Fiquei feliz em ler a notícia de que o Clube do Choro e a Escola de Choro Raphael Rabello retomaram, oficialmente, as atividades presenciais, com a realização do Eicho — Encontro Internacional do Choro, que se encerra hoje, com programação ampla e atraente. Esses dois anos de isolamento social impostos pela pandemia não foram fáceis para os músicos. Muitos deles tiveram de, em determinado momento, sair pelas superquadras para tocar e, literalmente, passar o chapéu para sobreviver.
Temi pela sobrevivência de duas instituições cruciais para Brasília: o Clube do Choro e a Faculdade Dulcina de Moraes. Aos trancos e barrancos, elas se seguraram, mas precisam de apoio para dar continuidade a suas atividades. Nunca é demais reiterar a alta relevância que têm o Clube do Choro e a Escola de Choro Raphael Rabello. Elas são tão interdependentes que é quase impossível mencionar uma sem se referir à outra.
É linda a história do choro em Brasília. Tive o privilégio de acompanhar alguns momentos memoráveis. Imagine você ter na cozinha de sua casa tocando Waldir Azevedo, Tio João do Trombone, Avena de Castro, Pernambuco do Pandeiro, Bide da Flauta? Era isso que acontecia no apartamento da flautista Odette Ernest Dias, na 109 Sul. Quando não havia mais lugar para ninguém no apartamento, a reunião teve de ser transferida. Ali, nascia o Clube do Choro.
Sem o clube talvez o choro se dispersasse e não alcançasse a expressão que atingiu. E Reco tem uma importância fundamental nesta história. Antes do Clube do Choro e da Escola Raphael Rabello, o choro era "música de velho"; depois, passou a ser música de todos. Hoje, existe uma legião urbana de crianças e adolescentes que fazem diabruras com um violão, um cavaquinho ou um pandeiro.
Os alunos assistem aos shows, os instrumentistas tocam na escola, a interação é grande. Hamilton de Holanda tomou choro na mamadeira no Clube do Choro, convivendo com Bide da Flauta, Pernambuco do Pandeiro e Tio João do Trombone. O violonista Rafael dos Anjos fez percurso semelhante.
Eles foram aprendizes, se tornaram professores, diretores da Escola de Choro Raphael Rabello e, em seguida, se transferiram para o Rio de Janeiro e levaram o nome de Brasília para o país e para o mundo. Hamilton de Holanda tem uma agenda internacional.
Na verdade, o Eicho é resultado de um trabalho de décadas que Reco faz em universidades de países em vários continentes para divulgar e sensibilizar os estrangeiros para a beleza e a alegria do choro. É por isso que a segunda edição do Eicho tem a participação de representantes do choro de Paris, de Roma, de Bologna, de Roterdã e de Viena.
Investir na cultura é uma estratégia política inteligente. Ela forma a imagem de uma cidade. Lembro que a emergência da Legião Urbana e da geração do rock da década de 1980 mudou a visão dos jovens sobre Brasília.
O Clube do Choro e a Escola de Choro Raphael Rabello nos representam com dignidade ante o país e o mundo. Como dizia o embaixador Wladimir Murtinho, então secretário de Cultura do DF: "Capital não pode ser passiva, não pode só receber, capital tem de irradiar". Chorinho parece canto de passarinho, voo elétrico de beija-flor ou drible insinuante de Garrincha.
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