Quem tem um bar favorito me entenderá. Esse ambiente boêmio não é apenas um local onde pessoas bebem. Se você tem um bar favorito, muito da sua vida acaba se passando por lá, e isso não significa que você seja um alcoólatra (talvez seja, mas aí já é outra história). Mas não estou falando apenas de beber.
A relação entre frequentador e bar favorito vai além da boêmia. É onde você conta e ouve histórias, faz amizades com o pessoal da cozinha e os donos. Com os garçons, com a turma que limpa a bagunça, com os clientes e também com sua futura esposa, por que não? Sim, no meu caso, a conheci no Goodfellas, em Taguatinga. Bar onde também lancei meu primeiro romance, que teve uma audiência fiel na noite de autógrafos: amigos frequentadores e trabalhadores do bar.
O Goodfellas é um dos pouquíssimos bares onde me sinto a vontade para ir sozinho, sentar ao balcão ou a uma mesa sem que ninguém me ache estranho, depressivo ou alcoólatra. Lá, tenho comanda fixa, conheço a vida dos funcionários e dos proprietários, e eles a minha. Gustavo, da cozinha, será pai em breve. Ele também fez curso de hipnose e sabe estralar as costas das pessoas. Kennedy, seu colega de coifa, sempre vem me dar um oi entre uma pausa e outra para o cigarro e perguntar como vai a vida. Ele também gosta de games e de histórias bizarras (aliens, teorias da conspiração...).
Antes deles, na cozinha havia o Toy, pai do Stan e da Stella (e vem mais uma pequena em breve). Excelente chefe, autodidata, que fez o cardápio da casa. Atrás do balcão, fica o Highlander (sim, o nome dele é esse mesmo, em homenagem ao guerreiro imortal do cinema — sua mãe deveria ser grande fã do personagem, imagino). Todo fim de ano, faz festa de réveillon em sua casa na qual eu sempre sou convidado.
Também atrás do balcão fica o Ronald, com seus excelentes drinks. Quando chego, já vai servindo o meu favorito, Boulevardier, uma variação do Negroni. Ou uma variação do Fernett cola, com scotch e jagermeister. E ele sempre me pede opinião quando inventa um drink novo para o cardápio. Tem o Thiago, ou popularmente conhecido como Frodo, um dos meus grandes amigos (se não o maior, apesar da sua baixa estatura). Ele gosta tanto do bar que se tornou sócio recentemente, junto com o nosso imortal Highlander. E eis que a família Goodfellas, iniciada pelo Ricardo, meu amigo de adolescência, cresceu.
Durante o início da pandemia, passaram por maus bocados, como quase todo o setor. Aos poucos, foram se reerguendo. Um dos diferenciais do bar, um pequeno cinema no mezzanino, ainda não voltou a funcionar devido à crise sanitária. Mas o Goodfellas Cinebar nasceu com a proposta de agregar diversão e cultura, com sessões diárias de cinema (o nome da casa faz referência ao filme Os bons companheiros, inclusive).
Enquanto o cinema não volta, fico com os vários outros atributos que fazem do Fellas meu bar favorito. Os drinks, a cerveja gelada, os petiscos originais (experimentem o Bacurau ou algum dos hambúrgueres) e as amizades, dentre elas a de Brenda, minha noiva. Lá nos conhecemos, em uma mesa com outras duas pessoas. Na ida para casa, cada um chamou um carro por aplicativos diferentes. O motorista chegou e nós fomos em direção ao veículo. E eis que descobrimos que, curiosamente, iríamos dividir o mesmo transporte até nossas casas. Sim, meio que coisa de cinema (tinha de ser no Goodfellas Cinebar).
O condutor propôs deixá-la primeiro e depois vir me buscar. Mas a viagem para a casa dela era caminho para a minha, e então resolvemos dividir a corrida. Ela primeiro me deixou na porta do meu prédio, e eu ainda fui ousado e a convidei para conhecer minha coleção de vinil — o que ficou para depois. Mas tudo foi o início de uma bela amizade e parceria. Para as fotos de casamento, com certeza, o Goodfellas será uma das locações, ela garante.
E pelo menos uma vez na semana passamos por lá para tomar uma cerveja e rever os amigos. Se o trabalho é minha segunda casa, o Good deve ser a terceira. Parabéns por todo o trabalho, queridos, inclusive os freelanceres e ex-funcionários. E até o próximo drink, Fellas.
PS. Desconto na próxima conta, heim?
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