Demolição /

Lares que viraram entulhos

O edifício que desabou parcialmente em 6 de janeiro, em Taguatinga Sul, foi demolido ontem. Trabalhos, incluindo a remoção dos entulhos, devem durar 15 dias. Antigos moradores presenciaram o momento da destruição do prédio

Arthur de Souza Bruna Lessa*
postado em 04/02/2022 00:01
 (crédito: Fotos: Ed Alves/CB/D.A.Press)
(crédito: Fotos: Ed Alves/CB/D.A.Press)

Foi demolido, ontem, o prédio que desabou parcialmente, em 6 de janeiro, em Taguatinga Sul. Uma empresa contratada pelo dono da estrutura, localizada na QSE Área Especial 20, foi responsável pela operação. A Defesa Civil do Distrito Federal (DCDF) coordenou do processo e montou um Posto de Comando de Incidentes (SCI) no local, para garantir a segurança e a organização da demolição.

De acordo com a Defesa Civil do Distrito Federal (DCDF), inicialmente, a expectativa para a conclusão da demolição era de dois dias. Mas, por volta das 15h20 de ontem, o serviço foi concluído. "Na parte da manhã, ainda no início dos trabalhos, nós tínhamos noção de que ele estava sendo bem desenvolvido e de que havia possibilidade de encerrarmos hoje (ontem). Um pouco depois das 15h, toda a estrutura estava no chão", declarou o coronel-chefe Franco, da DCDF.

Segundo o coronel, não há risco dos escombros atingirem ou prejudicarem o prédio ao lado. O material que restou da demolição vai demorar cerca de 15 dias para ser retirado totalmente, pois a empresa responsável fará diversas viagens para levar o entulho a um local adequado ao descarte. O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), a Defesa Civil, a Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística do Distrito Federal (DF-Legal) e outros órgãos vão continuar acompanhando a operação nos próximos dias.

O prédio vizinho à edificação demolida foi parcialmente afetado pelos trabalhos, porém, sem gravidade, de acordo com o coronel Franco. "Pouca coisa foi atingida no prédio ao lado, o impacto foi mínimo. O proprietário já contatou um engenheiro, tanto que ele fez o escoramento quando houve o desabamento parcial. Então, ele conseguiu manter a estrutura da melhor forma para que o local possa ser recuperado o quanto antes. Mas, de fato, ele precisava esperar que o trabalho de demolição fosse concluído para fazer a devida manutenção", esclareceu.

Moradores

A manicure Cristiane Nascimento, 43 anos, era moradora do segundo andar do prédio e acompanhou o início da demolição. Para ela, a operação representa o ponto final em um ciclo da vida dela e dos moradores que passaram dias esperando autorização para conseguirem retirar seus pertences do local.

A manicure revelou que ladrões entraram no prédio e levaram pertences dos moradores. "A gente tirou um deles (ladrão) de lá à força. A polícia o levou, mas ele foi liberado, saiu da delegacia primeiro que eu, que fui para registrar ocorrência", relatou. Nessa última ida ao prédio, antes da demolição, Cristiane conseguiu reaver uma bandeira do Flamengo. "A gente conseguiu chegar perto dos escombros e puxar a bandeira. Foi a única coisa que peguei da minha casa", disse a moradora.

Outra antiga moradora, a dona de casa Mônica dos Santos, 36, também relatou sensação de alívio ao ver o local sendo demolido. Assim como outros moradores, Mônica tinha a esperança de conseguir pegar alguns dos pertences que ficaram para trás. Para a dona de casa, a operação vai ajudar a pôr um fim na ação de ladrões, que frequentemente agiam no local. "O pessoal estava reclamando muito de invasão. Ontem mesmo, a gente flagrou pessoas roubando, fomos para a delegacia e, na hora, o ladrão foi solto, e ainda saiu rindo da nossa cara", detalhou.

Mônica relatou que pediu dinheiro emprestado para conseguir viver após o desabamento. "Eu estava morando de favor na casa de uma amiga, só que lá acabou ficando pequeno. Eu consegui um dinheiro emprestado para poder pagar aluguel", disse. Além do empréstimo para o aluguel, ela disse que está conseguindo doações. "Graças a Deus, eu estou recebendo muitas coisas. Até ontem (anteontem), eu consegui pegar umas cestas. Então, no momento, eu estou vivendo de doações mesmo".

Moradora do apartamento de número 103, no primeiro andar do edifício, a professora Adriana Alves Ribeiro, 44, afirmou estar vivendo um misto de sentimentos com a demolição. "Eu saí de casa com a roupa do corpo no momento da evacuação. Então, é aquela sensação de gratidão por estar viva e, ao mesmo tempo, de morte da história, porque eu não pude tirar nada, mexer em nada", lamentou. Sobre os acordos que estão sendo feitos com os moradores, a professora disse não ter recebido nenhuma posição do dono do prédio e queixou-se sobre a frieza dele. "É muito triste você ver uma roupa sua ali e não poder chegar perto. Em nenhum momento ele compartilhou dessa dor com a gente".

Em nota, o proprietário do edifício disse que, até o momento, oito acordos já foram celebrados e mais um estava sendo firmado ontem. Além disso, o comunicado afirmou que todos os acordos já foram pagos. "Doze pessoas não quiseram fazer acordo e vão recorrer à Justiça. A moradora em questão não recebeu, pois optou por não entrar em acordo. Isso é um direito da moradora, e ela optou por judicializar", concluiu.

Colaborou Rafaela Martins

*Estagiária sob a supervisão de Adson Boaventura

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  • Demolição começou às 8h30
na QSE 20, de Taguatinga Sul
    Demolição começou às 8h30 na QSE 20, de Taguatinga Sul Foto: ED ALVES/CB/D.A.Press
  • Em 2 de fevereiro, a construção foi demolida, por ordem da Defesa Civil, sem perícia mais detalhada
    Em 2 de fevereiro, a construção foi demolida, por ordem da Defesa Civil, sem perícia mais detalhada Foto: Fotos: Ed Alves/CB/D.A.Press
  • Trabalhos de demolição foram 
coordenados pela Defesa Civil
    Trabalhos de demolição foram coordenados pela Defesa Civil Foto: ED ALVES/CB/D.A.Press
  • Previsão inicial da Defesa Civil era 
de que a demolição durasse dois dias
    Previsão inicial da Defesa Civil era de que a demolição durasse dois dias Foto: ED ALVES/CB/D.A.Press
  • Antigos moradores relataram alívio com a demolição do prédio
    Antigos moradores relataram alívio com a demolição do prédio Foto: ED ALVES/CB/D.A.Press
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