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Forró, repente e cultura nordestina

O projeto leva a tradição artística do Nordeste, como o teatro de mamulengos e os boladores de coco para feiras em Ceilândia, Samambaia, Taguatinga e Santa Maria. Hoje, Amanhã e em 1º de maio, haverá apresentações

Júlia Eleutério
postado em 23/04/2022 00:01
Tradicional do Nordeste, o teatro de mamulengos do grupo Fuzuê fará apresentações no projeto
Tradicional do Nordeste, o teatro de mamulengos do grupo Fuzuê fará apresentações no projeto "Forró, repente, coco e brincantes é o Nordeste itinerante" - (crédito: Davi Mello)

A musicalidade e os costumes nordestinos são muito presentes no Distrito Federal, desde a época da construção de Brasília. Para não perder de vista tamanha manifestação cultural, o projeto Forró, repente, coco e brincantes é o Nordeste itinerante apresenta espetáculos em feiras de Ceilândia, Samambaia, Taguatinga e Santa Maria, destacando o estilo musical pé de serra, os repentistas, os emboladores de coco e um grupo de teatro de mamulengo. O evento conta com apresentações do Trio de Forró Chicão e de Os Brasas do Nordeste, o teatro de Fuzuê e as duplas de emboladores Azulão da Mata e Pardal da Saudade e de repentistas Chico de Assis e João Santana, desde domingo.

Neste fim de semana, os espetáculos serão na Feira Permanente da QNL, em Taguatinga Norte, hoje; e na Feira da Quadra 210, de Samambaia, amanhã. Na próxima semana, a programação continua na Feira Central de Santa Maria, em 1º de maio. O evento conta com o recurso do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC), da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec).

Idealizador do projeto, Francisco Antônio de Carvalho, 72 anos, busca proteger e valorizar as expressões das culturas populares tradicionais do Nordeste. Conhecido como Chicão do Forró, ele é natural de Nova Russas (CE) e, mesmo depois de 50 anos vivendo em Brasília, não perdeu as raízes nordestinas. Na infância, Chicão conheceu e se apaixonou pelo forró, iniciando a trajetória na música em meados da década de 1970. "Eu nasci no Ceará, já tocando forró. Com 10 anos, eu estava batendo pandeiro e tocando triângulo", lembra.

Morador de Samambaia, Chicão se orgulha das tradições da terra natal e as mantêm vivas por onde passa. "A cultura do Nordeste está muito presente, aqui, em Brasília com o forró pé de serra e a cultura do Luiz Gonzaga", destaca, citando o Rei do Baião. "Eu vim para o DF e fiquei um tempo parado, porque, aqui, quase não tinha (o forró). Só depois, as coisas foram engrenando. Está no sangue, não tem como abandonar", ressalta Chicão.

Em 13 de dezembro, as Matrizes Tradicionais do Forró foram reconhecidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Segundo o instituto, o estilo musical tem contribuído há mais de um século para a construção da identidade nordestina e nacional — o forró representa um povo, uma dança e uma festividade com diferentes gêneros como o baião, xote, xaxado, rojão, xamego, balanço, miudinho, forró-samba, quadrilha e arrasta pé.

Assim como o forrozeiros, o repentistas e os emboladores de coco são marcantes no Nordeste brasileiro. Filho de mãe piauiense e pai goiano, João Santana, 43, destaca que a cultura nordestina sempre foi muito forte dentro de casa e, ao escutar os discos de repente da mãe ainda criança, passou a se interessar. "Fui conhecendo os repentistas profissionais na Casa do Cantador e me deram espaço. Eu não tinha pretensão de virar repentista, mas me apaixonei", conta João.

Cantado em duplas, o repente é um improviso de versos em que os artistas dialogam um com o outro e com os ouvintes, seguindo regras de métrica e rima. João faz dupla com Chico de Assis, com quem se apresentou em vários cantos do Brasil. "Essa poesia popular é com o que eu me identifico bastante, além do improviso. Isso me deixou muito impressionado ao ver os grandes repentistas fazendo", ressalta Santana. Os assuntos costumam ser diversos. "É muito comum pedirem que a gente cante temas relacionados ao sertão, principalmente quem morou nesses locais. É importante que esses descendentes nordestinos continuem conectados com suas identidades culturais, projetos que levam as feiras e diversas localidades dessas culturas populares de raiz, porque conecta o povo com sua identidade e sua hereditariedade cultural", avalia João.

Com um festival gratuito e acessível, o projeto do Nordeste Itinerante procura contribuir com a sociedade em um processo de reconhecimento das manifestações culturais de grande parte daqueles que, um dia, viveram, aprenderam e se identificaram com as expressões artísticas da região, segundo os organizadores. "Nós estamos levando para a feira, porque a cultura do povo nordestino, principalmente em Brasília, que tem essa questão enraizada por ter sido erguida por construtores, na maioria, nordestinos. Eles fizeram dessas feiras o encontro de pessoas e de manifestações culturais", destaca o produtor executivo do evento Francisco de Assis Chagas, 48.

Mais conhecido como Neném em Ceilândia, Francisco nasceu em Brasília, mas é filho de cearense e paraibano, além de ser neto de repentista. Para ele, é importante que os descendentes de nordestinos conheçam os costumes e as heranças. "Tem muita coisa com a internet hoje, a gente tem que resistir, no sentido de levar para o pessoal mais novo essa cultura dos pais e dos avós. Esse projeto é mais do que levar o entretenimento, é garantir que o povo tenha acesso a cultura brasileira e fortalecer essa cultura. Para que nós tivéssemos mais voz, nós escolhemos o repente e o teatro mamulengo fuzuê, com artistas reconhecidos internacionalmente", analisa Neném.

O evento terá apresentação de mamulengos do grupo Fuzuê. O espetáculo é uma forma popular e tradicional do teatro de bonecos no Brasil. Em 2015, a expressão artística foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, sendo batizado de Teatro de Bonecos Popular do Nordeste.

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