Homenagem /

Fotojornalismo de luto

Dida Sampaio sofreu um AVC em 10 de fevereiro, não conseguiu se recuperar e teve morte cerebral

Rafaela Martins
postado em 26/02/2022 00:01
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

O fotojornalismo brasileiro perdeu uma referência profissional, política, social e humanitária. O fotógrafo Francisco de Assis Sampaio, mais conhecido como Dida Sampaio, 52 anos, contava histórias por meio das lentes e dos cliques de suas câmeras. Os registros do fotógrafo rodaram o mundo e ganharam prêmios importantes da América Latina. O comunicólogo sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em 10 de fevereiro e teve morte cerebral confirmada, ontem, pelos médicos.

"Estou tentando absorver a notícia ainda. Dida Sampaio foi excepcional, uma pessoa e jornalista ímpares, e um fotógrafo que não tem outro igual. Fizemos diversas coberturas internacionais e nacionais juntos, e ele me ajudava sempre. Costumo dizer que o Dida era o melhor e o pior concorrente, porque ele tirava o melhor de mim", disse o fotógrafo e amigo Alan Marques. Casado, Dida deixa a esposa Ana e três filhos.

Nascido em 1969, no Ceará, Dida mudou-se ainda jovem para Brasília, onde, além de trabalhar no Correio Braziliense, também foi correspondente de outros jornais e portais de fora da capital federal. Com uma foto da ex-presidente Dilma Rousseff pedalando em uma via pública de Brasília, com um lava-jato ao fundo (uma referência à extinta operação da Polícia Federal), Dida Sampaio ganhou o Prêmio Exxonmobil de Fotografia em 2015.

No mesmo ano, ele ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, na categoria Regional Sudeste, o Vladimir Herzog e o Direitos Humanos de Jornalismo, Esso de Fotografia. O jornalista trabalhava atualmente no jornal O Estado de S. Paulo.

O trabalho de Dida também fez parte de exposições, como uma realizada no Centro Português de Fotografia, em janeiro de 2011, com o título Narrativas Brasileiras, em Lisboa. Em 2020, no começo da pandemia no Brasil, Dida Sampaio foi agredido por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, em frente ao Palácio do Planalto. A ação foi repudiada pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e pela Associação Nacional dos Jornais (ANJ), que apoiaram o fotógrafo.

Referência

Educado, comunicativo e sorridente, Dida Sampaio andava pelos anexos da Câmara dos Deputados dia e noite. Quem teve a possibilidade de cruzar com o profissional, comenta que ele era extremamente cuidadoso e exigente com o trabalho, porém ajudava a todos. É o caso do diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal Wanderlei Pozzembom.

"Neste momento que precisamos sair em defesa do jornalismo. A perda de Dida Sampaio nos deixa um pouco órfãos. Ele ajudaria a salvar essa profissão, mas com certeza ele eternizou a história fotográfica da política brasileira. Como profissional, ele era excelente, então, ele deixa um legado enorme para o fotojornalismo. Sem contar que o Dida era um amigo de verdade", ressaltou.

O empresário Ailton de Freitas também lembra de Dida como um grande amigo. Ailton foi parceiro de trabalho do fotógrafo e lembra do companheirismo e do profissionalismo que ele tinha. "Sempre foi muito companheiro. Eu tive uma demissão há três anos e ele me ligava e falava comigo diariamente, para saber como eu estava. Sem máquinas, éramos grandes amigos, mas não brincava quando entrava em serviço: era muito profissional e sempre aplicado. Ganhou todos os prêmios possíveis", lembra.

Ailton destacou o lado familiar do repórter fotográfico, que priorizava a esposa e os filhos. "Dida Sampaio vai fazer muita falta para a família dele. Quando voltava de viagens internacionais, ele compensava o tempo para aproveitar em família", disse o amigo.

 

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