Diplomas, passaportes, álbuns e jóias de família. Relógios que, infelizmente, não podem fazer o tempo voltar. Objetos com valor sentimental e financeiro, que foram enterrados entre pedaços de concreto, tijolos e barras de ferro retorcidas do prédio demolido na última quinta, em Taguatinga Sul. A construção desabou parcialmente há um mês e, desde então, nenhum dos inquilinos conseguiu entrar no prédio para retirar os próprios pertences, devido à instabilidade da edificação. Após a conclusão da demolição da estrutura, funcionários da empresa contratada pelo proprietário da edificação começaram a garimpar os pertences dos moradores, com o intuito de recolher o máximo de bens com valor documental e afetivo para devolver às 22 famílias que moravam no prédio.
Hoje, os objetos parecem uma colcha de retalhos: quem os recuperar, costura pedaços de sua história. É o caso da manicure Cristiane Nascimento Da Costa, 43 anos, que guardava, com carinho, álbuns de fotos da família reunida com sua falecida mãe. Hoje, ela chora o peso de não poder acessar essas memórias. "Eram as lembranças que tinha dela", lamenta. Cristiane morava no prédio há oito anos, até que o desabamento aconteceu. Para ela, o processo de perda dos bens foi doloroso. "Foi muito difícil, porque sou mãe solo. De repente, me ver na situação que estava, sem ter nem roupa para vestir, foi muito complicado. Hoje, nós estamos vivendo uma nova fase, aguardando a possibilidade de recuperar algo", diz.
Os itens estão sendo recolhidos durante o processo de retirada dos escombros, que deve durar dez dias. Após esse prazo, Cristiane e outros moradores poderão entrar em contato para buscar mais informações e retirar os objetos pessoais. Na retirada, os moradores deverão assinar um documento de responsabilidade. "Os materiais só serão encaminhados para a Defesa Civil ao final do processo de retirada dos entulhos", garantiu a assessoria do prédio, por meio de nota. Ainda não há definição sobre o destino do terreno. "Todo o descarte de resíduos sólidos será feito considerando as normas vigentes, com direcionamento da Defesa Civil. A coleta do entulho começará na próxima terça, e será direcionada a um aterro credenciado, no Riacho Fundo", informou.
Recomeço
"Uma luz no fim do túnel", é como Cristiane define a possibilidade de ter acesso a algum de seus bens. "Não conseguimos retirar nada, então se conseguirmos nem que seja algum documento, já é um passo para recomeçar. Tem coisas que não podemos ter de volta, como fotos de família. Mas para quem não tem nada, qualquer coisa já é sinônimo de mudança", explica. Depois que o prédio desabou, a manicure ficou alguns dias no hotel. "Hoje, quase um mês depois, já consegui alugar uma casa e estou retomando minha vida normal. Seguimos, com passos curtos vamos conseguindo retomar", completa.
O edifício, de quatro andares e 24 unidades habitacionais, tinha 19 apartamentos ocupados. Havia, ainda, uma mecânica de tratores, que funcionava no prédio. O dono, Rabib Baragchun, 64, conta que o prejuízo foi grande. "Além dos meus pertences tinha coisas de clientes na loja", explica. O empreendedor conta que está em contato com o advogado para analisar como deve proceder. "Eu tive que tomar as minhas providências, ele entrou com o processo e estamos aguardando para ver como vai ser", diz.
Acordos
Até o momento, nove acordos foram firmados entre os moradores prejudicados pelo desabamento do prédio e o proprietário da construção. As demais treze famílias, que não aceitaram a proposta de acordo, deverão judicializar as suas demandas. "Reforçamos que o proprietário segue prestando as informações necessárias para a condução das investigações e tomando as medidas cabíveis para minimizar os impactos do ocorrido. Sabemos que nada irá reparar os danos causados, mas temos buscado resolver todas as demandas, dentro do possível", ressalta a assessoria.
Serviço
Os moradores que desejam retirar seus pertences devem entrar em contato com a Defesa Civil através do WhatsApp (61) 99238-6214, a partir do
dia 18 de fevereiro.
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