CB. Saúde

Clima é questão de saúde

De acordo com o especialista, a interação incauta com áreas silvestres expõe a humanidade a novas doenças. Além disso, ele afirma que, com a pandemia, houve um aumento dos casos de enfermidades consideradas controladas

Carlos Silva*
postado em 08/04/2022 00:01
 (crédito: ED ALVES/CB/D.A.Press)
(crédito: ED ALVES/CB/D.A.Press)

A propagação de doenças causadas pelo avanço da ocupação humana em áreas silvestres ganhou maior destaque e preocupação entre cientistas e médicos com a pandemia de covid-19. Ontem, no Dia Mundial da Saúde, o médico Dalcy Albuquerque, infectologista e representante regional da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical em Brasília, abordou o tema durante o programa CB.Saúde, uma parceria entre o Correio e a TV Brasília. A conversa foi conduzida pela jornalista Carmen Souza, que lembrou que o tema proposto para a reflexão da data é justamente a questão ambiental.

Na conversa, o infectologista destacou que a preocupação com as mudanças climáticas são questões de saúde. Além disso, ele falou dos avanços tecnológicos no desenvolvimento de medicamentos e vacinas motivados pela urgência da pandemia e da expectativa de novos tratamentos para doenças como dengue e malária. Confira:

O tema deste ano do Dia Mundial da Saúde é: Nosso planeta, nossa saúde. Parece que essa relação nunca esteve tão evidente quanto agora...

As próprias mudanças climáticas que estamos observando — provocadas em grande parte pela industrialização e pela urbanização aceleradas e descontroladas — vêm mexendo com a nossa saúde. Seja introduzindo doenças novas, como vemos o coronavírus, seja trazendo de volta doenças antigas. No caso do nosso país tropical, malária, leishmaniose e outras doenças, que estavam mais ou menos controladas, voltam a aparecer de alguma forma.

Há uma vinculação entre o aquecimento global e os vetores de doenças, como os mosquitos?

Está relacionado diretamente a agressões ao meio ambiente. Quando você desmata uma região, principalmente regiões tropicais, há, normalmente, o aumento de casos de doenças como malária e leishmaniose, porque você aproxima o ser humano do vetor que transposta protozoários, vírus, bactéria etc. Assim, há um aumento de casos e, infelizmente, o aumento de mortes, muitas vezes.

A malária urbana, cujo vetor é da Índia, começa a gerar casos recorrentes na África. Ela pode chegar à Europa e às Américas?

Sim, não podemos esquecer de que a malária ocorre na Europa independentemente de ter sido levada para lá. Inclusive, o nome malária foi dado na região sul da Europa, as pessoas não conheciam a causa e chamavam de maus áreas. Então, sim, pode acontecer. A circulação do vetor da doenças e da fauna daquela região ocorre naturalmente, não vamos extinguir. Agora, quando você insere o homem ou encosta uma comunidade nessas bordas de floresta, é claro que o mosquito passa a usar o homem como repasto e começa a ocorrer a transmissão de malária.

Como a pandemia tem afetado
o enfrentamento da malária aqui no Brasil?

A pandemia desorganizou o sistema de saúde de uma forma geral. Ela mobilizou o pessoal de assistência e prevenção para os trabalhos próprios da pandemia e também impediu o contato pessoal. A malária, principalmente, em regiões próximas das cidades, é baseada na visita de um agente, e tudo isso foi complicado devido ao período mais crítico da pandemia. Inclusive doenças não infecciosas tiveram sua evolução e seu acompanhamento dificultado.

Os avanços científicos
recentes podem ajudar
no combate às
doenças tropicais?

A produção de vacina, no tempo em que aconteceu, foi um avanço descomunal. Hoje, vemos o resultado da vacinação, com uma redução muito grande da letalidade. Todos nós que trabalhamos principalmente com doenças virais torcemos para que outras doenças que são endêmicas e que provocam epidemias peguem carona nessa produção tecnológica. Vou citar como exemplo a dengue, que é uma doença que existe há séculos e não temos uma boa vacina para tratá-la.

Quais as especificidades da vacina da dengue disponível?

Dengue é uma doença muito complicada, porque ela é causada por quatro vírus, dengue 1, 2, 3 e 4, que são doenças parecidas, mas por vírus diferentes. Então, você precisa de uma vacina que seja tetravalente e efetiva para os quatro vírus. A vacina que nós temos hoje tem uma resposta diferente para os outros vírus e poderia funcionar como uma primeira infecção. Não que ela provoque doença, ela pode aumentar o risco, mesmo que pequeno, para o quadro de uma dengue grave. Por isso, ela não é tão boa, principalmente para regiões endêmicas.

De que forma a população pode se proteger e evitar a disseminação da dengue?

Evitando os criadouros, que podem ser uma tampinha de refrigerante com água ou uma piscina olímpica.

*Estagiário sob a supervisão de Juliana Oliveira

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