remoto e à necessidade de manter o emprego em um cenário de crise — faz com que milhares de pessoas se arrisquem, diariamente, nos veículos coletivos do DF.
Segundo a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob), atualmente, 892 mil acessos são feitos, em média, aos transportes públicos do Distrito Federal todos os dias. Apesar da emergência sanitária, o número é próximo ao observado em 2019, sendo apenas 8% inferior à média de acessos diários de antes da pandemia, quando o registro ficou em 969.791. No dia a dia, o medo e a insegurança da população acabam exacerbados pela situação dos ônibus e trens do metrô da capital federal, palcos de aglomerações e uso não adequado de máscaras.
O auxiliar administrativo Luan Felipe, 22 anos, passa três horas diárias nos coletivos do DF, entre embarques e desembarques. Enquanto aguardava na Estação Ceilândia Centro, do metrô, o jovem relatou à reportagem que utiliza o transporte público seis vezes por dia. "São dois ônibus e um metrô por trecho. Geralmente, os ônibus estão cheios. No começo da pandemia, quando o Metrô-DF estava de greve, era bem complicado, pois, na parte da manhã, os trens ficavam muito lotados", lembrou ele, que teve covid-19 duas vezes. Luan também afirmou que se sente receoso por ter de encarar essa rotina nos transportes públicos. "Eu me sinto bastante inseguro. Eu tenho um irmão que tem apenas cinco meses e fico com medo de expô-lo, só que acabo ficando de mãos atadas, pois preciso sair de casa para trabalhar", lamentou Luan, que mora com a mãe.
O estudante Wesley Costa, 26, tem paralisia infantil e depende do transporte público para cumprir a rotina diária de estudos. Sentado na parada de ônibus da Avenida Hélio Prates, em frente à estação Ceilândia Centro, ele afirmou que evita carros cheios. "Enfrentar essa rotina de ter de pegar um ônibus lotado, quando não tem opção, é bem ruim. A gente está vivendo uma pandemia e, por isso, não me sinto seguro", ressaltou. "Quando isso acontece, uso bastante álcool em gel e busco lugares mais afastados dentro da condução", detalhou o estudante, que chega a dispensar até seis ônibus por dia e ficar uma hora a mais nos pontos em busca de veículos vazios.
Perigos
O infectologista do Exame Imagem e Laboratório/Dasa José David Urbaez alerta que, nos transportes públicos, há grandes aglomerações de pessoas em espaços muito reduzidos e por tempo prolongado. "Esses são os três componentes fundamentais para promoção ativa do vírus. Soma-se a isso o fato de a variante ômicron ser muito transmissível", destacou o médico. Para o infectologista, a solução mais plausível seria o aumento da frota, tanto do metrô quanto dos ônibus, para dispersão de passageiros em mais unidades. "Além disso, pode ser feita a distribuição de máscaras com alto poder de filtração, como a PFF2 e a N95, que podem combater de forma mais eficaz a transmissibilidade do coronavírus", indicou.
As precariedades não ficam restritas aos usuários do transporte público. Uma equipe do Correio abordou alguns motoristas e cobradores na Rodoviária do Plano Piloto. Durante as conversas, eles afirmaram que não se sentem seguros, porque atuam em rotas utilizadas por várias pessoas e em ônibus lotados.
A maior parte das reclamações são em relação aos usuários. Segundo um cobrador, que não quis se identificar, é muito frequente ver passageiros sem máscaras ao entrar nos ônibus. "O motorista que roda comigo está sempre atento e, quando acontece uma situação como essa, pede que o passageiro coloque a máscara. Nos casos mais extremos, ele avisa que, infelizmente, não vai deixar embarcar", relatou.
Empresas
Procurada pelo Correio, a Semob informou que "toda a frota do sistema está em operação" para conter aglomerações, mesmo que os meses de dezembro e janeiro registrem, tradicionalmente, menos usuários. Além disso, segundo a secretaria, medidas de segurança como higienização dos ônibus, álcool em gel nos coletivos e obrigatoriedade do uso de máscaras seguem em vigor desde o início da pandemia. "A Semob permanece fiscalizando o cumprimento", destacou a pasta, em nota. As cinco concessionárias que operam no serviço de ônibus do DF oferecem, juntas, 2,8 mil veículos. O metrô do DF conta com 32 trens.
O Correio entrou em contato com todas as empresas que participam do serviço de transporte coletivo na capital federal. A Viação Piracicabana optou por não enviar manifestações. As concessionárias Pioneira, Marechal e São José informaram que "desde o início da pandemia têm tomado os cuidados para garantir a saúde dos rodoviários e passageiros." Em nota, as empresas afirmaram que todos os veículos das frotas são "higienizados entre as viagens e quando retornam para as garagens." De acordo com as concessionárias, os colaboradores receberam máscaras e há álcool em gel para uso nos ônibus, garagens e terminais.
A Urbi Mobilidade também respondeu, em nota, que toma os mesmos cuidados que as demais empresas. "Campanhas de conscientização são feitas frequentemente para a manutenção de janelas abertas durante todo o trajeto das viagens, além de monitorar constantemente as linhas para evitar superlotação", acrescentou o texto.
A Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) afirmou que também segue todos os protocolos de segurança desde o início da crise sanitária. Além disso, o Metrô destacou que "está, continuamente, revisando protocolos, diante da oscilação no número de contágios. Havendo casos positivos, o afastamento é imediato, mesmo sem atestado médico", informou em nota.
A reportagem questionou todas as concessionárias quanto ao número de vítimas da covid-19, mas apenas a Urbi Mobilidade e o Metrô-DF responderam. Na empresa de ônibus, foram registrados nove óbitos em decorrência da doença. No metropolitano, os dados disponíveis dizem respeito somente a 2022 — foram 117 casos, sem mortes registradas. O Correio também perguntou sobre afastamentos de colaboradores por conta da covid-19, e somente o Metrô-DF retornou o pedido. "Atualmente, estão afastados 21 colaboradores, sendo quatro pilotos." Segundo a empresa, há 177 condutores e 1.150 funcionários.
Números do transporte
do DF
Acessos médios diários
2019 969.791
2020 543.301
2021 642.144
2022 892 mil
Fonte: Semob
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