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Especialistas em segurança listam perigos da escolta armada em Taguatinga

Para especialistas, escolta armada reflete fiscalização frágil e quebra protocolos de segurança. Ontem, entrou em vigor lei que facilita o porte de arma de fogo para colecionadores, desportistas e caçadores

Darcianne Diogo
postado em 25/02/2022 06:00
À polícia, envolvidos alegaram que armas eram de pressão -  (crédito:  Crédito:Reprodução/Rede Sociais)
À polícia, envolvidos alegaram que armas eram de pressão - (crédito: Crédito:Reprodução/Rede Sociais)

A escolta de homens armados para o desfile de uma mulher vestida de vermelho na nas ruas da Avenida Samdu Norte virou caso de polícia e pode ter graves consequências para os envolvidos. Para além do gosto duvidoso, a conduta dos envolvidos no ensaio fotográfico de casamento é investigada pela 17ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Norte) e ainda pode contar com a participação do Exército Brasileiro, já que as armas apreendidas pertenceriam a um clube de tiro. Especialistas ouvidos pelo Correio apontaram as irregularidades, riscos e possíveis penalidades em que os participantes do episódio podem ser enquadrados.

O gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, trabalha com controle de armas de fogo há cerca de 10 anos. Ele afirma que, nos últimos anos, especialmente após o governo Bolsonaro, ocorreram uma série de privilégios e benefícios para os CACs, sigla para designar os clubes que reúnem atirador desportivo, caçador ou colecionador. As medidas teriam ocasionado um descontrole na fiscalização. "Antigamente, o CAC não tinha permissão para comprar fuzis. Hoje, temos visto um abuso dessa regra. É importante ressaltar que há uma pressão política contra a fiscalização. As pessoas se sentiram confortáveis para portar armas e é um caso de grande gravidade", afirmou.

Bruno explica que as armas de airsoft são identificadas por uma ponteira laranja, justamente para diferenciá-las das reais. "Se os envolvidos nesse caso tiverem tirado essa ponteira, estariam infringindo a legislação. Mesmo que sejam armas de fogo legalizadas e em nome das pessoas que estão segurando, não existe autorização para portar essas armas longas nas ruas. A atuação da Polícia Civil foi extremamente importante. Se isso virar moda, vamos ver um grupo de CACs saindo na rua para patrulhar", enfatizou.

O especialista em segurança pública Leonardo Sant'Anna ressalta os riscos da situação. "Eles seguravam armas que supostamente eram reais. Se passa um criminoso, essa pessoa pode se tornar vítima, além das outras que estão ao redor. São armas que podem acabar caindo na mão de bandidos. Mesmo a arma usada para lazer, esporte, como espingardas ou de chumbinho, que lançam bolinhas de metal, precisamos considerar os ferimentos de menor gravidade que podem se agravar quando partes do corpo, como os olhos, forem atingidos."

Sant'Anna alerta que as armas de airsoft devem manter o mesmo padrão de segurança das que são reais. "Naquele local, não deve-se portar arma daquela maneira, pois não se trata de um espaço adequado para manuseio", frisou.

A PCDF apura o caso e, a depender do andamento das investigações, os envolvidos podem responder por porte ilegal de arma de fogo, com pena de quatro anos de prisão e multa.

Porte garantido

Curiosamente, ontem, entrou em vigor a Lei Nº 7.065, de 17 de fevereiro de 2022, que facilita o porte de arma de fogo para colecionadores, atiradores desportivos e caçadores (CACs) no DF.

A lei, de autoria do deputado Rodrigo Delmasso (Republicanos), foi publicada no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF). Em 8 de fevereiro, a Câmara Legislativa (CLDF) derrubou o veto do governador Ibaneis Rocha (MDB) ao PL.

Ao Correio, Delmasso explicou que o reconhecimento da necessidade de porte para os CAC's é um requisito que a legislação federal exige para a emissão do porte de arma. "Os CAC's já transportam as armas, mas não podem portá-las durante o transporte, ou seja, eles precisam transportar a arma quando vão aos clubes de tiro e demonstrar que não estão portando a arma. Isso não vai facilitar o porte, mas sim reconhecer a necessidade dos CAC's a portarem armas.", tentou explicar.

Questionado sobre o caso da "dama de vermelho", que viralizou nas redes sociais, o parlamentar repudiou a atitude do grupo. "Os envolvidos deveriam perder o CR — documento que comprova que você está autorizado a desempenhar a atividade de CAC — e o registro", sentenciou.

 

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