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Último adeus a Orlando Brito

"Cronista do poder", é dessa forma que o ministro das relações exteriores, Carlos França, se refere ao amigo, velado ontem. Enterro ocorreu no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul. Centenas de pessoas se despediram do fotógrafo

Liana Sabo Pedro Ibarra
postado em 13/03/2022 00:01
 (crédito:  Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

"Estávamos no Nordeste, num hotel na orla da praia. Brito se tocou que às quatro da manhã já fazia sol. Foi para a sacada, viu Geisel com um calção de banho preto mergulhando na água e tirou várias fotos que, depois, ficaram muito famosas na época", lembra o jornalista José Fonseca, que dividiu com Orlando Brito a cobertura do Palácio do Planalto por 10 anos. Foi neste clima de saudade e de lembranças que familiares, amigos, colegas e figuras públicas se despediram do fotógrafo, que morreu na sexta-feira, aos 72 anos. Em diversos momentos, era possível ouvir gritos de "Viva Brito".

O velório de Orlando Brito, realizado na Capela 6 do Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul, ontem, estava cercado de carinho e boas histórias. Memórias de coberturas jornalísticas pelo país, de fotos marcantes e de encontros inesquecíveis estavam presentes nas conversas das mais de 200 pessoas que compareceram ao local pela manhã, como o empresário Paulo Octávio e o ministro das Relações Exteriores, Carlos França.

Antes da procissão para o sepultamento, amigos homenagearam Orlando. "Queria dizer para você, meu amigo, que isso aqui não estava combinado", disse o jornalista Edevaldo Dias. "Ele era um fotógrafo e uma pessoa sensível, ele tinha um humanismo. Poderia ficar uma tarde, aqui, contando histórias nossas juntos", acrescentou. "Costumo dizer que vivi mais com ele do que com meu irmão", brincou Dias.

O amigo fez menção ao aclamado trabalho de Orlando Brito. "Ele era um heroi que a gente tinha no dia a dia", comentou Edevaldo. "Tem um acervo fotográfico que é a história do Brasil", ressaltou o jornalista. "Ele vai continuar eternamente nos nossos corações", concluiu.

Foi pelo trabalho que o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, conheceu Brito. "O Orlando me ensinou muito, desde quando, no início da carreira, fui trabalhar no cerimonial da Presidência da República, em 1977", lembrou o chefe do Itamaraty. "Não estou aqui como ministro, venho como amigo", destacou.

"O Orlando retratou o poder com grande maestria. Ele nunca se deixou fascinar nem se deslumbrar. Pelo contrário, ele retratava o que o poder tem de efêmero e o símbolo que é o poder", analisa França. O ministro levou uma bandeira do Brasil e um livro de autoria do fotógrafo para prestar homenagem. "Ele tinha um respeito imenso pelo Estado brasileiro, pela nação e pela pátria. Isso era nítido, era a linha condutora de todo o trabalho que ele fez", explica o ministro. "Nós perdemos um grande cronista do poder com a ida prematura do nosso querido Orlando Brito", lamenta.

"O Orlando Brito era um amigo do meu pai, mas meu amigo também, que perda imensa", afirma Sandra Gonczarowska, filha do fotógrafo Jankiel Gonczarowska. "Brito falava que papai tinha ensinado tudo a ele. Chamava meu pai de 'meu mestre'", revela Sandra. De aprendiz a mestre, Orlando Brito se foi deixando um extenso acervo próprio e em diversos veículos jornalísticos.

Uma lenda

Nascido em 8 de fevereiro de 1950 em Janaúba (MG), Orlando Brito veio com a família para Brasília na época da inauguração da cidade. Na capital, ficou e trabalhou até o fim da vida. A relação com o jornalismo começou cedo, com 16 anos, quando começou no jornal Última Hora, primeiramente servindo café. Logo, pegou uma câmera e se apaixonou. Foi se desenvolvendo na profissão e se especializou na cobertura política, na qual será lembrado como um dos mais importantes nomes da área.

Em uma trajetória longa de trabalho, passou quase 15 anos no jornal O Globo, teve curtas passagens pela Caras e Jornal do Brasil. Ele participou de equipes que faziam cobertura do Palácio do Planalto durante o regime militar. Porém foi na Veja que teve a maior relevância, ao assinar 113 capas. Atuou como editor e como repórter fotográfico na publicação.

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  •  12/03/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Enterro do fotojornalista Orlando Brito.
    12/03/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Enterro do fotojornalista Orlando Brito. Foto: Ed Alves/CB
  •  12/03/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Enterro do fotojornalista Orlando Brito.
    12/03/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Enterro do fotojornalista Orlando Brito. Foto: Ed Alves/CB
  • Liana Sabo no enterro do fotógrafo Orlando Brito
    Liana Sabo no enterro do fotógrafo Orlando Brito Foto: Material cedido ao Correio

Amizade, profissionalismo e saudade

Liana Sabo comemora, este mês, 54 anos de jornalismo (creio que, desde sempre, no Correio Braziliense). Despediu-se do amigo, em meio à multidão de colegas, admiradores e familiares de Orlando Brito. Ela permaneceu ali, derradeira, para cumprir o ofício inesgotável. Liana não deixou o jornal na mão. Teclou no celular o capítulo final de um dia triste, chorado por todos. Liana, mulher brasileira, jornalista.

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